“Contenham esse avanço... Façam qualquer coisa, por menor que seja... Mantenham aberta ainda que seja uma só porta dentre cem, pois conquanto que tenhamos pelo menos uma porta aberta, não estaremos numa prisão.”
(G.K.C)

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Um pouco sobre Chesterton

Por Agnon Fabiano

Nem filósofo, nem teólogo nem místico, entretanto um pouco disso tudo e algo mais, Gilbert Keith Chesterton, G. K Chesterton ou simplesmente “G.K”, como os amigos o chamava, foi uma figura peculiar. Conhecido com “o príncipe do paradoxo”, era um homem afetuoso, distraído e bem-humorado. Com seus 2,09m de altura e pesando 140kg, Chesterton transformava qualquer ambiente em um lugar divertido. Certa vez seu contemporâneo Franz Kafka comentou: "Ele é tão alegre que parece ter encon­trado o próprio Deus!". Era tão gigantesco e admirável que o chamaram de “monumento andante de Londres”, e em uma ocasião durante um banquete em sua homenagem, Bernard Shaw, no momento dos discursos, falou: “Tão elegante é nosso homenageando, senhores, que nesta mesma manhã deixou seu assento no bonde a três senhoras”.

Tão natural como sua extravagância física era sua jovialidade intelectual, suas tiradas espirituosas. Qualquer argumento poderia ser convertido por ele, automaticamente, em um deslumbrante passe de mágica. Sua abordagem era diferente: ele caminhava até o centro da ponte pênsil, esbravejava um desafio a qualquer guerreiro mais ousado e, então, levava todos às gargalhadas. Era o mesmo homem alegre e descontraído, estivesse num parque de diversões ou num debate com Shaw, Wells ou Bertrand Russel. Em certo debate com Shaw, em 1927, transmitido pela BBC de Londres, por exemplo, havia uma multidão para assistir, mas as dependências do Kingsway Hall não comportavam tanta gente, de modo que uma parte considerável ficou do lado de fora. O humor e as tiradas divertidas de Chesterton fizeram com que o público externo, não resistindo às gargalhadas de quem estava dentro, arrebentasse as portas para entrar no recinto. Semelhante debate ocorreu em 1935 com Bertrand Russel, onde Chesterton deixou o famoso matemático e filósofo quase sem resposta para muitas de suas lúcidas indagações. Normalmente chegava atrasa­do, ajustava os óculos pincenê para perscrutar suas anota­ções rabiscadas num punhado de papéis e passava a entreter o público, rindo alto das próprias graças e piadas. Quase sempre ganhava o público com seu charme arrasador e celebrava levando o oponente vencido ao pub mais próximo.

Nas palavras de Philip Yancey, Chesterton era um cristão que “Desatou sua mente em vez de contê-la, que combinavam um sabor de sofisticação com a humildade que ele não exigia dos outros e, acima de tudo, que havia experimentado a vida com Deus como uma fonte de alegria, não de repressão [....]. Conseguia apresentar a fé cristã com mais humor, bom ânimo e força intelectual do que qualquer outro no século passado. Com o mesmo zelo de um soldado na defesa do último reduto, ele encarava feras como Shaw, H. G. Wells, Sigmund Freud, Karl Marx e qualquer outro que ousasse explicar o mundo sem considerar Deus e sua Encarnação". T. S. Eliot julgou que Chesterton "fez mais que qualquer de seus contemporâneos [....] para sustentar a existência desta minoria importante para o mundo moderno”.

Como se quisesse compensar-lhe da monstruosa corpulência que levantou sobre seus pés, o Criador dotou o cérebro de Chesterton com o mais ágil, flexível e agudo entendimento que nenhum outro de seus contemporâneos possuiu. C. S. Lewis, o maior apologeta do século XX, em sua autobiografia, diz que Chesterton “era mais sensato que todos os outros modernos juntos, [....] seu humor é do tipo que mais me agrada – não piadas incrustadas na página como passas num bolo, e menos ainda (o que nem consigo suportar) um tom genérico de irreverência e jocosidade; mas o humor que não é de modo nenhum separável do argumento, e sim (como diria Aristóteles) a ‘florescência’ na própria dialética. Como uma espada que brilha não porque o espadachim decide fazê-la brilhar, mas porque está lutando pela sua vida, e, portanto, movimentando-a agilmente”.

Escreveu mais de 4.000 artigos para jornais e mais de 100 livros e aproximadamente 200 contos, quase todos ditados para sua secretária Dorothy. Praticamente não precisava revisar o que havia criado.

