tag:blogger.com,1999:blog-75322080384911457472024-03-05T02:17:17.623-03:00Agnon FabianoG. K. Chesterton, C. S. Lewis, visões sobre as incoerências do mundo moderno e das velhas heresias. Pensamentos pessoais e indicação de autores, textos e livros.juliana kramerhttp://www.blogger.com/profile/02612039463291550290noreply@blogger.comBlogger234125tag:blogger.com,1999:blog-7532208038491145747.post-13251584450950946212014-02-14T16:21:00.000-03:002014-02-14T16:32:22.093-03:00Os novos rumos<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg6ybRgg4P2H5fncZ9e6241pj2YKacGxHvV2A2JxM7LVAfrcEQBe-4byULyBqBAc8G3zc0yS9ZKQzbyQXobE0Ys-zwS0ekPkjbQFG0eo9mO0mvPJblopTRCX5Okkx4JQclY2QUapG8fwJQ/s1600/_69390802_69390797.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg6ybRgg4P2H5fncZ9e6241pj2YKacGxHvV2A2JxM7LVAfrcEQBe-4byULyBqBAc8G3zc0yS9ZKQzbyQXobE0Ys-zwS0ekPkjbQFG0eo9mO0mvPJblopTRCX5Okkx4JQclY2QUapG8fwJQ/s1600/_69390802_69390797.jpg" height="180" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #dddddd; font-family: arial; text-align: justify;">
<i><span style="color: blue; font-family: Trebuchet MS, sans-serif; font-size: x-small;">* Trechos escolhidos do artigo <span style="background-color: transparent; white-space: pre-wrap;">THE NEW GROOVE, parte do livro THE COMMON MAN.</span></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #dddddd; font-family: arial; text-align: justify;">
<span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif; white-space: pre-wrap;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #dddddd; font-family: arial; text-align: justify;">
<span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif; white-space: pre-wrap;">(Livre Tradução de Agnon Fabniano)</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #dddddd; color: #222222; font-family: arial; font-size: small; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; font-family: Trebuchet MS, sans-serif; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #dddddd; text-align: justify;">
<span style="color: #222222; font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">O inconveniente daquilo que chama a si mesmo de mentalidade moderna são simplesmente os "trilhos" e nosso hábito de ficarmos contentes com os trilhos, porque dizem que são os trilhos da mudança... O mais importante que tenho a dizer sobre os esses trilhos é isso: sua única forma de progresso é ir cada vez mais rápido ao longo de uma linha em certa direção. Não sentem a curiosidade de se deterem, nem conhecem o valor de voltar atrás... A locomotiva não progrediu para outra coisa que não fosse locomotivas cada vez mais velozes.</span><br />
<span style="color: #222222; font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span>
<span style="color: #222222; font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Apesar das mais violentas pretensões de independência, continua parecendo-me que a vida intelectual de hoje está simbolizada pelo trem, ou a estrada de ferro ou os trilhos. São enormes o barulho e a vivacidade com que se faz referência a certas modas ou rumos fixos do pensamento, assim como é enorme a velocidade que se consegue nos trilhos fixos de uma ferrovia. Porém, se começarmos a pensar realmente em sair do trilho, veremos que aquilo que é verdade a respeito do trem é igualmente verdade a respeito da verdade. Veremos que é mais difícil saltar do trem quando ele marcha velozmente do que quando ele está em lentidão. Veremos que a rapidez é rigidez; que se um movimento artístico, social ou político andar cada vez mais rápido, menos pessoas serão capazes de sair dele, ou mover-se contra ele. E no fim das contas talvez ninguém saltará para fora dele rumo à liberdade intelectual, assim como ninguém saltará de um trem que anda a 130 km/h.</span><br />
<span style="color: #222222; font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span>
<span style="color: #222222; font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Ao meu entender, esta é a principal característica do que chamamos pensamento progressista no mundo atual. Ele está limitado no mais exato sentido da palavra. Tem uma só dimensão. Vai em um só sentido. Está limitado por seu progresso. Está limitado por sua velocidade.</span><br />
<span style="color: #222222; font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span>
<span style="color: #222222; font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Os homens modernos não tem profundo conhecimento sobre os argumentos racionais a favor da tradição, porém conhecem, quase até a exaustão, os argumentos racionais a favor da mudança.</span><br />
<span style="color: #222222; font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span>
<span style="color: #222222; font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Não quero dizer que a verdade está somente na tradição; só estou dizendo que a publicidade está a favor da inovação.</span><br />
<span style="color: #222222; font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span>
<span style="color: #222222; font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Interpretaram-me muito mal se pensaram que estou pedindo passagens de volta à Atenas e ao Éden, simplesmente porque não quero ir no trem barato da Utopia. Quero ir aonde eu bem entender. Quero parar aonde eu bem entender. Quero conhecer o comprimento e a largura do mundo, ficar fora dos trilhos para andar pelas antigas planícies da liberdade.</span></div>juliana kramerhttp://www.blogger.com/profile/02612039463291550290noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7532208038491145747.post-80292104230200800382013-01-16T21:11:00.001-03:002013-01-17T09:32:26.408-03:00A Mitologia segundo Chesterton<br />
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #444444;">O texto abaixo trata-se de um resumo através de trechos do capitulo do livro O Homem Eterno, em que Chesterton fala sobre a mitologia. Seu ponto de vista é que a mitologia é poesia e não alegoria, refutando, assim, as argumentações que tendem a classificá-la com precursora da religião. É uma argumentação forte e poética e, principalmente, uma análise profundamente psicológica.</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhSPVayRKPyfjujRgT47v6lEKQCQIUJS8fYLLJwzxA_hXp0m7g2mbxbiazi0Xs7gXGTPeH3LzadpwlPElU4A90tgt3XlTX8S-gB5oSyKGg6y_4JpAW0z-_fMDGU5wvAE2CFZ-1lFIn-668/s1600/zeus.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhSPVayRKPyfjujRgT47v6lEKQCQIUJS8fYLLJwzxA_hXp0m7g2mbxbiazi0Xs7gXGTPeH3LzadpwlPElU4A90tgt3XlTX8S-gB5oSyKGg6y_4JpAW0z-_fMDGU5wvAE2CFZ-1lFIn-668/s200/zeus.jpg" width="195" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Todo esse assunto mitológico pertence à parte poética dos homens. </b>Parece estranhamente esquecido hoje em dia o fato de que um mito é fruto da imaginação e, portanto, uma obra de arte. <b>Requer-se um poeta para criá-lo. Requer-se um poeta para criticá-lo. Há no mundo mais poetas que não-poetas, como se comprova pela origem popular dessas lendas. Mas por alguma razão que nunca vi explicada, apenas a minoria não poética tem permissão de escrever estudos críticos desses poemas populares. Nós não submetemos um soneto a um matemático ou uma canção a um especialista em cálculos; mas acalentamos a ideia igualmente fantástica de que o folclore pode ser tratado como uma ciência.</b> Se essas coisas não forem apreciadas do ponto de vista artístico, elas simplesmente não serão apreciadas. Quando o catedrático ouve o polinésio lhe dizer que outrora não existia nada exceto uma grande serpente emplumada, se o erudito não se sentir emocionado e meio tentado a desejar que isso fosse verdade, ele absolutamente não é um juiz dessas coisas. Quando lhe asseguram, com base na melhor autoridade dos peles-vermelhas, que um herói primitivo carregou o sol e a lua e as estrelas dentro de uma caixa, se ele não bater palmas e espernear como faria uma criança diante de uma fantasia tão encantadora, ele não sabe nada sobre o assunto.</div>
<div style="text-align: justify;">
(...)</div>
<div style="text-align: justify;">
<b>A mitologia é uma arte perdida, uma das poucas artes que estão realmente perdidas; mas é uma arte.</b></div>
<div style="text-align: justify;">
(...)</div>
<div style="text-align: justify;">
Além disso, mesmo quando as fábulas são inferiores como arte, elas não podem ser julgadas apropriadamente pela ciência, e são ainda menos apropriadamente julgadas como ciência. Alguns mitos são muito rudes e estranhos como os primeiros desenhos de uma criança; mas a criança está tentando desenhar. Apesar disso é um erro tratar seus desenhos como se fossem ou como se pretendessem ser um diagrama. <b>O estudioso não pode formular uma afirmação científica sobre o selvagem, porque o selvagem não está fazendo uma afirmação científica sobre o mundo.</b> O que ele está dizendo é algo muito diferente: é aquilo que se poderia chamar de fofoca dos deuses. Podemos dizer, se preferirmos, que é algo em que se crê antes que haja tempo para examiná-lo. Estaria mais de acordo com a verdade dizer que é aceito antes que haja tempo para crer nele. Confesso que duvido de toda a teoria da disseminação de mitos ou (como geralmente acontece) de um único mito. É verdade que algo em nossa natureza e condição torna similares muitas histórias; mas cada uma delas pode ser original. Um indivíduo não toma emprestada uma história de outro indivíduo, embora ele possa contá-la pelo mesmo motivo do outro. Seria fácil aplicar toda argumentação sobre lendas à literatura e transformá-la numa vulgar obsessão de plágio. </div>
<div style="text-align: justify;">
(...)</div>
<div style="text-align: justify;">
Todavia, todo o problema é causado por quem tenta analisar essas histórias de um ponto vista externo, como se fossem objetos científicos. É preciso analisá-las apenas de um ponto de vista interno e perguntar-se como deveria começar uma história. Ela pode começar com qualquer coisa e tomar qualquer direção. Pode começar com um pássaro sem que esse pássaro seja um totem; pode começar com o sol sem que esse sol seja um mito solar. <b>Dizem que há apenas dez enredos no mundo; e neles sem dúvida haveria elementos comuns recorrentes. Faça dez mil crianças falarem ao mesmo tempo contando lorotas sobre o que elas viram num passeio pela floresta, e não será difícil encontrar paralelos sugerindo o culto do sol ou o culto de animais.</b> Algumas das histórias podem ser bonitas, algumas tolas e algumas talvez indecentes; mas elas só podem ser julgadas como histórias. Em um dialeto moderno, elas só podem ser julgadas do ponto de vista estético. É estranho que a estética, ou o mero sentimento, que agora tem a permissão para usurpar espaços a que ela não tem nenhum direito, para demolir a razão com o pragmatismo e a moral com a anarquia, não tenha permissão para emitir um julgamento puramente estético sobre aquilo que obviamente é apenas uma questão estética. <b>Podemos ser fantasiosos acerca de tudo, excetuadas as lendas?</b></div>
