“Contenham esse avanço... Façam qualquer coisa, por menor que seja... Mantenham aberta ainda que seja uma só porta dentre cem, pois conquanto que tenhamos pelo menos uma porta aberta, não estaremos numa prisão.”
(G.K.C)

domingo, 26 de abril de 2009

Faz parte...

Nem sempre fazemos o que gostamos. Faz parte.

Procuro sempre ter o bom-senso de só dar opinião sobre o que conheço. E procuro medir minha opinião, para que ela possa ser proporcional ao meu conhecimento sobre aquele assunto. Por essa razão, muitas vezes, leio sobre assuntos que não me agradam, mas que preciso conhecê-los, pelo menos para porder explicar o motivo de não me agradarem.

Estive sofrendo nos últimos três dias lendo mais um livro sobre a "Lei da atração". Minhas leituras desse gênero - como diria Corção - sempre tiveram a brevidade e o enfado de uma gripe. Leu-se; sofreu-se; acabou-se.

sábado, 25 de abril de 2009

Citações de C. S. Lewis


Esta postagem será permanentemente atualizada e seu link ficará no lado direito da página principal do blog, no quadro chamado "Alguns destaques", para melhor acesso. Pretendo nela adicionar, tanto quanto possível, citações de C. S. Lewis. Afinal, como dizia Churchill, "as citações, quando gravadas em nossa memória, dão-nos bons pensamentos. Elas nos dão vontade de ler os autores e conhecê-los melhor."


Atualização - 08/07/2009

  1. Desagradam-me as pessoas que, cercadas de segurança e conforto, fazem exortações aos que estão na frente de batalha. (Exortação)
  2. A realidade nunca se repete. Alguma coisa nunca é tirada de nós e, depois, é-nos devolvida do mesmo modo em que se apresentava. (Realidade)
  3. Quando nada há em sua alma exceto um grito de socorro, talves seja o exato momento em que Deus não o pode atender: você é como o homem que se afoga e que não pode ser ajudado por tanto se debater. É possível que seus gritos repetidos o deixem surdo à voz que você esperava ouvir. (Deus e o sofrimento)
  4. Os cinco sentidos; um intelecto incuravelmente abstrato; uma memória acidentalmente seletiva; um conjunto de idéias preconcebidas e suposições tão numerosas, que não tenho como analisar senão uma minoria delas - nem sequer me tornar consciente de todas elas. Quanto da realidade é capaz de admitir um amparo semelhante? (Realidade)
  5. Pode um mortal fazer perguntas que Deus considera não passíveis de resposta? Absolutamente, sim! Todas as perguntas sem sentido não são passíveis de resposta. Quantas horas há num quilômetro? O amarelo é redondo ou quadrado? Provavelmente, metade das perguntas que fazemos - metade de nossos grandes problemas teológicos e metafísicos - pertençam a essa categoria. (Entendimento)
  6. A vida, no sentido biológico, não tem relação alguma com o bem e o mal até surgir o binômio percepção e inteligência. (O bem e o mal)
  7. O sono é uma mulher sedutora que despreza quem a corteja e corteja quem dela escarnece. (Sono)
  8. Suponho que nos importaríamos menos com a humilhação se fôssemos mais humildes. (Humildade)
  9. Qual é o problema em haver um boato sobre minha morte? Não há nada ignonimioso em morrer: sei que as pessoas mais respeitáveis morrem! (Morte)
  10. O perdão é, por natureza, para os que não o merecem. (Perdão)


