“Contenham esse avanço... Façam qualquer coisa, por menor que seja... Mantenham aberta ainda que seja uma só porta dentre cem, pois conquanto que tenhamos pelo menos uma porta aberta, não estaremos numa prisão.”
(G.K.C)

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Antony Flew critica Dawkins


"'Deus, um delírio' escrito pelo ateu Richard Dawkins é notável, em primeiro lugar por ter conseguído uma espécie de recorde ao vender mais de um milhão de cópias. Mas o que é muito mais notável do que o sucesso económico é que o conteúdo - ou melhor, a falta de conteúdo - deste livro mostra que o próprio Dawkins tornou-se o que ele e seus colegas secularistas acreditam tipicamente ser uma impossibilidade: ou seja, um fundamentalista secular. (A minha cópia do Dicionário de Oxford define um fundamentalista como 'um obstinado ou um adepto intolerante de um ponto de vista')."

Antony Flew

terça-feira, 22 de julho de 2008

O peso de glória

"Cada pessoa pode pensar demais em seu potencial de glória; mas nunca será possível pensar na glória que também revestirá o seu próximo. O volume, o peso, o fardo de glória do meu próximo deve pesar sobre mim diariamente, o fardo tão pesado que só a humildade pode carregar, e os ossos do orgulho quebrar-se-ão. É muito sério viver numa sociedade constituída por possíveis deuses e deusas, lembrar que a mais desinteressante e estúpida das pessoas com quem falamos pode, um dia, vir a ser alguém que, se a víssemos agora, nos sentiríamos fortemente impelidos a adorar; ou (quem sabe?) a personificação do horror e da corrupção só vistos em pesadelos. Passamos o dia inteiro ajudando-nos uns aos outros a, de certo modo, encontrar um desses dois destinos. É à luz dessas possibilidades esmagadoras e com o devido temor e circunspeção que devemos orientar as nossas relações com os outros; toda amizade, todo amor, toda recreação, toda política. Não existe gente comum. Você nunca falou com um simples mortal. As nações, as culturas, as artes, as civilizações — essas são mortais, e a vida delas está para a nossa como a vida de um mosquito. Mas é com criaturas imortais que brincamos, trabalhamos ou casamos, e a elas que desdenhamos, censuramos ou exploramos — horrores imortais ou esplendores perenes. Não significa que devamos ser perpetuamente solenes. Precisamos divertir-nos. Mas nossa alegria deve ser aquela (aliás, a maior de todas) que existe entre pessoas que sempre se levaram a sério — sem leviandade, sem superioridade, sem presunção. E nossa caridade deve ser um amor autêntico e precioso que se ressinta fortemente do pecado, mas ame o pecador... "
Lewis

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Reflexão - C. S. Lewis

"Se o sistema solar veio a existir devido a uma colisão acidental, então, o aparecimento da vida orgânica neste planeta também foi acidental, e toda a evolução do homem foi acidental também. Se este é o caso, todos o nossos pensamentos presentes são meros acidentes - acidentes criados pelo movimento dos átomos. E isto é válido tanto para os pensamentos dos materialistas e astrônomos como para qualquer outra pessoa. Mas se os seus pensamentos - isto é, do materialista e do astrônomo - são meramente produtos acidentais, porque deveríamos crer que eles são verdadeiros? Eu não vejo razão para crer que um acidente possa dar a explicação correta do porquê de todos os demais acidentes."

Lewis

Progresso

"O Progresso deveria significar que estamos sempre querendo mudar o mundo para adaptar a uma visão definida. Hoje, porém, significa que estamos mudando constantemente de visão. Deveria significar que conseguimos devagar, mas de modo seguro, a justiça e a piedade entre os homens: significa na verdade que estamos prontos a duvidar se a justiça e a piedade são desejáveis; uma página louca de um sofista prussiano qualquer faz os homens duvidarem. [...]

Não modificamos o real para o adaptar ao Ideal, modificamos o Ideal: é mais fácil.

Exemplos vulgares são sempre mais simples. Suponhamos que um homem queira um certo mundo, digamos um mundo azul. Não teria nenhuma razão de se queixar da lentidão ou rapidez da tarefa; poderia se fatigar nessa transformação, poderia se esgotar até que tudo ficasse azul; passaria por aventuras heróicas, nos últimos retoques de azul sobre um tigre. Haveria sonhos fantásticos de um lugar azul... Mas se ele trabalhasse com afinco, esse reformador cheio de altas idéias deixaria, segundo seu ponto de vista, um mundo melhor e mais azul do que tinha encontrado.