<div style="text-align: justify;">
(...)</div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Os mitos não são alegorias.</b> As forças naturais nesse caso não são abstrações. Não é como se houvesse um Deus da Gravitação. Pode existir um gênio das quedas d água, mas não do simples cair, muito menos da simples água. A personificação não está relacionada a algo impessoal. O ponto principal é que a personalidade aperfeiçoa a água com significado. Papai Noel não é uma alegoria da neve e do pinheiro; ele não é simplesmente a substância chamada neve que depois recebe artificialmente uma forma humana, como o boneco de neve. É algo que confere um novo significado ao mundo branco e às plantas sempre-verdes; de modo que a própria neve parece quente em vez de fria. <b>O teste, portanto, é puramente imaginativo. Mas imaginativo não significa imaginário. Não resulta que seja tudo aquilo que os modernos chamam de subjetivo, e com isso eles querem dizer falso. Todos os verdadeiros artistas, consciente ou inconscientemente, sentem que estão tocando verdades transcendentais; que suas imagens são sombras de coisas vistas através de um véu.</b> Em outras palavras, o místico natural de fato sabe que existe algo ali-, algo por trás das nuvens ou dentro das árvores; mas ele acredita que a maneira de encontrá-lo está na busca da beleza; que a imaginação é uma espécie de encantamento que pode evocá-lo.</div>
<div style="text-align: justify;">
(...)</div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Mas nós não sabemos o que essas coisas significam, simplesmente porque não sabemos o que nós mesmos significamos quando somos tocados por elas.</b> Suponha-se que alguém numa história diga: “Arranque esta flor, e uma princesa morrerá num castelo do outro lado do mar". Nós não sabemos por que alguma coisa se agita no subconsciente, ou por que aquilo que é impossível parece quase inevitável. Suponha-se que leiamos: “E na hora em que rei apagou a vela seus navios foram a pique na distante costa das Hébridas". Nós não sabemos por que a imaginação aceitou a imagem antes que a razão pudesse rejeitá-la; ou por que essas correspondências parecem de fato corresponder a alguma coisa na alma. Coisas muito profundas em nossa natureza, alguma vaga sensação de que grandes coisas dependem de coisas pequenas, alguma sombria sugestão de que as coisas mais próximas de nós se estendem muito além de nosso poder, algum sentimento sacramental da magia presente nas substâncias materiais, e muitas outras emoções que se desfizeram estão presentes numa ideia como essa da alma exterior.<b> O poder mesmo nos mitos dos selvagens é como o poder das metáforas dos poetas.</b> A alma de uma dessas metáforas com muita frequência é enfaticamente uma alma exterior.</div>
<div style="text-align: justify;">
(...)</div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Esses são os mitos, e quem não compreende os mitos não compreende os homens.</b></div>
<div style="text-align: justify;">
(...)</div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Mas quem melhor compreender os mitos perceberá mais plenamente que eles não são e nunca foram uma religião, no sentido em que o cristianismo e até mesmo o islamismo são religiões. Eles satisfazem algumas das necessidades de uma religião, principalmente a necessidade de fazer certas coisas em certas datas, a necessidade das ideias gêmeas de festividade e formalidade. Mas, embora deem ao homem um calendário, não lhe dão um credo. </b>Não houve alguém que se levantasse e dissesse: “Eu creio em Júpiter e em Juno e Netuno" etc., como quem se levanta e diz: “Eu creio em Deus, Pai todo-poderoso” e o restante do credo dos Apóstolos. Muitos acreditaram em alguns mitos e não em outros, ou mais em alguns e menos em outros, ou então em qualquer um deles, mas apenas num sentido poético muito vago. Não houve um momento em que todos os mitos foram coligidos numa ordem ortodoxa que os homens haveriam de defender lutando e enfrentando torturas.</div>
<div style="text-align: justify;">
(...)</div>
<div style="text-align: justify;">
<b>A mitologia buscava a verdade por meio da beleza</b>, no sentido de que a beleza inclui muito da mais grotesca feiura. Mas a imaginação tem suas próprias leis e, portanto, seus próprios triunfos, que nem teólogos nem cientistas conseguem entender. Ela permaneceu fiel àquele instinto imaginativo através de mil extravagâncias, através de todas as toscas pantomimas cósmicas de um porco comendo a lua ou de o mundo sendo extraído de uma vaca, através de todas as estonteantes convoluções e malformações místicas da arte asiática, através de toda a nua e crua rigidez dos retratos egípcios e assírios, através de todos os espelhos rachados da arte disparatada que parecia deformar o mundo e deslocar o céu, ela permaneceu fiel a alguma coisa sobre a qual não se pode discutir; alguma coisa que possibilita que algum artista de alguma escola pare de repente diante uma deformidade particular e diga: “Meu sonho se realizou”. <b>Por isso nós de fato sentimos que os mitos pagãos ou primitivos são infinitamente sugestivos, desde que sejamos sábios o bastante para não indagar o que eles sugerem. Por isso todos nós sentimos o que significa o roubo do fogo do céu por parte de Prometeu, até que algum pedante pessimista ou progressista venha a nos explicar o que ele significa. Por isso todos nós sabemos qual é o significado de João e o Pé de Feijão, até que nos venham dizê-lo. Nesse sentido é verdade que são os ignorantes que aceitam mitos, mas apenas porque são os ignorantes que apreciam poemas.</b></div>
<div style="text-align: justify;">
(...)</div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Numa palavra, a mitologia é busca; é algo que combina um desejo recorrente com uma dúvida recorrente, </b>misturando uma sinceridade ávida ao extremo na ideia de achar um lugar, com uma leviandade extremamente sombria e profunda e misteriosa em relação a todos os lugares encontrados. Até esse ponto a solitária imaginação pôde levar, e mais tarde devemos dirigir nossa atenção para a solitária razão. Nunca, em ponto algum ao longo dessa estrada, as duas viajaram juntas. É ali que todas essas coisas diferiram da religião ou da realidade em que essas diferentes dimensões se juntaram formando uma espécie de sólido. Diferiram dessa realidade não naquilo que elas pareciam, mas naquilo que eram. Um quadro pode parecer uma paisagem; pode parecer em cada detalhe exatamente uma paisagem. O único detalhe em que difere é que ele não é uma paisagem. A diferença é apenas aquela que separa um retrato da rainha Elizabelh da rainha Elizabeth. <b>Somente nesse mundo mítico e místico o retrato pôde existir antes da pessoa; e o retrato era por isso mais vago e duvidoso. Mas qualquer pessoa que tenha sentido a atmosfera desses mitos e dela tenha se alimentado saberá o que quero dizer quando afirmo que em certo sentido eles não professam realmente ser realidades.</b></div>
<div style="text-align: justify;">
(...)</div>
<div style="text-align: justify;">
Os sonhos de fato tendem a ser muito vívidos quando tocam essas coisas delicadas ou mágicas que realmente podem fazer um dormente acordar com a sensação de que seu coração se partiu durante o sono. Eles tendem sempre a girar em volta de certos temas emocionantes de encontros e despedidas, de uma vida que termina em morte ou de uma morte que é o começo da vida. Deméter perambula por um mundo aflito a procura de uma criança roubada; ísis em vão estende os braços sobre a terra para recolher os membros de Osíris; e há lamentações sobre as colinas por Átis e nos bosque por Adônis. Mistura-se a todas essas lamentações a profunda e mística sensação de que a morte pode ser uma libertação e um apaziguamento; de que uma morte assim nos dá um sangue divino para um rio renovador e de que todo o bem se encontra na reconstituição do dilacerado corpo divino. <b>Podemos na verdade chamar essas coisas de prefigurações, desde que não nos esqueçamos de que prefigurações são sombras. E a metáfora de uma sombra incidental atinge com muita exatidão a verdade que é vital aqui. Pois uma sombra é uma forma; algo que reproduz a forma, mas não a textura. Essas coisas eram algo como a coisa real; e dizer que “eram como” é dizer que eram diferentes. Dizer que algo é como um cachorro é outra maneira de dizer que não é um cachorro; e é nesse sentido de identidade que um mito não é um homem.</b> Ninguém realmente pensava em Ísis como um ser humano; ninguém realmente pensava em Deméter como uma personagem histórica; ninguém pensava em Adônis como o fundador de uma Igreja. Não havia nenhuma ideia de que algum deles houvesse mudado o mundo; mas antes havia a ideia de que sua recorrente morte e vida continham o triste e belo bordão da imutabilidade do mundo. Nenhum deles foi uma revolução, exceto no sentido da revolução do sol e da lua. <b>Todo o significado deles se perde se não virmos que eles significam as sombras que somos nós e as sombras que nós perseguimos. Em certos aspectos sacrificais e comunitários eles naturalmente sugerem que espécie de deus poderia satisfazer aos homens: mas não afirmam que estão satisfeitos. Quem afirmar que eles o fazem não sabe avaliar poesia.</b></div>
<div style="text-align: justify;">
(...)</div>
<div style="text-align: justify;">
É total falta de delicadeza para com os famintos provar que a fome é igual à comida. É falta de boa compreensão para com os jovens argumentar que a esperança destrói a necessidade de felicidade. E é absolutamente irreal argumentar que essas imagens na mente, admiradas por inteiro na sua forma abstrata, estavam no mesmo mundo dos homens vivos, de uma sociedade viva, e eram adoradas por serem concretas.</div>
<div style="text-align: justify;">
(...)</div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Nós sabemos das coisas melhor que os intelectuais, mesmo aqueles dentre nós que não são intelectuais, </b>sabemos o que havia naquele grito que foi emitido sobre o morto Adônis e sabemos por que a Grande Mãe fez uma filha casar-se com a morte. Nós entramos mais profundamente nos Mistérios Eleusinos e passamos a um grau mais alto, no qual um portão dentro de um portão guardava a visão de Orfeu. Nós conhecemos o sentido de todos os mitos. <b>Conhecemos o último segredo revelado ao perfeito iniciado. E não é a voz de um sacerdote ou um profeta dizendo: “Essas coisas existem”. É a voz de um sonhador e um idealista gritando: “Por que essas coisas não são possíveis? ”</b><br />