Atualização - 29/04/2009
  1. Há dois erros iguais e opostos no que diz respeito à matéria Demônios: Uma é desacreditar em sua existência. A outra é acreditar e sentir um excessivo e doentio interesse neles. Os mesmos demônios ficam igualmente satisfeitos pelos dois erros e portanto, contemplam um materialista e um mágico com o mesmo prazer. (Demônios)
  2. Há uma série de coisas com as quais eu não me preocuparia se fosse viver apenas setenta anos, mas que me preocupam seriamente com a perspectiva da vida eterna. (Eternidade)
  3. A Afeição não exige demasiado, fecha os olhos para as faltas, renova-se facilmente depois das discussões... A Afeição abre nossos olhos para a bondade que não teríamos visto nem apreciado não fosse por causa dela. (Afeição)
  4. O amor que se tem pelo conhecimento é uma espécie de loucura. (Conhecimento)
  5. Cada amizade verdadeira é uma espécie de secessão, e mesmo rebelião. Pode ser uma rebelião de pensadores sinceros contra erros aceitos ou de maníacos contra o bom senso aceito; de verdadeiros artistas contra a arte popular inferior, ou de charlatões contra o gosto civilizado; de homens bons contra a maldade social ou de homens maus contra a bondade. (Amizade)
  6. Os homens que possuem amigos fiéis são menos fáceis de manejar ou “alcançar”; mais difíceis de corrigir por parte das boas autoridades e de corromper por parte das más. (Amizade)
  7. A Amizade (como os antigos descobriram) pode ser uma escola de virtude; mas também (como não perceberam) uma escola de vício. Ela é ambivalente. Torna melhores os homens bons e piores os maus. (Amizade)
  8. As pessoas que aborrecem umas às outras devem encontrar-se poucas vezes, as que interessam uma à outra, muitas vezes. (Amizade)
  9. Esse é um dos poderes mais notáveis da linguagem poética: comunicar-nos a qualidade de experiências que não tivemos e que talvez jamais tenhamos; utilizar fatores que envolvem nossa experiência de modo que se tornem indicadores de algo externo a ela... (Poesia)
  10. Depois dos primeiros passos na vida cristã, nos damos conta de que tudo o que realmente precisa mudar na alma só pode ser feito por Deus. (Vida cristã)


25/04/2009

  1. Nós consideramos Deus como um piloto considera o pára-quedas dele; está lá para emergências mas ele espera nunca ter que usá-lo. (Deus)
  2. Todos dizem que o perdão é uma idéia maravilhosa até que elas possuam algo para perdoar. (Perdão)
  3. Todos nós desejamos o progresso, mas se você está na estrada errada, progresso significa fazer o retorno e voltar para a estrada certa; nesse caso, o homem que volta atrás primeiro é o mais progressista. (Progresso)
  4. O carinho é responsável por nove-décimos de qualquer felicidade sólida e durável existente em nossas vidas. (Carinho)
  5. Você não tem uma alma; você é uma alma. Você tem um corpo. (Alma)
  6. Pela primeira vez examinei a mim mesmo com o propósito seriamente prático. E ali encontrei o que me assustou: um bestiário de luxúrias, um hospício de ambições, um canteiro de medos, um harém de ódios mimados. (Sobre o homem)
  7. O sofrimento é o megafone de Deus para um mundo ensurdecido. (Sofrimento)
  8. Os homens tornaram-se cientistas porque esperavam encontrar lei na natureza, e esperavam encontrar lei na natureza porque criam em um Legislador. (Deus)
  9. Somos criaturas divididas, correndo atrás de álcool, sexo e ambições; desprezando a alegria infinita que se nos oferece, como uma criança ignorante que prefere continuar fazendo seus bolinhos de areia numa favela, porque não consegue imaginar o que significa um convite para passar as férias na praia. (Sobre o homem)
  10. O amor-Necessidade diz a respeito de uma mulher: 'Não posso viver sem ela'; o amor-Doação anseia por fazê-la feliz, dar-lhe conforto e proteção - e, se possível, riqueza; o amor Apreciativo contempla e prende a respiração, fica em silêncio e se rejubila de que tal maravilha possa existir, mesmo que não seja para ele; não ficará inteiramente deprimido se a perder, pois prefere isso a jamais tê-la visto. (Amor)

Citações de Chesterton


Esta postagem será permanentemente atualizada e seu link ficará no lado direito da página principal do blog, no quadro chamado "Alguns destaques", para melhor acesso. Pretendo nela adicionar, tanto quanto possível, citações de Chesterton. Afinal, como dizia Churchill, "as citações, quando gravadas em nossa memória, dão-nos bons pensamentos. Elas nos dão vontade de ler os autores e conhecê-los melhor."