Se cada dia ele pintasse uma folha de erva, avançaria lentamente. Mas se cada dia modificasse sua cor favorita, então não adiantaria absolutamente. Se, depois de ter lido um novo filósofo, ele se pusesse a pintar tudo de amarelo, então o seu trabalho estaria perdido: nada teria a mostrar senão aqui e ali algum tigre azul, lembrança desagradável de sua primitiva maneira [...]"
Chesterton

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"O progresso não significa apenas uma mudança, mas uma mudança para melhor. Se um conjunto de ideias morais não fosse melhor do que outro, não haveria sentido em preferir a moral civilizada à moral bárbara, ou a moral cristã à moral nazista. [...]

Todos nós queremos o progresso. Progredir, porém, é aproximarmo-nos do lugar aonde queremos chegar. Se você tomou o caminho errado, não vai chegar mais perto do objetivo se seguir em frente. Para quem está na estrada errada, progredir é dar meia-volta e retornar à direção correta; nesse caso, a pessoa que der meia-volta mais cedo será a mais avançada. Todos já tivemos essa experiência com as contas de aritmética. Quando erramos uma soma desde o início, sabemos que, quanto antes admitirmos o engano e voltarmos ao começo, tanto antes chegaremos à resposta correta. Não há nada de progressista em ser um cabeça-dura que se recusa a admitir o erro. Penso que, se examinarmos o estado atual do mundo, é bastante óbvio que a humanidade cometeu algum grande erro. Tomamos o caminho errado. Se assim for, devemos dar meia-volta. Voltar é o caminho mais rápido."
Lewis

sexta-feira, 11 de julho de 2008

O mundo como um conto de fadas

"... o verdadeiro cidadão do país das fadas obedece a algo que absolutamente não entende. No conto de fadas há uma felicidade incompreensível que se apóia numa condição incompreensível. Abre-se uma caixa, e todos os males saem voando. Esquece-se uma palavra, e cidades são destruídas. Acende-se uma lâmpada, e o amor voa embora. Colhe-se uma flor, e vidas humanas são perdidas. Come-se uma maçã, e a esperança de Deus desaparece...

Esse sentimento dos contos de fada também arraigou-se fundo em mim e tornou-se um sentimento em relação ao mundo inteiro. Eu sentia e sinto que a vida em si brilha como um diamante, mas é frágil como uma vidraça; e quando os céus eram comparados ao terrível cristal, eu ainda posso lembrar-me do calafrio. Tinha medo de que Deus deixasse o cosmos cair e ele se espatifasse.

Lembre-se, porém, que ser quebrável não é o mesmo que ser perecível. Golpeie um vidro, e ele não vai resistir um instante; simplesmente não o golpeie, e ele vai resistir mil anos. Assim me parecia que era a alegria do ser humano, no mundo das fadas ou na terra; a felicidade dependia de NÃO FAZER ALGO que você poderia fazer a qualquer momento e, muitas vezes, não era óbvio o motivo por que não deveria fazê-lo."
Chesterton

terça-feira, 8 de julho de 2008

Lewis e a argumentação



Imagine um conceito. Um conceito difícil de entender, obscuro, cheio de contradições e que ninguém se atreve a explicá-lo. E por causa dessa obscuridade, as pessoas tomem posições em relação a esse conceito baseadas em outras pessoas que dizem entendê-lo, mas que, nem de perto, haja um consenso sobre ele. Agora pegue-o, e, através de analogias, demonstre, de forma tão simples e clara que ele até poderia ser introduzido num livro para crianças, que as contradições desse conceito são só aparentes e, por isso, você agora pode tomar sua própria posição em relação a tal conceito. Eis uma argumentação lewisiana.
Agnon Fabiano

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Chesterton e a argumentação


Imagine um consenso, um consenso qualquer, vire-o de ponta-cabeça, e prove, com exemplos nunca antes imaginados, que esse modo inusitado é, na verdade, o modo correto de enxergá-lo. Eis uma argumentação chestertoniana.

A importância da leitura dos clássicos



Chamemos de “os clássicos”, a literatura universal que vai, mais ou menos, de Homero e Virgílio até Fielding e Dickens.

Por que lê-los? Creio que a importância de ler os clássicos não reside somente no grandioso estilo literário e na inspiração emotiva, senão pela visão equilibrada das idéias e da exposição de verdades mais completas. Os clássicos aguçam nossos sentidos contra as meias verdades e as idéias modernas tidas como inéditas e originais. Aprendi isso com Chesterton, que dizia que “na história da humanidade, aparecem de tempos em tempos, de maneira especial em épocas agitadas como a nossa, certas coisas, que no mundo antigo se chamavam heresias. No mundo moderno, chamam-se modas. Às vezes, são úteis durante certo tempo; outras são completamente nocivas. Porém, sempre se conciliam, graças a uma convergência indevida em torno de uma verdade, ou de uma meia verdade”. O herege, nesse caso, é uma analogia, é um empréstimo do vocabulário religioso e aplicado de forma mais abrangente. "O herege não é um homem que ama demasiadamente a verdade. O herege é um homem que ama sua verdade mais que a verdade mesma. Prefere as meias verdades que descobriu, à verdade completa que a humanidade tem encontrado. Ele não gosta de ver seus preciosos paradoxos misturados a vinte obviedades na trouxa da sabedoria universal".