<b><br /></b>
<span style="font-size: x-small;"><i>Fonte: O Homem Eterno, G. K. Chesterton, Editora Mundo Cristão, Tradução: Almiro Pisetta.</i></span></div>
juliana kramerhttp://www.blogger.com/profile/02612039463291550290noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7532208038491145747.post-4453526747534589532012-03-29T18:18:00.001-03:002012-03-30T07:58:34.799-03:00Suportar e sorrir<div style="text-align: right;">
<span style="font-size: xx-small;"><b>Chesterton - Ortodoxia </b></span></div>
<br />
[Gostaria de enfatizar] “as seguintes proposições: primeiro, que algum tipo de fé é necessário em nossa vida até mesmo para melhorá-la; segundo, que algum tipo de insatisfação com as coisas é necessária até mesmo para sentir-se satisfeito; terceiro, que para se ter esse contentamento e descontentamento, ambos necessários, não basta ter o equilíbrio óbvio do estóico. Pois a mera resignação não tem a gigantesca leveza do prazer, nem a orgulhosa intolerância da dor. Há uma objeção vital ao conselho de simplesmente sorrir e suportar. A objeção é que se você simplesmente suportar, você não sorri”.juliana kramerhttp://www.blogger.com/profile/02612039463291550290noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7532208038491145747.post-24611884042312428872012-03-28T17:05:00.000-03:002012-03-28T17:08:00.351-03:00Sobre os críticos da Idade Média<div style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif; text-align: right;">
<span id="internal-source-marker_0.04978839924508882" style="background-color: transparent; color: black; font-size: 15px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><span style="font-size: xx-small;"><b>Chesterton - Chaucer versus Steverson </b></span></span></div>
<div style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span id="internal-source-marker_0.04978839924508882" style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 15px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">“</span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Times New Roman; font-size: 16px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">O
crítico que condena nossos infelizes pais fala, ao mesmo tempo, sobre
luta e escravidão; geralmente expande esta crítica a uma visão de guerra
universal; insiste que aqueles homens sangravam por estéreis votos de
superstição e lutavam uns com os outros por fantásticas questões de
etiqueta; zomba de seus esportes por terem sido rudes e perigosos, e de
sua religião, por ter sido militante e repleta de mártires; reclama
igualmente da frívola mortalidade das competições e da fanática
mortalidade das cruzadas; e então ele resume tudo, num movimento de
sublime consistência, dizendo que aqueles homens eram fracos e que temiam a
morte”. </span></div>juliana kramerhttp://www.blogger.com/profile/02612039463291550290noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7532208038491145747.post-7446187578612003042011-12-08T19:18:00.001-03:002011-12-08T19:26:49.754-03:00O Revolucionário Moderno<br />
<div style="text-align: right;">
<b><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">Chesterton, Ortodoxia.</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjeeS0sfEIN8c5jFOVTy7IB34BRXxCUCobR0FheqWoILP9VEGqSU3gg-bUD1at9Mw7Ojr1nNvQWPSJs01zNA5u38N0IYcidvRp_cTcgpuupUsBjonePtb9tQNoIETa4frsFMLrbgHhPWXY/s1600/Pseudo-Revolucionario.PNG" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjeeS0sfEIN8c5jFOVTy7IB34BRXxCUCobR0FheqWoILP9VEGqSU3gg-bUD1at9Mw7Ojr1nNvQWPSJs01zNA5u38N0IYcidvRp_cTcgpuupUsBjonePtb9tQNoIETa4frsFMLrbgHhPWXY/s200/Pseudo-Revolucionario.PNG" width="171" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>O liberalismo degradou-se em liberalidade. Os homens tentaram transformar o verbo "revolucionar" de transitivo em intransitivo. </b>Os jacobinos não apenas sabiam dizer contra que sistema se rebelariam, mas também (o que é mais importante) contra que sistema NÃO se rebelariam, o sistema em que confiariam.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Mas o novo rebelde é um cético, e não confia inteiramente em nada. Não tem nenhuma lealdade; portanto, ele nunca poderá ser de verdade um revolucionário. E o fato de que ele duvida de tudo realmente o atrapalha quando quer fazer alguma denúncia. Pois toda denúncia implica alguma espécie de doutrina moral; e o revolucionário moderno duvida não apenas da instituição que denuncia, mas também da doutrina pela qual faz a denúncia.</b> Assim, ele escreve um livro queixando-se de que a opressão imperialista insulta a pureza das mulheres; e depois escreve outro (sobre o problema do sexo) no qual ele mesmo a insulta. Ele amaldiçoa o sultão pela perda da virgindade de garotas cristãs; e depois amaldiçoa a sra. Grundy pela preservação dela. Como político, ele grita que toda guerra é um desperdício de vida, e depois, como filósofo, grita que toda vida é um desperdício de tempo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Um pessimista nisso denunciará um político por matar um camponês; e depois, pelos mais elevados princípios filosóficos, provará que o camponês deveria ter-se suicidado. Alguém denuncia o casamento como uma mentira; e depois denuncia os libertinos aristocráticos por tratarem essa mesma instituição como uma mentira. Alguém chama a bandeira de bugiganga; e depois acusa os opressores da Polônia ou da Irlanda de terem suprimido aquela bugiganga. O adepto dessa escola primeiro participa de uma reunião política, na qual se queixa de que os selvagens são tratados como se fossem animais; depois apanha o chapéu e o guarda-chuva e vai para uma reunião científica, na qual prova que eles são praticamente animais.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Em resumo, o revolucionário moderno, sendo um cético sem limites, está sempre ocupado em minar suas próprias minas.</b> No seu livro sobre política ele ataca os homens por espezinharem a moralidade; no seu livro sobre ética ele ataca a moralidade por espezinhar os homens. <b>Portanto, o homem moderno em estado de revolta tornou-se praticamente inútil para qualquer propósito da revolta. Rebelando-se contra tudo, ele perdeu o direito de rebelar-se contra qualquer coisa específica.</b></div>
<div>
<br /></div>juliana kramerhttp://www.blogger.com/profile/02612039463291550290noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-7532208038491145747.post-92058565828424539032011-10-09T12:58:00.005-03:002011-10-17T08:05:19.528-03:00Bem-vindo à corporação.<div style="text-align: right;"><b><span class="Apple-style-span">Chesterton</span></b></div><div style="text-align: right;"><b><span class="Apple-style-span">O Homem que foi quinta-feira</span></b></div><div><br /></div><div>- <i>É o novo recruta?</i> - perguntou o chefe invisível que parecia estar a par de tudo. - <i>Está bem. Está admitido.</i></div><div><br /></div><div>Syme, assombrado, trêmulo, procurou timidamente lutar contra esta sentença irrevogável.</div><div><br /></div><div>- <i>Mas eu, na verdade, não tenho experiência...</i></div><div><i><br /></i></div><div><i>- Ninguém tem experiência alguma da batalha do Armagedom</i> - disse o outro.</div><div><br /></div><div>- <i>Também não sei se sou capaz...</i></div><div><i><br /></i></div><div><i>- Mas você quer e isso basta</i> - retrucou o desconhecido.</div><div><br /></div><div>- <i>Mas, a verdade</i> - ponderou Syme -, <i>é que não sei de nenhum ofício em que a simples boa vontade seja prova de aptidão.</i></div><div><br /></div><div>- <i>Eu sei </i>- disse o outro. - <i>O dos mártires. Eu estou condenado à morte. Passe bem.</i></div><div><br /></div><div>Foi assim que ao reaparecer com sua deplorável cartola preta e seu anárquico e deplorável casaco na claridade carmesim do crepúsculo, Gabriel Syme vinha sido feito membro da nova corporação de detetives, fundada para dar combate à grande conspiração.<br /><br />Ver também <a style="font-weight: bold;" href="http://agnonfabiano.blogspot.com/2009/04/os-policiais-filosofos.html">"Os policiais filósofos"</a>.<br /></div>juliana kramerhttp://www.blogger.com/profile/02612039463291550290noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7532208038491145747.post-4220738138833819162011-09-28T18:08:00.002-03:002011-09-28T18:11:08.588-03:00A educação e a sensibilidade<div style="text-align: right;"><span class="Apple-style-span" ><b>C. S. Lewis</b></span></div><div style="text-align: right;"><span class="Apple-style-span" ><b>A Abolição do Homem</b></span></div><div><br /></div><div style="text-align: justify;">[Alguns] professores vêem o mundo ao redor dominado pela propaganda emotiva – aprenderam com a tradição que a juventude é sentimental – e concluem que a melhor coisa a fazer é fortalecer a mente dos jovens contra a emotividade. A minha própria experiência como professor me ensina justamente o contrário. Pois, para cada aluno que precisa ser resguardado de um leve excesso de sensibilidade, existem três que precisam ser despertados do sono da fria vulgaridade. <b>O dever do educador moderno não é o de derrubar florestas, mas o de irrigar desertos.</b> A defesa adequada contra os sentimentos falsos é inculcar os sentimentos corretos. Ao sufocar a sensibilidade dos nossos alunos, apenas conseguiremos transformá-los em presas mais fáceis para o ataque do propagandista. Pois a natureza agredida há de se vingar, e um coração duro não é uma proteção infalível contra um miolo mole.</div>juliana kramerhttp://www.blogger.com/profile/02612039463291550290noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7532208038491145747.post-33679852719028575262011-09-18T22:49:00.007-03:002011-09-22T08:13:35.613-03:00Chesterton vs Nietzsche<div style="text-align: justify;">No blog do Professor <a href="http://angueth.blogspot.com/"><b>Angueth</b></a>, um leitor sugeriu que ele confrontasse as ideias de Chesterton e Nietzsche, como se fora um debate. O Professor prontamente acolheu a sugestão e postou em <a href="http://angueth.blogspot.com/2011/09/chesterton-versus-nietzsche-leitor.html">seu blog</a> alguns trechos em que Chesterton combateu as ideias de Nietzsche.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Achei a ideia muito interessante e decidi contribuir. Como o Professor fez um apanhado, principalmente do livro "Hereges", decidi postar mais algumas palavras de Chesterton combatendo as ideias nietzscheanas.