Atualização - 08/07/2009

  1. Todo homem odeia a humanidade quando se sente diminuído em sua condição de homem. Todo homem em dados momentos já deve ter sentido a humanidade a seus olhos como nevoeiro que desnorteia, ou a humanidade em suas narinas como dor que sufoca. (Homem)
  2. Desconsidere o sobrenatural e o que permanece é o artificial. (Sobrenatural)
  3. A mente cria a distância, o automóvel estupidamente a detrói. (Imaginação)
  4. Quando procuramos os méritos de um homem, não é recomendável que ouçamos seus inimigos ou, coisa ainda mais tola, que ouçamos o próprio homem. (Méritos)
  5. Enquanto houver mistério, haverá saúde. (Oculto)
  6. Não existe um homem que seja realmente bom enquanto não saiba o quão mau pode ser, e só enquanto não se deu conta disso com exatidão é que pode falar desdenhosamente dos criminosos, como se estes fossem símios da selva que vivessem a milhares de quilômetros. (O bem e o mal)
  7. O mais incrível dos milagres é que aconteçam. (Milagres)
  8. Os homens podem manter uma espécie de nível de bem, mas nenhum homem jamais foi capaz de conservar um mesmo nível de mal. (O bem e o mal)
  9. A mente moderna sempre confunde duas idéias: a de mistério no sentido de maravilhoso e a de mistério no sentido de complicado. Isso é metade da dificuldade com respeito a milagres. Um milagre é surpreendente, mas é simples. É simples porque é um milagre. é algo que vem diretamente do poder de Deus (ou do diabo), em vez de vir indiretamente pela natureza ou pelo homem. (Milagres)
  10. Às vezes a gente pode fazer um bem, sendo a pessoa certa no lugar errado. (O bem e o mal)

Atualização - 29/04/2009
  1. O Progresso devia significar que estamos sempre transformando o mundo para ajustá-lo àquela visão. No entanto, o progresso significa, atualmente, que estamos sempre mudando a visão. (Progresso)
  2. Quanto mais séria uma religião, mais ela permite que se ria dela. (Religião)
  3. Os homens que realmente acreditam em si mesmos estão todos nos hospícios. (Loucura)
  4. Nenhum homem é, de fato, bom, enquanto não souber quão mal ele é, ou poderia ser. (Bondade)
  5. O sonho é sempre concreto e confiável; o sonho é sempre um fato. A "realidade" é que é, muitas vezes, uma fraude. (Sonho)
  6. Existe um caminho que vai dos olhos ao coração sem passar pelo intelecto. (Coração)
  7. Nada há de mais plausível e confiável do que os contos-de-fadas, que nos fazem ver as coisas como realmente são: encantadoras demais para podermos racionalizá-las, restando-nos apenas admirá-las... (Contos de fadas)
  8. Aceitar tudo é um exercício, entender tudo é uma tensão. (Razão)
  9. Todo lugar na terra é o começo ou o fim, segundo o coração do homem. Eis a vantagem de se viver num planeta esférico. (Mundo)
  10. Todos os homens que não passam por um amolecimento do coração, devem passar, no mínimo, por um amolecimento do cérebro. (Amor)

25/04/2008

  1. A coragem significa um forte desejo de viver sob a forma de uma grande disposição para morrer. (Coragem)
  2. Uma coisa pode ser muito triste para ser crível ou muito má para ser crível ou muito boa para ser crível; mas ela não pode ser tão absurda para ser crível, neste planeta de sapos e elefantes, de crocodilos e peixes-espada. (Crença)
  3. A Bíblia nos diz para amar nosso próximo e também para amar nosso inimigo; provavelmente porque eles são a mesma pessoa. (Inimigos)
  4. O louco não é um homem que perdeu a razão. O louco é um homem que perdeu tudo exceto a razão. (Loucura)
  5. A imaginação não gera a insanidade. O que gera a insanidade é exatamente a razão. Os poetas não enlouquecem, mas os jogadores de xadrez sim. (Imaginação)
  6. O poeta apenas deseja a exaltação e a expansão, um mundo em que ele possa se expandir. O poeta apenas pede para pôr a cabeça nos céus. O lógico é que procura pôr os céus dentro de sua cabeça. E é a cabeça que acaba por se estilhaçar. (Razão x Imaginação)
  7. A poesia mantém a sanidade porque flutua facilmente num mar infinito; a razão procura atravessar o mar infinito, e assim torná-lo finito. O resultado é a exaustão mental... (Razão x Imaginação)
  8. As pessoas não conhecem a fundo o mundo que habitam e, por essa razão, acreditam cegamente, em meia dúzia de máximas cínicas que estão longe de ser expressão da verdade. (Engano)
  9. Os evolucionistas parecem saber tudo acerca do elo perdido, a não ser o fato de que ele continua perdido. (Evolucionismo)
  10. A eternidade dos fatalistas do materialismo, a eternidade dos pessimistas orientais, a eternidade dos arrogantes teosofistas e cientistas mais altos de hoje está, de fato, muito bem representada pela serpente comendo o próprio rabo, um animal aviltado que destrói até a si mesmo. (Materialismo)

domingo, 19 de abril de 2009

O burro e a burocracia

Pe. Antônio Vieira

Deus, inteligentemente, criou o burro, e o homem, burramente, inventou a burocracia.

