“Contenham esse avanço... Façam qualquer coisa, por menor que seja... Mantenham aberta ainda que seja uma só porta dentre cem, pois conquanto que tenhamos pelo menos uma porta aberta, não estaremos numa prisão.”
(G.K.C)

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

sábado, 16 de janeiro de 2010

A estupidez moderna

Gustavo Corção

O século XIV foi o sombrio e tumultuoso século da peste negra, da guerra de cem anos e da fragorosa ruína da civilização cristã. Nosso bravo século XX, em lugar da sombria nuvem pestífera que pairou cem anos sobre a cristandade agonizante, está sendo flagelado por uma outra nuvem, não menos sombria: a da estupidez satisfeita e otimista.

A multiplicação dos meios de informação em prejuízo dos meios de formação permite uma ilusão de saber, que é uma das formas mais impertinentes da tolice. Todo mundo pensa que sabe o que leu nas notícias ou viu na TV. Lendo a ida do homem à Lua, engolindo o fato, o farelo, a cinza, qualquer um se sente participante da coragem dos astronautas, quando na verdade ele não passa de um espectador que, de chinelo e pijama, engole voluptuosamente a informação que em nada eleva a sua inteligência nem purifica a sua vontade.

sábado, 9 de janeiro de 2010

Um diálogo entre Boris Casoy e Gustavo Corção

Um diálogo interessante, se pudesse ter acontecido, me veio ao pensamento ao ver o "incidente" ocorrido no Jornal da Band no primeiro dia do ano. O jornalista Boris Casoy fez um comentário mais do que infeliz, que se tornou público por uma falha técnica que deixou "vazar" o áudio do seu microfone enquanto passava-se para o intervalo.

Boris Casoy:


"Que merda: dois lixeiros desejando felicidades... do alto de suas vassouras... dois lixeiros... o mais baixo da escala do trabalho..."


Corção, na semana do gari, em 1980, escreveu no jornal o seguinte:

Gustavo Corção:


"[O gari é] seu irmão varredor que você de longe vê na sua roupa de fogo desbotado a tentar uma façanha maior do que as famosas de Hércules: limpar os caminhos dos homens".


Corção foi um dos maiores intelectuais que o Brasil já teve. Falando sobre sua antiga profissão de fiscal de lixeiros, ele comenta:

"[....] em vez de acompanhá-lo de longe como fiscal, acompanha-lo-ia de perto como lixeiro suplente ou como amigo. E assim as quatro horas de serviço encurtaram para nós ambos porque íamos andando e conversando.

[....] filosofávamos; e enquanto o burrico obediente ia arrastando devagar as sobras, os detritos e as sujeiras de uma longa rua adormecida, nós dois, irmãos pelo lixo, conversávamos sobre as coisas simples e luminosas que são os assuntos irresistíveis de todas as almas eternizadas pela humildade e pela pobreza.

Se a coluna das quintas e sábados não tivesse seus limites [....] todo o papel do jornal seria pouco para patentear a gratidão que carrego por tudo o que vi e ouvi e pelo que recebi de todos, a começar pelos humildes companheiros de perambulantes e fedorentas matinas".

Quantos vazamentos de áudio serão necessários para conhecermos aqueles em que confiamos para nos informar sobre o que acontece no mundo?