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Como disse o Professor Angueth, <i>"Nietzsche morreu em 1900 e Chesterton começou a escrever profissionalmente um pouco depois disso. Assim, ele não poderia ter debatido diretamente com o filósofo alemão. Contudo, ele percebeu bem a natureza maligna de sua filosofia e a debateu com todos os seus defensores, principalmente Shaw e Wells, mas não só"</i>. Abaixo segue mais um pouco do que seria esse debate, tomando trechos do<b> livro Ortodoxia</b>:</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">"<b>Nietzsche começou essa idéia absurda de que os homens buscaram como bem o que agora chamamos de mal. Se fosse assim, não poderíamos falar em ir além ou até mesmo em ficar aquém do bem e do mal. </b>Como você pode ultrapassar o Silva se você estiver caminhando na direção contrária? Você não pode discutir se um povo obteve mais êxito em sentir-se infeliz do que outro em sentir-se feliz. Seria como discutir se Milton era mais puritano do que um porco é gordo".</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div><div style="text-align: justify;">"O ponto supremo não é saber por que alguém busca determinada coisa, mas o fato de buscá-la. Não disponho aqui de espaço para traçar ou explicar essa filosofia da Vontade. Surgiu, suponho, por intermédio de <b>Nietzsche</b>, que pregou algo chamado de egoísmo. Isso, de fato, era bastante simplório; pois Nietzsche negava o egoísmo pregando-o. <b>Pregar alguma coisa é entregá-la. Primeiro, o egoísta chama a vida de guerra sem compaixão, depois despende o máximo esforço possível para treinar seus inimigos na guerra. Pregar o egoísmo é praticar o altruísmo</b>. Mas como quer que tenha começado, a visão é bastante comum na literatura atual".</div></div><div><div style="text-align: justify;"><br /></div></div><div><div style="text-align: justify;"><b>"Nietzsche tinha algum talento natural para o sarcasmo: ele sabia escarnecer, embora não soubesse rir; mas há sempre algo incorpóreo e sem peso na sua sátira, simplesmente porque ela não tem nenhum peso de moralidade comum em que se apoiar. </b>O próprio Nietzsche é mais absurdo que qualquer coisa por ele denunciada. Mas, de fato, ele se sustenta muito bem como exemplo típico de todo esse fracasso da violência abstrata. O amolecimento do cérebro que no fim o atingiu não foi um acidente físico.<b> Se Nietzsche não houvesse acabado na imbecilidade, o nietzscheanismo o teria feito. Pensar no isolamento e com orgulho acaba na idiotice. Todos os homens que não passam por um amolecimento do coração devem no mínimo passar pelo amolecimento do cérebro".</b></div><div style="text-align: justify;"><b><br /></b></div><div><div style="text-align: justify;"><b>"Essa, incidentalmente, é toda a fraqueza de Nietzsche, que alguns estão representando como pensador ousado e forte. Ninguém negará que ele foi um pensador poético e sugestivo; mas foi exatamente o oposto de forte. Não foi de modo algum ousado. Ele nunca colocou suas idéias diante de si com palavras simples e abstratas, como fizeram os vigorosos e destemidos pensadores Aristóteles e Calvino e até mesmo Karl Marx. Nietzsche sempre se evadia de uma questão usando uma metáfora física, como um jovial poeta menor. Ele dizia "além do bem e do mal" porque não tinha a coragem de dizer "melhor que o bem e o mal", ou "pior que o bem e o mal". </b>Se ele houvesse enfrentado o pensamento sem metáforas, teria visto que se tratava de um disparate. <b>Assim, quando ele descreve o seu herói, não ousa dizer "o homem mais puro", ou "o homem mais feliz", ou "o homem mais triste"; pois todas essas expressões são idéias, e as idéias são alarmantes. Ele diz "o homem superior" ou "o super-homem", uma metáfora física, baseada em acrobatas ou alpinistas. </b>Nietzsche é realmente um pensador muito tímido. Realmente não tem a mínima idéia do tipo de homem que ele quer que a evolução produza". </div></div></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span"><i>Trarei um pouco mais desse debate retirando trechos de outros livros ainda não traduzido para o português.</i></span></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Abraços.</div>juliana kramerhttp://www.blogger.com/profile/02612039463291550290noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-7532208038491145747.post-35078176536767487632011-09-09T22:11:00.000-03:002011-09-09T22:13:47.441-03:00O melhor de todos os mundos impossíveis<div style="text-align: right;"><span class="Apple-style-span" ><b>G. K. Chesterton</b></span></div><div style="text-align: right;"><span class="Apple-style-span" >The G.K. Chesterton calendar (Cecil Palmer)</span></div><br /><br /><div style="text-align: justify;">Este mundo não deve ser justificado como ele é justificado pelos otimista mecânicos; não deve ser justificado como o melhor de todos os mundos possíveis. Seu mérito não é que ele seja ordenado e explicável; seu mérito é que ele é selvagem e totalmente inexplicável. Seu mérito é precisamente que nenhum de nós poderia ter concebido tal coisa, que nós teríamos rejeitado essa ideia descabida como milagrosa e irracional. Este mundo é o melhor de todos os mundos impossíveis.</div>juliana kramerhttp://www.blogger.com/profile/02612039463291550290noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7532208038491145747.post-24206738888652964522011-09-07T14:14:00.003-03:002011-09-07T14:22:47.404-03:00Meu lar, meu castelo<div style="text-align: justify;">Há quase dois anos, postei uma interessante citação de <b>William Pitt</b>, onde enaltecia o valor de nosso lar, dizia ele:</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><i>"O lar de um homem é o seu castelo. O homem mais pobre desafia, em sua casa, todas as forças da coroa. A sua cabana pode ser muito frágil, o teto pode tremer, o vento pode soprar entre as portas mal ajustadas, a trombeta pode penetrar, mas o Rei da Inglaterra não pode nela entrar".</i></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Para a minha surpresa, achei um comentário de Chesterton sobre essa citação, que a complementa de forma extraordinária. Comenta Chesterton:</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><i>"O homem que disse que a casa de um Inglês é o seu castelo disse muito mais do que ele pensou. O Inglês pensa na sua casa como algo fortificado, e provisionado, e as grandes ameças que vêm sobre ele é o cerne de sua origem romântica. Neste sentido, ele seria mais forte nas noites de inverno mais selvagens, quando o portão trancado e a ponte elevadiça levantada obstrui não somente os de fora, mas também os dentro. A casa do Inglês é quase sagrada, não meramente quando o Rei não pode entrar, mas também quando o Inglês não pode dela sair".</i></div>juliana kramerhttp://www.blogger.com/profile/02612039463291550290noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7532208038491145747.post-6295560284582925402011-09-07T13:22:00.007-03:002011-09-07T14:22:14.237-03:00Mera espiritualidade<div style="text-align: right;"><span class="Apple-style-span"><b>G. K. Chesterton</b></span></div><div style="text-align: right;"><span class="Apple-style-span">The G.K. Chesterton calendar (Cecil Palmer)</span></div><div style="text-align: right;"><span class="Apple-style-span"><br /></span></div><div style="text-align: right;"><span class="Apple-style-span"><br /></span></div><div style="text-align: justify;">Quando a evolução científica foi anunciada, alguns temiam que ela iria incentivar a mera animalidade. Mas ela fez pior: incentivou a mera espiritualidade. Ela ensinou aos homens a pensar que, enquanto eles estavam evoluindo do macaco estavam indo para anjos. Mas você pode evoluir do macaco indo a demônio.</div>juliana kramerhttp://www.blogger.com/profile/02612039463291550290noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7532208038491145747.post-79238916807968418682011-08-20T21:42:00.002-03:002011-08-20T21:45:27.781-03:00Fé e Razão<div style="text-align: right;"><span class="Apple-style-span"><b>Chesterton</b></span></div><div style="text-align: right;">
<br /></div><div style="text-align: justify;">Quando um crítico diz, por exemplo, que a fé manteve o mundo em trevas até que a dúvida levou ao esclarecimento, é ele próprio que fala coisas pela fé; coisas de que ele nunca foi suficientemente esclarecido para poder duvidar. Essa simplificação extremamente rude da história humana é que tem sido ensinada. Eu não o culpo por isso. Apenas quero observar que ele é um exemplo inconsciente das próprias coisas que insulta.</div><div style="text-align: justify;">
<br /></div><div style="text-align: right;">Illustrated London News 13/02/1926</div>juliana kramerhttp://www.blogger.com/profile/02612039463291550290noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7532208038491145747.post-29482232170108852892011-02-25T18:09:00.005-03:002011-03-10T16:04:38.179-03:00A história da pré-história<div style="text-align: right;"><b><span class="Apple-style-span">Chesterton</span></b></div><div style="text-align: right;"><b><span class="Apple-style-span">O Homem Eterno</span></b></div><div><br /></div><div style="text-align: justify;">Talvez não se conceda bastante atenção a um caso singular que a ciência dos estudos pré-históricos oferece. Toda a ciência se funda, com efeito, no conjunto admirável de suas conquistas, por um método de acumulação. Todas as invenções mecânicas e a maior parte dos descobrimentos da física deriva da observação completada pela experiência. Ora, bem; <span style="font-weight: bold;">não se fabricam homens primitivos. Esta é a grande dificuldade para o conhecimento das nossas origens</span>. Assim, é que chegamos a aperfeiçoar, peça por peça, o aeroplano de nossa invenção, assistindo no jardim, às evoluções de um modelo reduzido feito de bambus e de latas de sardinha; porém, jamais, nesse mesmo jardim, assistiremos a evolução do "elo-perdido". Se cometermos um erro de cálculo, o aeroplano fará, por si mesmo, a prova em sua queda. Porém, se incidirmos num erro de suposição a respeito dos costumes de um dos nossos ancestrais, na selva, por exemplo, não será, de certo, ele quem o demonstrará, deixando-se cair da árvore em que estiver trepado.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">É impossível criar o homem de Weanderthal em uma gaiola, como um galo, com o objetivo de descobrir se ele pratica a antropofagia e o rapto nupcial. É absurda a idéia de manter uma manada de homens de Cromagnon, afim de estudar as manifestações do instinto gregário. Se um pássaro se comporta de um modo insólito, é bem possível que adivinhemos os costumes de outros pássaros; mas, <span style="font-weight: bold;">de um crânio ou de um fragmento de crânio a imaginação mais científica não pode deduzir todo um vale de Josafat</span>.