O burro, na sua habitual pachorrice, não conhece a burocracia. Anda, segundo o velocímetro que Deus imantou nas suas entranhas e nos seus nervos. Não tem pressa. Não atropela. Não engarrafa o trânsito. Quando lhe pões nas costas carga superior às suas forças, ele emburra.

Emburrar, na linguagem dos muares, significa protestar, reclamar, pedir misericórdia, embora a semântica dos homens entenda diferente. Como os homens não aceitam contestação, nas suas injúrias, quanto mais de burro, emburram contra o indefeso animal com pancadaria, e todas as judiarias animalescas ou extra-animalescas, porque, afinal de contas, os irracionais não são tão brutais como os homens.

O burro é mais inteligente funcionalmente que o homem. Não artificializa a vida. O mal do homem é querer corrigir a ordem divina das coisas. Começa pela imbecilidade de haver fabricado o relógio, na presunção de que o relógio pode controlar o tempo. O burro, porém, obedece ao relógio do tempo. Se é noite, ele dorme. Se é dia, ele pasta. Não altera a ordem natural das coisas, e a um animal inteligente assim, ainda chamam de burro.

O burro não sofre das doenças do homem civilizado, do homem cronometrado: taquicardia, hipertensão, gastrite, colesterol, stress, doenças venéreas, depressão moral e psíquica, distonia vascular e outras.

Todos os ataques que o homem civilizado sofre, se deve precisamente a toda essa organicidade técnica e burocrática, a que se impôs como critério de norma de eficiência.

sábado, 18 de abril de 2009

A vida sem padrões

Hoje em dia é muito comum a crítica aos valores morais. Dizem que vivemos em outra época e, por isso, tal e tal moralidade não cabe mais.

De certa forma, aqui e acolá, pode-se justificar esse pensamento, mas ele não é para ser abrangente, de forma alguma. Ele é exceção e não regra. No post anterior falei sobre as armadilhas das modernas filosofias. Eis o maior problemas delas. Querem destruir os valores morais que sempre se demonstraram certos - e aqui já serei criticado por falar em algo "certo". Essas filosofias tem como base a perigosa afirmação de que nada é certo e nada é errado, ou seja, não existe esse negócio de certo e errado. E ai, já não conseguem nem abrir a boca sem se contradizerem, pois quando dizem que certo e errado não existem, pretendem que essa afirmativa seja certa!

Se não existe um padrão, não se pode falar sem se contradizer, pois não tendo uma base de pensamento, torna-se incoerente. É por isso que, conforme falei no post anterior, precisamos nos livrar das armadilhas. Estamos muito ocupados para pensar, mas se não pensarmos estaremos livres demais para destruirmos o pensamento.

As filosofias modernas são incoerentes porque negam os padrões. Assim, oscilam de uma ponta à outra das possibilidades, sem que se defina com qualquer uma delas. O filósofo moderno condena o sheik árabe por desvirginar vinte mulheres, e em outro lugar ridiculariza as freiras por guardarem a virgindade. Ele escreve um livro criticando o governo por tratar as pessoas como animais selvagens e depois vai ao laboratório com outros cientistas para tentar provar que praticamente somos como os animais selvagens. "No seu livro sobre política ele ataca os homens por espezinharem a moralidade e no seu livro sobre ética ele ataca a moralidade por espezinhar os homens". Mal ele fala sobre o pessimismo do cristianismo por aceitar algumas fatalidades, censuram-no pelo otimismo de acreditar numa vida eterna. Reprovam a valentia das Cruzadas, ao mesmo tempo que riem da idéia da mansidão cristã de dar a outra face para baterem. Sem um padrão, o filósofo moderno, e todos os seus seguidores, tornam-se praticamente inúteis para qualquer propósito coerente de idéias, pois contradizem-se a cada instante. Ele rebela-se contra tudo, então "perde o direito de se rebelar contra qualquer coisa específica".

A aventura de viver

"A vida é uma aventura", dizem. E não estão de todo errados, mas muitos que recebem essa graça - de viver - não se comportam como aventureiros. Cada vez mais, vejo a vida como um jogo, cheio de armadilhas, descobertas, segredos e recompensas, mas que também possui certas regras.

Aprendi algo fascinante neste jogo. Quase nada é mais emocionante do que dar um salto e rolar no chão para escapar de uma armadilha. Ou então descobrir que o corredor sem saída, na verdade, possui uma passagem secreta, ou ainda, perceber que basta empurrar aquela pedra, para que a água seque e o tesouro apareça.

