“Contenham esse avanço... Façam qualquer coisa, por menor que seja... Mantenham aberta ainda que seja uma só porta dentre cem, pois conquanto que tenhamos pelo menos uma porta aberta, não estaremos numa prisão.”
(G.K.C)

domingo, 19 de abril de 2009

O burro e a burocracia

Pe. Antônio Vieira

Deus, inteligentemente, criou o burro, e o homem, burramente, inventou a burocracia.

O burro, na sua habitual pachorrice, não conhece a burocracia. Anda, segundo o velocímetro que Deus imantou nas suas entranhas e nos seus nervos. Não tem pressa. Não atropela. Não engarrafa o trânsito. Quando lhe pões nas costas carga superior às suas forças, ele emburra.

Emburrar, na linguagem dos muares, significa protestar, reclamar, pedir misericórdia, embora a semântica dos homens entenda diferente. Como os homens não aceitam contestação, nas suas injúrias, quanto mais de burro, emburram contra o indefeso animal com pancadaria, e todas as judiarias animalescas ou extra-animalescas, porque, afinal de contas, os irracionais não são tão brutais como os homens.

O burro é mais inteligente funcionalmente que o homem. Não artificializa a vida. O mal do homem é querer corrigir a ordem divina das coisas. Começa pela imbecilidade de haver fabricado o relógio, na presunção de que o relógio pode controlar o tempo. O burro, porém, obedece ao relógio do tempo. Se é noite, ele dorme. Se é dia, ele pasta. Não altera a ordem natural das coisas, e a um animal inteligente assim, ainda chamam de burro.

O burro não sofre das doenças do homem civilizado, do homem cronometrado: taquicardia, hipertensão, gastrite, colesterol, stress, doenças venéreas, depressão moral e psíquica, distonia vascular e outras.

Todos os ataques que o homem civilizado sofre, se deve precisamente a toda essa organicidade técnica e burocrática, a que se impôs como critério de norma de eficiência.

Um comentário:

Ismael Patriota disse...

adoro o Vieira...ele tem uns insights muito bons!