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-weight: bold;">Fala-se muito da paciência científica. Da impaciência é que se deveria falar. </span>O mais empírico dos antropologistas está nas mesmíssimas condições que o mais prudente dos arqueólogos: é-lhe preciso ater-se a um farrapo do passado, sem esperança de, jamais, vê-lo aumentar entre suas mãos. Manuseia a porção dos seus descobrimentos com a mesma energia feroz com que o homem das cavernas manuseava o seu pedaço de silex, e por idênticas razões: é o seu único patrimônio, o seu único utensílio e sua única arma; arma que manejará com uma espécie de fanatismo desesperado, ao qual não nos acostumaram, ainda, os sábios do laboratório. <span style="font-weight: bold;">Estou seguro de que mais de um professor superaria a mais de um cão na arte de arreganhar os dentes em defesa do seu osso.</span></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Contemplemos a sua obra. Ante a dificuldade de criar um macaco e de vê-lo transformar-se em ser humano, nosso homem não se contentará em dizer o que nós diríamos de bom grado: que uma evolução desse gênero se mostra bastante verossímil. Não, em vez disso, ele exibe a sua pequena lasca ou sua minúscula coleção de ossos e deduz, para maravilhar as multidões, toda uma série de revelações surpreendentes. Assim, por exemplo, em Java encontrou-se os restos de um crânio que era mais estreito do que o nosso, pelo que se pode deduzir; um pouco mais distante se encontrou um fêmur e, dispersos pelas cercanias, alguns dentes que não eram humanos. Se o todo proviesse de um mesmo indivíduo, o que está ainda por se averiguar, a idéia que poderíamos fazer de tal indivíduo não seria, talvez, menos incerta. Entretanto, tudo bastou à ciência popular para fabricar um personagem completo, terminado dos pés à cabeça, sem carência dos mínimos detalhes e que recebeu, sem demora, um nome próprio, como toda personagem histórica que se respeite.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O público falou, assim, de Petecântropo, como se fala de Richelieu, de Fox ou de Napoleão. As enciclopédias ilustradas publicaram sua efígie e nós temos dele um excelente desenho, de tão minucioso realismo, que não se pode duvidar de que lhe foram contados, um por um, até os fios de cabelo. <span style="font-weight: bold;">Quem suspeitaria ao ver aquelas expressões fisionômicas, tão poderosamente acentuadas, e aquele olhar abatido, que são o retrato de um fêmur ou de um pedaço de abóboda craniana e de um punhado de dentes? Seu caráter e seus costumes são, igualmente, de notoriedade pública.</span></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify; font-weight: bold;">[Ora], ignoro tudo o que se refere ao homem pré-histórico, pela simples razão de que é pré-histórico. Por isso que não é logicamente possível existir uma história da pré-história, expressão tão falha de razão, que só os racionalistas podiam inventá-la. <span style="font-weight: normal;">Um pregador que qualificasse o dilúvio como antidiluviano surpreenderia, talvez, alguns sorrisos furtivos no rosto de seus ouvintes. Um bispo faria bem não classificando Adão entre os pré-adâmicos. Mas que um historiador nos fale das épocas pré-históricas da História, não nos surpreende na medida que deveria.</span></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O que se quer dizer, sem dúvida, o que se pode dizer é que a humanidade é mais velha do que a História e que a civilização é anterior às crônicas escritas. O homem, de fato, cultivou várias artes antes da escritura, do que não se deve deduzir que, até então, ele fosse um consumado bruto.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify; font-weight: bold;">Fazem-se, em um tom tão categórico e soberbo, afirmações gratuitas , que é preciso, para examiná-las, uma virtude crítica que ultrapasse o comum.</div>juliana kramerhttp://www.blogger.com/profile/02612039463291550290noreply@blogger.com9tag:blogger.com,1999:blog-7532208038491145747.post-72358944631876428022011-02-21T19:27:00.011-03:002011-02-23T16:51:53.324-03:00Diálogo: O mais forte adversário *- <i>Elimine a causa, e o efeito cessa!</i><br /><br />- Mas como marchar contra um adversário que você ama? Como atirar uma lança contra o coração do outro, quando o golpe devasta também o seu próprio coração?!<br /><br /><span class="Apple-style-span" style="font-size:78%;">* Passou-me pela cabeça. O primeiro parágrafo é de Cervantes. O segundo não sei de onde vem.</span>juliana kramerhttp://www.blogger.com/profile/02612039463291550290noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7532208038491145747.post-55129721346357749782011-02-03T21:34:00.006-03:002011-02-03T21:46:43.050-03:00O tiro que sai pela culatra<div style="text-align: right;"><b><span class="Apple-style-span">Chesterton</span></b></div><div style="text-align: right;"><b><span class="Apple-style-span">Ortodoxia</span></b></div><div><span class="Apple-style-span" ><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" ><i>Nesse trecho do livro Ortodoxia, Chesterton mostra com clareza que, com a intenção de negar as bases do cristianismo, os céticos acabaram negando as bases de toda coerência e da vida social.</i></span></div><div><span class="Apple-style-span"><br /></span></div><div><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b><span class="Apple-style-span">Há homens que destroem a si mesmos e destroem a própria civilização se também puderem destruir essa fantástica história [a história do cristianismo]. <o:p></o:p></span></b></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span">Esse é o fato supremo e mais aterrador envolvendo a fé: que <b>seus inimigos usarão qualquer arma contra ela, as espadas que cortam os próprios dedos e as lenhas que queimam as próprias casas.</b> <b>Homens que começam a combater a Igreja em benefício da liberdade e da humanidade terminam jogando fora a liberdade e a humanidade só para poderem com isso combater a Igreja</b>. Não é exagero. Eu poderia encher um livro com exemplos disso. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span">O sr. Blatchford iniciou, como um demolidor bíblico comum, querendo provar que Adão não teve culpa em seu pecado contra Deus; manobrando para defender essa ideia, ele admitiu, como mera questão secundária, que todos os tiranos, de Nero ao rei Leopoldo, não tiveram culpa em nenhum de seus pecados contra a humanidade. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span">Conheço um homem que tem tal paixão por provar que ele não terá uma existência pessoal depois da morte que recorre à tese de que ele não tem uma existência pessoal agora. Invoca o budismo e diz que todas as almas desaparecem uma na outra. Para provar que não pode ir para o céu ele prova que não pode ir para a cidade de Hartle-pool. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span">Conheci pessoas que protestavam contra a educação religiosa com argumentos contra qualquer tipo de educação, dizendo que a mente da criança deve crescer livre ou que os mais velhos não devem ensinar aos jovens. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span">Conheci pessoas que demonstraram que não poderia existir nenhum julgamento divino mostrando que não pode haver nenhum julgamento humano, nem mesmo em prol de objetivos práticos. <b>Elas queimaram o próprio trigo para atear fogo à Igreja; destruíram as próprias ferramentas para destruí-la; qualquer pedaço de pau era bom para bater nela, mesmo que fosse o último pedaço de sua mobília desmantelada</b>. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span"><b><span>Não admiramos, mal desculpamos o fanático que destroça este mundo pelo amor do outro. Mas que devemos dizer do fanático que destroça este mundo por causa do ódio pelo outro? Ele sacrifica a própria existência da humanidade à não-existência de Deus. Oferece suas vítimas não para o altar, mas simplesmente para afirmar a inutilidade do altar e o vazio do trono. Ele está disposto a destruir até mesmo aquela ética primária pela qual todas as coisas vivem, em prol de sua estranha e eterna vingança contra alguém que jamais sequer viveu. E, no entanto, a coisa pende dos céus, incólume.</span></b><span> <b>Seus opositores só conseguem destruir tudo aquilo a que eles mesmos com justiça dão valor</b>. Não destroem a ortodoxia; destroem apenas o sentido comum e político de coragem. Não provam que Adão não foi responsável perante Deus; como poderiam fazê-lo? Provam apenas (a partir de suas premissas) que o czar não é responsável perante a Rússia. Não provam que Adão não deveria ter sido punido por Deus; provam apenas que o patrão explorador mais próximo não deveria ser punido pelos homens. Com suas dúvidas orientais sobre a personalidade, não nos dão certeza de que não teremos uma vida pessoal depois da morte; apenas nos dão certeza de que não teremos uma vida muito divertida ou completa aqui. </span></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b><span class="Apple-style-span">Não é apenas verdade que a fé é a mãe de todas as energias deste mundo, mas é também verdade que os inimigos dela são os pais de toda a confusão do mundo. Os secularistas não destruíram coisas divinas; destruíram coisas seculares, se isso servir de algum conforto para eles. Os Titãs não escalaram o céu; mas devastaram o mundo.</span></b><b style="mso-bidi-font-weight:normal"> <o:p></o:p></b></p></div>juliana kramerhttp://www.blogger.com/profile/02612039463291550290noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7532208038491145747.post-83227153695685974242011-02-03T06:25:00.004-03:002011-02-03T16:35:20.573-03:00Fui criado para um outro mundo<div style="text-align: justify;"><div style="text-align: right;"><span style="font-weight: bold;font-size:78%;" >C. S Lewis</span><br /><span style="font-size:78%;"><span style="font-weight: bold;">O Peso de Glória</span></span><br /></div><br /><blockquote><span style="font-style: italic; color: rgb(0, 0, 153);font-size:130%;" >"Se descubro em mim um desejo que nenhuma experiência deste mundo pode satisfazer, a explicação mais provável é que fui criado para um outro mundo." (CSL)</span><br /></blockquote><br />Quase toda a educação procura silenciar essa voz tímida e persistente dentro de nós: quase todas as filosofias dos nossos tempos foram elaboradas para convencer-nos de que o bem do homem encontra-se nesta terra. Contudo, é curioso como certas filosofias de progresso ou evolução criativa acabem por atestar, relutantemente, que o nosso verdadeiro alvo esteja em outro lugar.