O conhecimento dos clássicos nos faz identificar “heresias” da modernidade, é muito provável que uma idéia tida como original, se encontre dividida em todos os grandes livros de caráter mais clássico e imparcial. Podem-se encontrar todas as novas idéias em livros antigos, só que ali as encontraremos equilibradas, no lugar que lhes corresponde e, às vezes, com outras idéias melhores que as contradizem e as superam. Os grandes escritores não deixavam de lado uma moda porque não haviam pensado nela, mas porque haviam pensado também nas outras respostas.

Chesterton nos dá um exemplo disso. Nietzsche, como todos sabem, pregou uma doutrina que ele e seus seguidores aparentemente consideravam muito revolucionária; sustentaram que a moral altruísta comumente havia sido uma invenção de uma classe escrava para evitar que em tempos posteriores surgisse alguém que a sobrepujasse hostilmente. Os modernos, estando ou não de acordo com ele, sempre se referem a essa idéia como algo novo e jamais visto. Supõe-se que os grandes escritores, digamos Shakespeare, por exemplo, não sustentou essa idéia porque jamais havia pensado nela. Recorramos ao último ato de Ricardo III de Shakespeare e encontraremos não só tudo o que Nietzsche tinha a dizer, resumido em duas linhas, mas também as mesmas palavras de Nietzsche. Ricardo o corcunda, disse:

Consciência é só uma palavra que usam os covardes,
Criada, a princípio, para infundir terror aos fortes.


O fato é evidente. Shakespeare havia pensado no que Nietzsche pensou, porém o deu seu próprio valor e pôs no lugar que lhe corresponde. Este lugar é a boca de um corcunda meio louco nas vésperas da derrota. Essa raiva contra os debilitados só é possível em um homem valente, porém fundamentalmente enfermo; um homem como Ricardo, um homem com Nietzsche. Podemos ver um exemplo, dentre vários, da falsa idéia de que estas filosofias são modernas no sentido de que os grandes homens do passado não pensaram nelas. Não se trata de Shakespeare não ter visto a idéia de Nietzsche; ele a viu, porém viu muito além dela.

O que chamamos de idéias novas são, geralmente, fragmentos das velhas idéias. Não é que uma idéia particular não tenha ocorrido a Shakespeare. É que, simplesmente, ele encontrou muitas outras para livrar-lhe da tolice.

sexta-feira, 4 de julho de 2008

A vantagem de ser bobo


O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir tocar no mundo.

O bobo é capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas. Se perguntado por que não faz alguma coisa, responde: "Estou fazendo, estou pensando."

Ser bobo às vezes oferece um “mundo de saídas” porque os espertos só se lembram de sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a idéia.

O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não vêem. Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os vêem como simples pessoas humanas.

... a vantagem de ser bobo é ter boa-fé, não desconfiar e, portanto, estar tranqüilo. Enquanto o esperto não dorme à noite com medo de ser ludibriado.

O esperto vence com úlcera no estômago. O bobo não percebe que venceu.

O bobo é sempre tão simpático que há espertos que se fazem passar por bobos. Os espertos ganham dos outros. Em compensação, os bobos ganham a vida.

Bem-aventurados os bobos porque sabem sem que ninguém desconfie. Aliás não se importam que saibam que eles sabem.

É quase impossível evitar excesso de amor que o bobo provoca. É que só o bobo é capaz de excesso de amor. E só o amor faz o bobo.


Clarice Lispector

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Orgulho de ser humilde

Esse é um trecho de uma carta do Diabo respondendo à correspondência de seu aprendiz e sobrinho e ensinando-o como ele deve agir no seu labor diário de enganar o homem.

"Seu paciente tem se tornado humilde, não é? Você tem conseguido chamar a atenção dele para este aspecto? Todas as virtudes são menos formidáveis assim que o homem percebe que as têm, mas isto é especialmente marcante com relação à humildade! Surpreenda-o num momento em que estiver mergulhado na mais profunda pobreza de espírito e contrabandeie sua atenção para um pensamento da linha "Uau! Mas não é que estou mesmo me tornando humilde?" Você observará quase imediatamente a aparição de uma vaidade - a vaidade pelo fato de ser humilde. Se ele se tocar quanto ao perigo e tentar abafar esta nova forma de orgulho, faça-o orgulhoso por ter conseguido, e assim por diante, em quantos degraus que você considere necessário. Mas não mantenha este jogo por muito tempo, claro, pois isso poderia despertar o senso de humor dele e seu senso de proporção. Se isso ocorrer, ele simplesmente dará risada na sua cara e irá tranqüilamente para a cama".

Lewis