Pois a vida é mesmo assim. Por todos os lados existem armadilhas. Em toda parte há segredos. Devemos viver em constantes descobertas. Mas tudo dentro das regras.

Na época em que vivemos predominam as armadilhas das filosofias. É muito gratificante quando descobrimos que, por pouco, não fomos enganados e atraídos para um caminho diferente daquele onde está o tesouro.

Infelizmente, as armadilhas estão cada vez mais requintadas e os aventureiros cada vez menos preparados. Esquecem até o cantil d'água e o canivete. Mas há aventureiros preparados que demonstram habilidade em escapar dos laços e perceber as incoerências escondidas.

Devemos nos juntar aos aventureiros experientes e sensatos para que possamos escapar dos perigos. É por isso que outro dia escrevi por aqui que "Há escritores que são verdadeiros profetas e verdadeiros historiadores. Falam do passado como se tivessem participado dos fatos - de todos os planos, das guerras, das vitórias e das derrotas. Do futuro, falam como se de lá, acabassem de chegar. Há escritores que são contemporâneos de todos os tempos! A estes, procuro dedicar minha atenção".

Devemos seguir as regras, aprender a jogar, desenvolver estratégias e ficar sempre atentos, senão, ... GAME OVER.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Os "Policiais-Filósofos"

Recebei um elogio - assim o encarei - de alguém que andou lendo esse meu blog. Disse-me tal pessoa que os textos postados aqui são sensatos, apesar de serem, na sua maioria, "do contra".

- "Do contra"? - perguntei. Como assim?

- Já notou - respondeu - que muito do que você posta lá, são idéias que vão de encontro ao que normalmente a maioria das penssoas pensam ou praticam, mas que, mesmo assim, faz sentido o que você diz?

Lembrei-me de alguns textos postados, como "A intolerância dos tolerantes", "O engano dos best-sellers", "Nem toda diversão é divertida para todos", "A liberdade do nosso lar", etc, e percebi que ele tinha razão, de certa forma.

- Nem sempre sou eu que digo - respondi -, mas, é verdade que mesmo as citações que publico de autores, são pensamentos com os quais coaduno.

- Interessante isso. Ir de encontro às coisas mais simples e aparentemente inofensivas e nelas descobrir perigos consideráveis.

- Mais interessante ainda - respondi - é perceber perigos consideráveis sendo transformados em coisas simples e aparentemente inofensivas - risos dele -, mas não sou eu o "caçador de heresias", apenas concordo com os verdadeiros caçadores e neles descubro algumas coisas que sempre pensei, mas não sabia expressar.

Lembrei-me imediatamente de Gabriel Syme, personagem de Chesterton do livro "O Homem que foi quinta-feira", antes de se tornar detetive, numa cena onde encontra um policial a observar o tempo, num parque às margens do Tâmisa e acha estranho o comportamento desse policial, que mais parecia um filósofo com suas palavras:

- Mas por que você ingressou na Polícia? - inquiriu Syme, com rude curiosidade.

- Exatamente pelo mesmo motivo que você tem para insultá-la. Descobri que havia no serviço uma oportunidade especial para aqueles cujos temores pela sorte da humanidade dizem respeito antes às aberrações do intelecto científico do que aos normais e desculpáveis, ainda que excessivos, distúrbios da vontade humana.

- Como é que um homem como você, bota um uniforme azul e vem filosofar aqui no aterro?

- É evidente que você não ouviu falar nos mais recentes métodos do nosso sistema policial, e não me admiro, pois não os revelamos às classes cultas e educadas, pois nelas se encontram a maior parte dos nossos inimigos. Mas parece que o seu espírito é predisposto. Creio que você poderia unir-se a nós.

- Unir-me em quê? – perguntou Syme.

- Explicarei tudo – disse o guarda calmamente. – A situação é esta: o chefe de um dos nossos departamentos, detetive dos mais célebres de toda a Europa, vem desde muito tempo suspeitando de uma conspiração puramente intelectual que em breve ameaçará a própria existência da civilização. Está convicto de que os mundos artísticos e científicos se unem secretamente numa cruzada contra a Família e o Estado. Por esta razão, ele formou uma corporação especial de detetives, detetives que são também filósofos. A função deles é investigar as orígens dessa conspiração e combatê-la, não só no sentido meramente criminal, mas no terreno da controvérsia.

- O que é que fazem, então? – perguntou.