<br /><br />Note a maneira como pretendem convencê-lo de que a terra é seu lar. Começam tentando persuadi-lo de que a terra pode transformar-se em céu, driblando assim a nossa sensação de exílio. Depois dizem que esse feliz acontecimento situa-se num futuro ainda muito distante, driblando assim o nosso conhecimento de que nossa pátria não está presente, aqui e agora. Finalmente, para que o nosso anseio por alguma coisa transtemporal não nos acorde, estragando tudo, valem-se da retórica à disposição, para conservar bem distante da nossa mente o pensamento de que, ainda que a felicidade que nos prometem pudesse ser uma realidade na terra, cada geração, inclusive a última de todas, a perderia na morte, e toda sua história seria nada, deixaria até de ser história, para todo o sempre. Assim, justifica-se todo o absurdo que Shaw põe no discurso final de Lilith, bem como a teoria de Bergman, afirmando que o élan vital é capaz de superar todos os obstáculos, talvez até a morte — como se pudéssemos crer que qualquer desenvolvimento social ou biológico em nosso planeta pudesse protelar a senilidade do sol ou anular a segunda lei da termodinâmica.</div>juliana kramerhttp://www.blogger.com/profile/02612039463291550290noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-7532208038491145747.post-27763865201254973472011-02-02T06:41:00.001-03:002011-02-02T16:44:40.148-03:00A antiguidade da civilização<div style="text-align: right; font-weight: bold;"><span style="font-size:78%;">Chesterton<br /></span></div><br /><div style="border-width: 0px; margin: 0px 0px 0.0001pt; padding: 0px; font-style: inherit; font-weight: inherit; line-height: 18px; text-align: justify;"><span style="border-width: 0px; margin: 0px; padding: 0px; font-family: 'Trebuchet MS',sans-serif; font-style: inherit; font-weight: inherit; line-height: 19px;">Em um lugar escondido da costa jônica que dá frente a Creta e ao Arquipélago, elevava-se uma cidade, que chamaríamos, hoje, povoação fortificada. Chamava-se Ilion; depois, chamou-se Tróia, e seu nome vibra para sempre na memória dos homens. Um poeta que foi, talvez, mendigo e cantor ambulante, sem dúvida iletrado, e que a lenda apresenta como cego, compõe um poema, cujo assunto era a guerra que os gregos fizeram a esta cidade para reconquistar a mais bela mulher do mundo.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="border-width: 0px; margin: 0px; padding: 0px; font-family: 'Trebuchet MS',sans-serif; font-style: inherit; font-weight: inherit; line-height: 19px;"></span><br /><span style="border-width: 0px; margin: 0px; padding: 0px; font-family: 'Trebuchet MS',sans-serif; font-style: inherit; font-weight: inherit; line-height: 19px;"> </span><br /><span style="border-width: 0px; margin: 0px; padding: 0px; font-family: 'Trebuchet MS',sans-serif; font-style: inherit; font-weight: inherit; line-height: 19px;">Que a mais bela mulher do mundo tenha habitado essa aldeia pode parecer lendário. Que o mais formoso poema do mundo fosse inventado por um homem, que não vira mais que essa aldeia, é um fato histórico. Assegura-se, em verdade, que a obra pertence ao período em que a cultura estava em seu ocaso. Se assim é, eu pergunto: que produziria, então, em seu apogeu?</span><br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;font-size:85%;" >Ler o texto completo em <a href="http://chestertonbrasil.blogspot.com/search/label/A%20antig%C3%BCidade%20da%20civiliza%C3%A7%C3%A3o">Chestertonbrasil.org</a></span><br /></div>juliana kramerhttp://www.blogger.com/profile/02612039463291550290noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7532208038491145747.post-90962490282607422322011-01-13T10:42:00.002-03:002011-01-13T10:44:54.546-03:00Igualdade<div style="text-align: right;"><span style="font-size:78%;"><span style="font-weight: bold;">C. S. lewis</span></span><br /></div><div style="text-align: right;"><span style="font-size:78%;"><span style="font-weight: bold;">(O Peso da Glória</span><span style="font-weight: bold;">)</span></span><br /></div><br /><div style="text-align: justify;">Igualdade é um termo quantitativo e, por conseguinte, muitas vezes não tem relação alguma com o amor. A autoridade exercida com humildade e a obediência aceita com alegria são as diretrizes pelas quais vive o nosso espírito.<br /></div>juliana kramerhttp://www.blogger.com/profile/02612039463291550290noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7532208038491145747.post-45333599716934098162011-01-13T06:27:00.002-03:002011-02-03T16:44:31.708-03:00"Se eu vejo, creio!"<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: trebuchet ms;font-size:130%;" ><span style="color: rgb(0, 0, 153);">Esse é um trecho de uma carta do diabo </span><span style="color: rgb(0, 0, 153);">Fitatuso</span><span style="color: rgb(0, 0, 153);"> (personagem de </span><span style="color: rgb(0, 0, 153);">C. S. Lewis</span><span style="color: rgb(0, 0, 153);"> do livro "</span><span style="font-style: italic; color: rgb(0, 0, 153);">Cartas do Diabo ao seu aprendiz"</span><span style="color: rgb(0, 0, 153);">) respondendo à correspondência de seu aprendiz e sobrinho e ensinando-o como ele deve agir no seu labor diário de enganar o homem. O </span><span style="font-style: italic; color: rgb(0, 0, 153);">"Inimigo"</span><span style="color: rgb(0, 0, 153);">, a quem ele se refere é Deus e </span><span style="font-style: italic; color: rgb(0, 0, 153);">"nosso Pai lá de Baixo"</span><span style="color: rgb(0, 0, 153);"> é Satanás.</span></span><br /></div><div style="text-align: justify;"><br />Parta do princípio que sua vítima já se acostumou desde criança a ter uma dúzia de filosofias diferentes dançando em sua cabeça. Ele não usa o critério de "VERDADEIRO" ou "FALSO" para conferir cada doutrina que lhe apareça (seja do Inimigo ou nossa). Ao invés disso, ele verifica se a doutrina é "Acadêmica" ou "Prática", "Antiquada" ou "Atual", " Aceitável" ou "Cruel". O jargão e a expressão feita (e não o argumento lógico) são seus melhores aliados para mantê-lo longe do Inimigo. Não perca tempo tentando levá-lo a concluir que o Materialismo seja verdadeiro (sabemos que não é). Faça-o pensar que ele é Forte, Violento ou Corajoso - ou ainda, que é a Filosofia do Futuro! Este é o tipo de coisas que lhe despertarão a atenção.<br /><br />Percebo que você tem intenções produtivas, mas há um problema muito grande quando tentamos persuadir o paciente a passar para nosso lado pelo emprego de argumentos e lógica: isto conduz toda a luta para o campo do Inimigo, que para azar nosso também sabe argumentar (e melhor do que nós). Por outro lado, no que diz respeito à propaganda prática (ainda que falsa) que lhe sugeri, Ele tem se mostrado por séculos bem inferior ao Nosso Pai lá de Baixo. Pela pura argumentação, você despertará o raciocínio do paciente; uma vez que a razão dele desperte, quem poderia prever o resultado? Veja que perigo! Mesmo que uma cadeia de raciocínio lógico possa ser torcida de modo a nos favorecer, isso tende a acostumar o paciente ao hábito fatal de questionar as coisas, analisando as mesmas com visão geral, e desviando-se das experiências ditas "concretas", que na verdade são apenas experiências sensíveis e imediatas.<br /><br />Sua maior ocupação deve ser portanto a de prender a atenção da vítima de modo a jamais se libertar da corrente do "Se eu vejo, creio!". Ensine-o chamar esta corrente "Vida Real", e jamais deixe-o perguntar a si próprio o que significa "Real".<br /></div>juliana kramerhttp://www.blogger.com/profile/02612039463291550290noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7532208038491145747.post-10790875191549656482010-12-30T09:22:00.004-03:002010-12-30T09:55:07.564-03:00Chesterton é inconfundível<div style="text-align: justify;"><div style="text-align: right; font-weight: bold;"><span style="font-size:78%;">Agnon Fabiano<br /></span></div><br />Estava lendo um trecho de um dos livros de Chesterton que o próprio título já é um paradoxo, chama-se <span style="font-style: italic;">"Enormes Minúncias"</span> (livro em espanhol). E logo no primeiro parágrafo, um paradoxo após outro:<br /><br /><span style="font-style: italic;">"Não direi que esta história é verdadeira - porque, como se irá comprovar, toda ela é verdade e nada tem de história. Não tem nem explicação, nem conclusão; é, à semelhança das maioria das coisas que encontramos ao longo da vida, um fragmento daquilo que seria intensamente excitante, se não fosse demasiado grande para ser visto. É que a perplexidade da vida resulta de nela existirem demasiadas coisas interessantes para que nos possamos interessar apropriadamente por qualquer uma delas."</span><br /><br />Além de todo aprendizado, além de todo bom-senso (como disse C. S. Lewis, Chesterton é o mais sensato de todos!), além de toda beleza literária e das idéias, divirto-me ao ler Chesterton. O <span style="font-style: italic;">Príncipe dos Paradoxos</span> literalmente me ensina e me diverte com suas "tiradas" geniais, com seus pensamentos e com seus insights. Os trocadilhos paradoxais são estonteantes. Seu estilo é inconfundível.<br /><br /><br /></div>juliana kramerhttp://www.blogger.com/profile/02612039463291550290noreply@blogger.com8tag:blogger.com,1999:blog-7532208038491145747.post-1789565572314669172010-12-30T08:23:00.003-03:002010-12-30T08:42:08.226-03:00Insights chestertonianos<div style="text-align: right;"><span style="font-weight: bold;font-size:78%;" >Chesterton</span><br /></div><br />A Ilíada só é grande porque nela toda a vida é uma batalha; a Odisséia só é grande porque nela toda a vida é uma jornada.<br /><br />[Os modernos] pensam que o objetivo de abrir as mentes é simplesmente abri-las, enquanto eu estou absolutamente convencido de que o objetivo de abrir a mente, como o de abrir a boca, é fechá-la de novo com algo sólido. <span style="font-size:85%;"><span style="font-style: italic;">(The Flyinng Inn, 1914)</span></span>juliana kramerhttp://www.blogger.com/profile/02612039463291550290noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7532208038491145747.post-29638405708497064932010-12-15T11:37:00.006-03:002010-12-15T12:17:14.996-03:00Novo site Chesterton Brasil<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://4.bp.blogspot.com/_-ICnsM50w08/TQjbEhjD32I/AAAAAAAAAjw/TCiJYS0ocYk/s1600/Chesterton%2BBrasil.jpg"><img style="margin: 0pt 10px 10px 0pt; float: left; cursor: pointer; width: 304px; height: 91px;" src="http://4.bp.blogspot.com/_-ICnsM50w08/TQjbEhjD32I/AAAAAAAAAjw/TCiJYS0ocYk/s320/Chesterton%2BBrasil.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5550927411505520482" border="0" /></a><br /><br /><div style="text-align: justify;">É com muita satisfação que noticio um novo projeto: trata-se do site <a href="http://www.chestertonbrasil.org">www.chestertonbrasil.org</a>, já disponível à todos aqueles que têm o desejo de conhecer cada vez mais esse grande homem. É indiscutível o valor de Chesterton para o Brasil, um país dominado por muitos problemas de cunho filosófico. A leitura de Chesterton é um remédio pra alma, revigora o intelecto e apraz a inquetação por saber que todos nós temos. Façam bom proveito!