A agudeza e mordacidade intelectual, que o transformava em um inimigo terrível, se uniam em sua imensa caridade, bondade e afetuosidade, que lhe convertia no mais doce dos amigos. De sua amizade, desfrutavam muitos daqueles com quem ele debatia em público. Shaw o definirá como “um ‘querubim gigantesco’, um menino disfarçado de adulto”.

Faleceu em 14 de junho de 1936 de insuficiência cardíaca. Suas últimas palavras foram dirigidas a sua esposa Frances (“Olá, carinho”) e a sua secretária Dorothy (“Olá, querida”) nos momentos em que acorda do coma em que estava. Termina a vida com a mesma alegria com que começou. Por uma estranha coincidência, na mesma hora em que falecia Gilbert Keith Chesterton, Bernard Shaw anunciava, em Newcastle, que não falaria mais em público. Com estes dois mosqueteiros, que tantas vezes mediram suas armas dialéticas, o espetáculo dos debates perdeu, na Inglaterra, seus dois mais hábeis, tenazes e fantásticos combatentes.

O mundo que perdeu Chesterton não avaliou a justa medida do que perdia. Agora, os que o encontram começam a se admirar com o que "descobriram".

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Anarquia

Chesterton

O anarquismo nos estimula a ser artistas criativos arro­jados e a não dar atenção alguma a leis e limites. Mas é impossível ser artista e não dar atenção a leis e limites. A arte é limitação; a essência de todos os quadros é a moldu­ra. Se você desenha uma girafa, deve desenhá-la de pesco­ço comprido. Se, dentro do seu método criativo arrojado, você se julgar livre para desenhar uma girafa de pescoço curto, de fato descobrirá que não está livre para desenhar uma girafa. No momento em que se entra no mundo dos fatos, entra-se no mundo dos limites. Pode-se libertar as coisas de leis externas ou acidentais, mas não das leis da sua própria natureza. Você pode, se quiser, libertar um ti­gre da jaula; mas não pode libertá-lo de suas listras. Não liberte o camelo do fardo de sua corcova: você o estaria libertando de ser um camelo. Não saia por aí feito um de­magogo, estimulando triângulos a libertar-se da prisão de seus três lados. Se um triângulo se libertar de seus três la­dos, sua vida chega a um desfecho lamentável.

A anarquia completa não apenas impos­sibilitaria a existência de qualquer disciplina ou fidelidade; também impossibilitaria qualquer divertimento.
Para dar um exemplo óbvio, não valeria a pena apostar se a aposta não criasse obrigações. A dissolução de todos os contratos não só destruiria a moralidade, mas também acabaria com as apostas. Ora, apostas e jogos dessa natu­reza são apenas formas atrofiadas e distorcidas do instinto original do homem por aventura e romance [....] E perigos, recompensas, puni­ções e realizações de uma aventura precisam ser reais, caso contrário a aventura é apenas um pesadelo incerto e cruel.

Se eu aposto, devo ser obrigado a pagar, ou então não existe poesia na aposta. Se eu desafio, devo ser obrigado a lutar, ou não haveria poesia no desafio. Se eu prometo fi­delidade, devo ser amaldiçoado quando sou infiel, caso contrário não há graça na promessa. Não se poderia criar nem um conto de fadas a partir das experiências de um homem que, quando fosse engolido por uma baleia, pu­desse ir parar no alto da Torre Eiffel, ou quando fosse transformado num sapo, pudesse comportar-se como um flamingo.

Até mesmo para os propósitos do romance mais maluco os resultados precisam ser reais; os resultados precisam ser irrevogáveis. O casamento cristão é o grande exemplo de um resultado real e irrevogável; e é por isso que ele é o prin­cipal assunto e centro de todos os textos românticos. E este é o meu último exemplo das coisas que eu exigiria, e exigiria de modo imperativo, de qualquer paraíso social; eu exigi­ria ser obrigado a cumprir o meu contrato, a levar a sério os meus juramentos e compromissos...

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Nosso modo de viver

"Uma busca contínua pelas razões abstratas das coisas, um questionamento perpétuo de tudo que os homens têm como certo, cinqüenta anos ruminando sobre a ignorância inevitável e um constante olhar atento sobre o mundo obscuro da ciência e da vida diária – é esse o melhor modo de vida para temperamentos como os nossos?"
C. S. Lewis

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Dá pra entender?

Eu: Então você é uma daquelas pessoas que acredita que a verdade é relativa?
Fulano: Sim.
Eu: Você tem certeza disso?
Fulano: Absoluta.