- A missão do policial-filósofo – respondeu o homem de azul – é mais arriscada e mais sutil do que a do simples detetive. O detetive comum vai às cervjarias capturar ladões; nós nos dirigimos ao sarau artístico para descobrir pessimistas. Através das páginas de registros contábeis, os detetives comuns descobrem que se cometeu uma fraude. Nós, através de um livro de sonetos, descobrimos que um crime está para ser cometido. Temos que seguir desde a origem a pista daqueles pensamentos terríveis que conduzem os homens ao fanatismo intelectual e, por fim, ao crime intelectual.

- Quer dizer – inquiriu Syme – que há realmente tal conexão entre o crime e a intelectualidade moderna?

- Nós negamos a presunçosa concepção inglesa de que os criminosos perigosos são os sem educação. Lembramo-nos dos imperadores romanos, dos príncipes envenenadores da Renascença, e dizemos que o criminoso mais perigoso é o culto. Afirmamos que o mais temível destes tempos é o filósofo moderno, sem o mínimo de respeito pela lei. Comparados a ele, arrombadores e bígamos são homens de moralidade perfeita. Aceitam o ideal essencial do homem, só que o buscam erroneamente. Os ladrões respeitam a propriedade, apenas desejam que ela se torne sua, a fim de a poderem respeitar melhor. Mas os filósofos detestam a propriedade na sua essência, querem destruir a própria ideia de possessão pessoal. Os bígamos respeitam o casamento, caso contrário não se sujeitariam à formalidade, altamente cerimoniosa e até ritual, da bigamia. Mas os filósofos desprezam o casamento por ser casamento. Os assassinos respeitam a vida humana, somente desejam atingir neles próprios uma maior plenitude dela pelo sacrifício do que lhes parece serem vidas inferiores. Mas os filósofos odeiam a vida em si, tanto a própria como a dos outros.

Syme pôs-se a bater palmas.

- Isso é verdade! – bradou. – Tenho pensado assim desde a infância, mas nunca fui capaz de exprimir tão bem. O criminoso vulgar é um homem mau, mas ao menos é, se assim se pode dizer, um homem condicionalmente bom. Desde que um determinado obstáculo – um tio rico, por exemplo - seja removido, está pronto a aceitar o mundo tal qual ele é e a louvar a Deus. É um reformador, mas não um anarquista. Quer limpar o edifício, mas não destruí-lo. O filósofo pernicioso não deseja alterar as coisas, mas sim aniquilá-las.

- Mas isto é absurdo! - gritou o polícial, apertando as mãos uma na outra, com uma excitação invulgar em pessoas do seu físico e uniforme. - Mas isto é intolerável! Não sei o que faz, mas está decerto desperdiçando a sua vida. Você deve, com urgência, alistar-se no nosso exército especial para lutar contra a anarquia. Os exércitos dos nossos inimigos estão nas nossas fronteiras. Eles estão apertando o cerco. Um momento mais e pode perder a glória de trabalhar conosco, talvez a glória de morrer com os últimos heróis do mundo!

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Sobre o voto não-obrigatório

Ontem li um artigo numa revista que falava sobre a não-obrigatoriedade do voto. O articulista exaltava a possibilidade de implantar-se o voto não-obrigatório no Brasil. O texto enfatizava uma série de vantagens virtuosas para o povo. Porém esqueceu-se o articulista de ressalvar as devidas diferenças entre os países, principalmente em relação ao nível de instrução da população.

A democracia é o melhor meio que encontramos para escolher nossos representantes e o voto obrigatório é a melhor forma de um povo carente de educação exercer a democracia, pois, não estando capacitados para fazerem escolhas conscientes, a obrigatoriedade de votar é uma maneira de distribuir uniformemente a culpa do erro ou o mérito do acerto nas escolhas.

O voto é o meio pelo qual elegemos, e sua obrigatoriedade é o meio pelo qual nos responsabilizamos individualmente pela escolha que fizemos.

A não-obrigatoriedade do voto é uma prerrogativa que só um povo com determinado nível de educação pode usufruir, pois a liberdade sem consciência das próprias responsabilidades torna-se anárquica.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

A razão é dominada pelos sentimentos

Dostoievski

As naturezas das pessoas não são todas iguais; para muitas, uma conclusão lógica é subjugada por um sentimento fortíssimo que domina todo o seu ser e que é muito difícil de expulsar ou transformar. Para curar uma pessoa assim, é preciso modificar tal sentimento, o que apenas é possível substituindo-o por outro, de força igual. Isso é sempre difícil e, em muitos casos, impossível.