<br /><br /><br /></div><div style="text-align: justify;"><div style="text-align: justify;">"Criamos este site com o objetivo de reunir e difundir o pensamento de Gilbert Keith Chesterton (1874-1936) no Brasil. Chesterton é um dos maiores pensadores católicos do século XX e, infelizmente, por diversos motivos, desconhecido em nossa Terra de Santa Cruz. Diante disso, e da inexistência de uma sociedade Chestertoniana no Brasil, resolvemos lançar a idéia de no futuro próximo termos uma Sociedade Chestertoniana Brasileira, como as Inglesas, Americanas, Argentina e Italiana.<br /></div><br />Enquanto isso, desejamos lhe oferecer o que há de melhor sobre Chesterton prioritariamente em língua portuguesa. Reunimos neste site artigos, traduções, vídeos, áudios, frases e trechos de suas obras, imagens etc. com o intuito de possibilitar um contato com a vida e pensamento desse gênio".<br /></div><br />Fonte: <a href="http://www.chestertonbrasil.org">www.chestertonbrasil.org</a>juliana kramerhttp://www.blogger.com/profile/02612039463291550290noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7532208038491145747.post-8562638404818553532010-12-12T23:54:00.002-03:002010-12-13T01:56:31.015-03:00Sobre Chesterton<div style="text-align: right;"><b><span class="Apple-style-span">Jorge Luis Borges</span></b></div><div style="text-align: right;"><b><span class="Apple-style-span">"Outras Inquisições"</span></b></div><div><br /></div><div><div style="text-align: justify;"><i><br /></i></div> <p class="MsoNormal" align="right" style="text-align:right"><span style="mso-bookmark: OLE_LINK1"><span style="mso-bookmark:OLE_LINK2"><i><span lang="EN-US" style="color:black;mso-ansi-language:EN-US">Because He does not take away The terror from the tree... <o:p></o:p></span></i></span></span></p> <p class="MsoNormal" align="right" style="text-align:right"><span style="mso-bookmark: OLE_LINK1"><span style="mso-bookmark:OLE_LINK2">CHESTERTON<span style="color:black">:<span class="apple-converted-space"><i><span style="word-spacing:-.07em"> </span></i></span><span class="ff0"><i>A Second Childhood</i></span></span>. <o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="mso-bookmark:OLE_LINK1"><span style="mso-bookmark: OLE_LINK2"><span style="color:black"><o:p> </o:p></span></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="mso-bookmark:OLE_LINK1"><span style="mso-bookmark:OLE_LINK2"><span style="color:black">Edgar Allan Poe escreveu contos de puro horror fantástico ou de pura <i>bizarrerie</i><span class="ff3"><span style="word-spacing:.06em">; Edgar Allan Poe foi o inventor do conto policial. Isso não é menos</span></span><i> </i><span class="nw">certo que o fato de ele não ter combinado os dois gêneros. Não impôs ao cavalheiro Augusto Dupin a tarefa de precisar o antigo crime do Homem das Multidões ou de explicar a aparição que fulminou o mascarado príncipe Próspero na câmara negra e escarlate.</span><span class="apple-converted-space"> </span></span>Chesterton<span class="nw"><span style="color:black">, ao contrário, prodigalizou com paixão e felicidade esses<span style="word-spacing:-.07em"></span></span><span class="apple-converted-space"><i><span style="color:black"> </span></i></span><span class="ff0"><i><span style="color:black">tours de force</span></i></span></span><span class="nw"><span style="color:black">. Cada um dos textos da Saga do padre Brown apresenta um mistério, propõe explicações de tipo demoníaco ou mágico para, no fim, substituí-las por outras que são deste mundo. A mestria não esgota a virtude dessas breves ficções; nelas creio notar uma cifra da história de</span></span><span class="apple-converted-space"><span style="color:black"> </span></span>Chesterton<span class="nw"><span style="color:black">, um símbolo ou espelho de</span></span><span class="apple-converted-space"><span style="color:black"> </span></span>Chesterton<span class="nw"><span style="color:black">. A repetição de seu esquema ao longo dos anos e dos livros (<span style="word-spacing:-.08em"></span></span><span class="ff0"><i><span style="color:black">The Man Who Knew Too Much,</span></i></span></span><span style="color:black"></span><span style="display:inline-block"> <i>The Poet and the Lunatics, The Paradoxes of Mr. Pond</i><span class="ff3">) parece confirmar que</span><i> </i>se trata de uma forma essencial, não de artifício retórico. Estes apontamentos são uma tentativa de interpretar essa forma. <o:p></o:p></span></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="mso-bookmark:OLE_LINK1"><span style="mso-bookmark:OLE_LINK2"><span style="color:black"><o:p> </o:p></span></span></span>Antes, convém reconsiderar alguns fatos de excessiva notoriedade.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify">Chesterton<span class="apple-converted-space"><span style="color:black"> </span></span><span class="nw"><span style="color:black">foi católico,</span></span><span class="apple-converted-space"><span style="color:black"> </span></span>Chesterton<span class="apple-converted-space"><span style="color:black"> </span></span><span class="nw"><span style="color:black">acreditou na Idade Média dos pré-rafaelistas ("<span style="word-spacing:0em"></span></span><span class="ff0"><i><span style="color:black">Of London, small and white, and clean”</span></i></span></span><span class="nw"><span style="color:black">),</span></span><span class="apple-converted-space"><span style="color:black"> </span></span>Chesterton<span class="apple-converted-space"><span style="color:black"> </span></span><span class="nw"><span style="color:black">pensou, como Whitman, que o mero fato de ser é tão prodigioso que nenhuma desventura deve eximir-nos de uma espécie de cômica gratidão. Tais crenças podem ser justas, mas o interesse que despertam é limitado; supor que elas esgotam</span></span><span class="apple-converted-space"><span style="color:black"> </span></span>Chesterton<span class="apple-converted-space"><span style="color:black"> </span></span><span class="nw"><span style="color:black">é esquecer que um credo é o último termo de uma série de processos mentais e emocionais e que o homem é toda a série. Neste país, os católicos exaltam</span></span><span class="apple-converted-space"><span style="color:black"> </span></span>Chesterton<span class="nw"><span style="color:black">, os livre-pensadores o negam. Como todo escritor</span></span><span style="color:black"></span><span style="display:inline-block"><span class="nw">que professa um credo,</span><span class="apple-converted-space"> </span></span>Chesterton<span class="apple-converted-space"><span style="color:black"> </span></span><span class="nw"><span style="color:black">é julgado por causa disso, é reprovado ou aclamado por isso. Seu caso é semelhante ao de Kipling, que as pessoas sempre<span style="word-spacing:0em"> julgam em função do Império Britânico.</span></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="mso-bookmark:OLE_LINK1"><span style="mso-bookmark:OLE_LINK2"><span class="nw"><span style="color:black">Poe e Baudelaire, assim como o Urizen atormentado de Blake, propuseram-se criar um mundo de espanto; é natural que sua obra seja fértil em formas do terror. Creio que</span></span><span class="apple-converted-space"><span style="color:black"> </span></span>Chesterton<span class="apple-converted-space"><span style="color:black"> </span></span><span class="nw"><span style="color:black">não teria tolerado a imputação de ser um urdidor de pesadelos, um<span style="word-spacing:-.07em"></span></span><span class="apple-converted-space"><i><span style="color:black"> </span></i></span><span class="ff0"><i><span style="color:black">monstrorum artifex</span></i></span></span><span class="apple-converted-space"><span style="color:black"> </span></span><span class="nw"><span style="color:black">(Plínio, XXVIII, 2), mas ele indefectivelmente incorre em freqüentes imagens atrozes. Pergunta se porventura um homem tem três olhos, ou um pássaro três asas; fala, contra os panteístas, de um morto que descobre no Paraíso que os espíritos dos coros angelicais têm sempre seu próprio rosto</span></span></span></span><a style="mso-footnote-id:ftn1" href="http://www.blogger.com/post-edit.g?blogID=7532208038491145747&postID=856263840481855353#_ftn1" name="_ftnref1" title=""><span style="mso-bookmark:OLE_LINK1"><span style="mso-bookmark:OLE_LINK2"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="color:black"><span style="mso-special-character:footnote"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size:12.0pt;font-family:"Times New Roman"; mso-fareast-font-family:"Times New Roman";color:black;mso-ansi-language:PT-BR; mso-fareast-language:PT-BR;mso-bidi-language:AR-SA">[1]</span></span></span></span></span></span></span></a><span style="mso-bookmark:OLE_LINK1"><span style="mso-bookmark:OLE_LINK2"><span class="nw"><span style="color:black">;<span style="bottom: 0.64em"></span></span><span class="apple-converted-space"><span style="color:black"> </span></span><span class="nw"><span style="color:black">fala de uma prisão de espelhos; fala de um labirinto sem centro; fala de um homem devorado por autômatos de metal; fala de uma árvore que devora os pássaros e que, em vez de folhas, dá penas; imagina (<span style="word-spacing:-.1em"></span></span><span class="ff0"><i><span style="color:black">The Man Who Was Thursday</span></i></span></span><span class="nw"><span style="color:black">, VI) que nos confins orientais do mundo talvez exista uma árvore que já é mais, e menos, que uma árvore, e, nos ocidentais, algo, uma torre, cuja arquitetura, por si só, é malvada. Define o próximo pelo distante, e até pelo atroz; se fala dos próprios olhos, nomeia-os com palavras de Ezequiel (1, 22), "um terrível cristal"; se da noite, aperfeiçoa um antigo horror (Apocalipse 4, 6) para chamá-la "um monstro feito de olhos". Não menos ilustrativa é a narração</span></span><span class="apple-converted-space"><i><span style="color:black"> </span></i></span><span class="ff0"><i><span style="color:black">How I Found the Superman</span></i></span><span class="nw"><span style="color:black">.