“Contenham esse avanço... Façam qualquer coisa, por menor que seja... Mantenham aberta ainda que seja uma só porta dentre cem, pois conquanto que tenhamos pelo menos uma porta aberta, não estaremos numa prisão.”
(G.K.C)

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

O be-a-bá do pensamento

Chesterton

O que as pessoas de hoje em dia precisam entender, é simplesmente que todo o argumento começa com uma suposição; isto é, com algo que você não duvida. Você pode, claro, se for de seu interesse, duvidar da suposição inicial do seu argumento, mas neste caso você está começando um argumento diferente com uma outra suposição inicial. Todo argumento começa com um dogma infalível, e tal dogma infalível só pode ser questionado recorrendo a algum outro dogma infalível; você nunca pode provar a sua primeira declaração ou esta não seria a sua primeira. Tudo isto é o be-a-bá do pensamento.

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Só alguém que não conhece nada de automóveis pode falar em automobilismo sem combustível; só alguém que não conhece nada da razão pode falar em raciocínio sem sólidos e indisputáveis primeiros princípios.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Mortimer Adler e "A arte de ler"


Andei revirando minhas estantes em busca de um livro de George Orwell e acabo dando de frente com "A arte de ler" de Mortimer Adler, livro raríssimo, com edição datada de 1974. Depois disso, sumiu da pauta das editoras, até que a Francisco Alves imprimiu pouquíssimas unidades em 2000, com o nome "Como ler um livro", cuja sorte permitiu-me também adquirir por um bom preço.

Abri, dei uma olhada nas minhas anotações marginais, folheei, li algumas marcações e pensei: "Por que se deixa um livro como esse tornar-se raro? Como as vozes que controlam o sistema educacional brasileiro deixam essa obra revolucionária sumir? Por que Mortimer Adler é um nome estranho nesse país, enquanto tornou-se uma espécie de símbolo da paideia americana e européia?"

Fui ao Google atrás de fotos do autor e eis que, sem intenção, encontro Olavo de Carvalho respondendo meus questionamentos:

"Fala-se muito, hoje, em educação para a cidadania. Mas só há duas maneiras de formar o cidadão: a educação liberal e a manipulação ideológica. Ou o sujeito aprende a absorver os dados da 'grande conversação' entre os espíritos superiores de todas as épocas e a tomar posição sabendo do que fala, ou aprende a falar direitinho como seus mestres mandaram, usando os termos com a conotação que desejam, segundo os interesses dominantes do dia. A opção brasileira está feita. Por isso, neste país, poucos souberam da vida ou da morte de Mortimer J. Adler".

Era justamente o que eu estava pensando.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Declínio da leitura

Allan Bloom
Quando reparei pela primeira vez no declínio da leitura, no final da década de 60, passei a perguntar às minhas enormes turmas dos anos preliminares, e a grupos de alunos mais novos, que livros realmente contavam para eles. A maioria ficava em silêncio, embaraçada com a pergunta. Para eles, era estranha a noção de livros como companheiros.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

O livre-pensador

Chesterton
Hoje em dia, com frequência, lemos sobre a bravura e a audácia com que alguns rebeldes atacam a antiga tirania ou uma superstição antiquada. Não há qualquer coragem em atacar coisas velhas e antiquadas, não mais do que em se oferecer para combater a avó de alguém. O homem verdadeiramente corajoso é aquele que desafia tiranias jovens como a manhã, e superstições frescas como as primeiras flores. O único e verdadeiro livre pensador é aquele cujo intelecto é tão livre do futuro quanto do passado. Ele se importa tão pouco com o que será quanto com o que foi; ele se importa apenas com o que deveria ser.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Intelectualidade e orgulho


Poucas coisas no mundo enchem mais o homem de orgulho e prepotência do que a intelectualidade. O super-homem de Nietzsche e de Shaw é um bom exemplo. O homem que despreza o “fraco”, ou melhor, que lhe dá atenção, a fim de eliminá-lo. Precisamos de mais intelectuais humildes, que notem o estranho fato de que quem olha como superior, de cima para baixo, não pode ver o que está acima dele.

Leis, regras, disciplina

Em um de seus livros, Chesterton diz que a maior parte da liberdade moderna tem sua raiz no medo. “Ao contrário do que se possa pensar, não é que somos corajosos demais, a ponto de não nos submetermos às leis; é que somos muito medrosos para nos submeter às responsabilidades”. Esta é uma daquelas verdades que só é percebida por alguém que parece estar sentado numa estrela fixa, observando de longe o redemoinho do mundo.

De fato, a liberdade que se reivindica hoje é uma espécie de “licença poética” para viver. No entanto, não é uma licença para adicionar um pouco de criatividade às regras, e sim para desprezar as regras.

Parece um paradoxo, mas “qual a vantagem de dizer à comunidade que ela tem toda a liberdade, exceto a liberdade de fazer regras? A liberdade de fazer regras é o que constitui um povo livre”. Nos lugares mais ecléticos, não posso dar minha opinião, pois o que penso pode ofender alguém, por causa da diversidade de pessoas. Já aprendi que os defensores da tolerância são intolerantes. A “liberdade” deles é opressora e reprime qualquer comportamento “diferente”. O que chamam “liberdade de expressão”, significa que não se deve tocar na maioria assuntos relevantes.

“Eu jamais poderia conceber ou tolerar nenhuma utopia que não me deixasse a liberdade que mais prezo, a liberdade de me obrigar”. O mundo moderno esqueceu que as leis são o que mantém a liberdade do homem. Preferiu engolir a fantasia de que as leis transformam os homens em escravos e servos. Não me importa se querem chamar as regras e a disciplina de servidão, mas “alguém dirá que haja homens mais fortes do que os de antigamente que foram dominados por sua filosofia e impregnados por sua religião? Se a servidão é melhor que a liberdade é uma questão a ser discutida. Mas que a servidão deles fez mais que nossa liberdade será difícil negar”.

Em pouco tempo, da maneira que estamos caminhando, perderemos não só a disciplina, mas também qualquer divertimento, pois “se eu aposto, devo ser obrigado a pagar, ou então não existe poesia na aposta. Se eu desafio, devo ser obrigado a lutar, ou não haveria poesia no desafio. Se eu prometo fidelidade, devo ser amaldiçoado quando sou infiel, caso contrário não há graça na promessa. [....] A dissolução de todos os contratos não só destruiria a moralidade, mas também acabaria com as apostas. Ora, apostas e jogos dessa natureza são apenas formas atrofiadas e distorcidas do instinto original do homem por aventura e romance. [....] E perigos, recompensas, punições e realizações de uma aventura precisam ser reais, caso contrário a aventura é apenas um pesadelo incerto e cruel”.

“A doutrina e a disciplina podem ser muros; mas são os muros de um pátio de recreio”.