</span></span><span class="apple-converted-space"><span style="color:black"> </span></span>Chesterton<span class="apple-converted-space"><span style="color:black"> </span></span><span class="nw"><span style="color:black">fala com os pais do Super-Homem; perguntados sobre a beleza do filho, que não sai de um quarto escuro, estes lembram-lhe que o Super-Homem cria seu próprio cânone e por ele deve ser medido ("Nesse plano, ele é mais belo que Apolo. </span></span></span></span></span><span style="mso-bookmark:OLE_LINK1"><span style="mso-bookmark:OLE_LINK2"><span class="nw"><span style="color:black">Visto de nosso plano inferior, claro que..."); depois admitem que não é nada fácil estreitar sua mão ("O senhor sabe; a estrutura é muito outra"); depois são incapazes de precisar se ele tem cabelo ou penas. Morre vítima de uma corrente de ar, e alguns homens retiram um ataúde que não tem forma humana.<span style="word-spacing:.01em"> </span></span>Chesterton<span class="apple-converted-space"><span style="color:black"> </span></span><span class="nw"><span style="color:black">relata essa fantasia teratológica em tom de zombaria.</span></span></span><span style="color:black"> <span class="nw">Tais exemplos, que seria fácil multiplicar, provam que</span><span class="apple-converted-space"> </span></span>Chesterton<span class="apple-converted-space"><span style="color:black"> </span></span><span class="nw"><span style="color:black">se defendeu de ser Edgar Allan Poe ou Franz Kafka, mas que algo no barro de seu eu propendia ao pesadelo, algo secreto, cego e central. Não por acaso ele dedicou suas primeiras obras à defesa de dois grandes artífices góticos: Browning e Dickens; não por acaso repetiu que o melhor livro saído da Alemanha era o dos contos de Grimm. Denegriu Ibsen e defendeu (talvez indefensavelmente) Rostand, mas os Trolls e o Fundidor de<span style="word-spacing:-.1em"></span></span><span class="apple-converted-space"><i><span style="color:black"> </span></i></span><span class="ff0"><i><span style="color:black">Peer Gynt</span></i></span></span><span class="apple-converted-space"><span style="color:black"> </span></span><span class="nw"><span style="color:black">eram da mesma matéria de seus sonhos, "<span style="word-spacing:-.02em"></span></span><span class="ff0"><i><span style="color:black">the stuff his dreams were made of</span></i></span></span><span class="nw"><span style="color:black">". Esse</span></span><span style="color:black"></span></span></span><span style="display:inline-block"><a href="http://www.scribd.com/doc/37158550/Jorge-Luis-Borges-Outras-Inquisicoes#outer_page_64"></a><span style="mso-bookmark:OLE_LINK1"><span style="mso-bookmark:OLE_LINK2"><span style="color:black"> <span class="nw">desacordo, essa precária sujeição de uma vontade demoníaca definem a natureza de</span><span class="apple-converted-space"> </span></span>Chesterton<span class="nw"><span style="color:black">. Emblemas dessa guerra são, para mim, as aventuras do padre Brown, cada uma das quais pretende explicar, mediante a pura razão, um fato inexplicável.<span style="bottom: 0.64em"></span></span><span class="apple-converted-space"><span style="color:black"> </span></span><span class="nw"><span style="color:black">Por isso afirmei, no parágrafo inicial desta nota, que as ficções de</span></span><span class="apple-converted-space"><span style="color:black"> </span></span>Chesterton<span class="apple-converted-space"><span style="color:black"> </span></span><span class="nw"><span style="color:black">eram cifras de sua história, símbolos e espelhos de </span></span>Chesterton<span class="nw"><span style="color:black">. Isso é tudo, com a ressalva de que a "razão" à qual</span></span><span class="apple-converted-space"><span style="color:black"> </span></span>Chesterton <span class="nw"><span style="color:black">subordinou suas imaginações não era exatamente a razão, mas a fé católica, ou seja, um conjunto de imaginações hebréias subordinadas a Platão e a</span></span><span class="apple-converted-space"><span style="color:black"> </span></span><span class="nw"><span style="color:black">Aristóteles.</span></span></span></span></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="mso-bookmark:OLE_LINK1"><span style="mso-bookmark:OLE_LINK2"><span style="color:black"><o:p> </o:p></span></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="mso-bookmark:OLE_LINK1"><span style="mso-bookmark:OLE_LINK2"><span class="nw"><span style="color:black">Recordo duas parábolas opostas. A primeira consta no primeiro volume das obras de Kafka. E a história do homem que pede para ter acesso à lei. O guardião da primeira porta responde que dentro há muitas outras<span style="bottom: 0.64em"></span></span><span class="apple-converted-space"><span style="color:black"> </span></span><span class="nw"><span style="color:black">e que não há sala que não esteja custodiada por um guardião, cada qual mais forte que o anterior. O homem senta-se para esperar. Passam-se os dias e os anos, até que ele morre. Em sua agonia, pergunta: "Será possível que nos anos desta minha espera ninguém além de mim tenha querido entrar?". O guardião responde: "Ninguém quis entrar porque só a ti se destinava esta porta. Agora vou fechá-la". (Kafka comenta essa parábola, complicando-a ainda mais, no nono capítulo de</span></span><span class="apple-converted-space"><i><span style="color:black"> </span></i></span><span class="ff0"><i><span style="color:black">O Processo</span></i></span><span class="nw"><span style="color:black">.) A outra parábola consta no</span></span><span class="apple-converted-space"><i><span style="color:black"> </span></i></span><span class="ff0"><i><span style="color:black">Pilgrim’s Progress</span></i></span><span class="nw"><span style="color:black">, de Bunyan. As pessoas olham com cobiça um castelo defendido por muitos guerreiros; junto à porta há um guardião com um livro para registrar o nome de quem for digno de entrar. Um homem intrépido achega-se ao guardião e diz: "Anote meu nome, senhor". Depois tira sua espada e arremete contra os guerreiros e recebe e devolve feridas sangrentas, até abrir passagem em meio ao fragor e entrar no castelo.</span></span><span style="color:black"> <o:p></o:p></span></span></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="mso-bookmark:OLE_LINK1"><span style="mso-bookmark:OLE_LINK2"><span style="color:black"><o:p> </o:p></span></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="mso-bookmark:OLE_LINK1"><span style="mso-bookmark:OLE_LINK2">Chesterton<span class="apple-converted-space"><span style="color:black"> </span></span><span style="color:black">dedicou a vida a escrever a segunda parábola, mas algo nele sempre tendeu a escrever a primeira. </span><span style="mso-spacerun:yes"> </span></span></span></p> <div style="mso-element:footnote-list"><!--[if !supportFootnotes]--><br /> <hr align="left" size="1" width="33%"> <!--[endif]--> <div style="mso-element:footnote" id="ftn1"> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;mso-line-height-alt:11.45pt"><a style="mso-footnote-id:ftn1" href="http://www.blogger.com/post-edit.g?blogID=7532208038491145747&postID=856263840481855353#_ftnref1" name="_ftn1" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character:footnote"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size:12.0pt;font-family:"Times New Roman"; mso-fareast-font-family:"Times New Roman";mso-ansi-language:PT-BR;mso-fareast-language: PT-BR;mso-bidi-language:AR-SA">[1]</span></span><!--[endif]--></span></span></a> <span style="font-size:8.0pt">Amplificando um pensamento de Attar ("Em toda a parte só vemos Teu rosto"), Djalal al-Din Rumi</span> <span class="nw"><span style="color:black">compôs alguns versos, depois traduzidos por Rückert (</span></span><span class="ff0"><i><span style="color:black">Werke</span></i></span><span class="nw"><span style="color:black">, IV, 222), em que se diz que nos céus, no mar e nos sonhos há Um Só e em que se louva esse único por ter reduzido à unidade os quatro briosos<span style="word-spacing:.01em"> animais que puxam a carruagem dos mundos: a terra, o fogo, o ar e a água.</span></span></span><o:p></o:p></p> <p class="MsoFootnoteText"><o:p> </o:p></p> </div></div></div>juliana kramerhttp://www.blogger.com/profile/02612039463291550290noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7532208038491145747.post-33341580451124553182010-12-08T06:35:00.003-03:002010-12-10T05:53:51.224-03:00A troca de valores<div style="text-align: right;"><span style="font-weight: bold;font-size:78%;">Chesterton</span><br /><span style="font-weight: bold;font-size:78%;">Tremendas Trivialidades</span><span style="font-weight: bold;font-size:78%;"><span style="color: rgb(255, 0, 0);">[1]</span></span><br /></div><br /><div style="text-align: justify;">De todos os sinais de modernidade que se parecem traduzir em algum tipo de decadência, nenhum é mais ameaçador e perigoso do que a exaltação de normas de conduta pequenas e secundárias, à custa das grandes e primárias, à custa dos laços eternos e da trágica moralidade humana.<br /><br />Desse modo, costuma considerar-se mais injurioso acusar um homem de mau gosto do que de má ética. Hoje em dia, já não se associa a limpeza à santidade, visto que a limpeza se converteu em algo essencial, ao passo que a santidade se converteu em algo ofensivo.<br /><br />(...) O grande perigo para a nossa sociedade está em que todo o seu mecanismo se possa tornar cada vez mais fixo, à medida que o espírito se torna mais inconstante.<br /><br />Os pequenos atos de um homem deveriam ser livres, flexíveis, criativos; o que deveria permanecer inalterado são os seus princípios, os seus ideais. Mas conosco o contrário é que é a verdade: os nossos pontos de vista alteram-se constantemente, mas o nosso almoço permanece inalterado.<br /></div><br /><span style="font-size:78%;"><span style="font-weight: bold; color: rgb(255, 0, 0);">[1] </span>Lançamento em Portugal pela editora Alêtheia. Há também uma antiga edição em espanhol sob o título "<span>Enormes Minúncias</span>".</span>juliana kramerhttp://www.blogger.com/profile/02612039463291550290noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7532208038491145747.post-54677889297252755112010-11-20T07:46:00.005-03:002010-11-20T07:58:54.409-03:00A violência da razão<div style="text-align: right;"><b><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">Chesterton, </span></b><b><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><i>Doze tipos</i>.</span></b></div><div><br /></div><div style="text-align: justify;">A razão é sempre uma espécie de força bruta; aqueles que recorrem à cabeça ao invés do coração, ainda que pálidos e polidos, são necessariamente homens de violência. Falamos em "tocar" o coração de um homem, mas nada podemos fazer à sua cabeça senão golpeá-la.</div>juliana kramerhttp://www.blogger.com/profile/02612039463291550290noreply@blogger.com1