“Contenham esse avanço... Façam qualquer coisa, por menor que seja... Mantenham aberta ainda que seja uma só porta dentre cem, pois conquanto que tenhamos pelo menos uma porta aberta, não estaremos numa prisão.”
(G.K.C)

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Verdades lógicas e Verdades ilógicas



O verdadeiro problema com este nosso mundo não é que se trata de um mundo ilógico, nem tampouco de um mundo lógico. O problema mais comum é que se trata de um mundo quase lógico, mas não totalmente. A vida não é um ilogismo; todavia, é uma cilada para os lógicos. Parece simplesmente um pouco mais matemática e regular do que é; sua exatidão é óbvia, mas sua inexatidão está escondida; sua loucura está à es­preita. Vou dar um exemplo grosseiro do que quero dizer. Suponhamos que alguma criatura matemática prove­niente da lua examinasse o corpo humano; ela imediata­mente veria que o fato essencial nesse caso é que o corpo é duplicado. Um homem contém dois homens: um à direita que se parece exatamente com outro à esquerda. Depois de notar que há um braço do lado direito e outro do lado esquerdo, uma perna à direita e outra à esquerda, ela po­deria ir adiante e ainda encontrar de cada lado o mesmo número de dedos nas mãos, o mesmo número de dedos nos pés, dois olhos, duas orelhas, duas narinas e até dois lobos do cérebro. No mínimo ela tomaria o fato como lei; e depois, quando encontrasse um coração de um lado, ela deduziria a presença de outro coração do outro lado. E exatamente nesse momento, no ponto em que se sentisse mais segura de estar certa, ela estaria errada.

É esse silencioso desvio milimétrico da precisão que cons­titui o elemento misterioso presente em tudo. Parece uma espécie de traição secreta do universo.

[...]

Ora, essa é exatamente a reivindicação que venho fa­zendo para o cristianismo. Não simplesmente que ele de­duz verdades lógicas, mas que quando de repente se torna ilógico, ele encontrou, por assim dizer, uma verdade ilógi­ca. Ele não apenas acerta em relação às coisas, mas tam­bém erra (se assim se pode dizer) exatamente onde as coisas parecem erradas. Seu plano se adapta às irregularidades ocul­tas e espera o inesperado. É simples no que se refere à ver­dade sutil. Admite que o homem tem duas mãos, mas não admite (embora todos os modernistas lamentem o fato) a dedução óbvia de que tenha dois corações.

... quando sentimos a existência de algo estranho na teologia cristã, geralmente vamos descobrir que existe algo estranho na verdade.

[...]

Isso é o que chamei de adivinhar as excentricidades ocul­tas da vida. Isso é saber que o coração do homem está à esquerda e não no meio. Isso é saber não apenas que a Ter­ra é redonda, mas também exatamente onde ela é achata­da. A doutrina cristã detectou as esquisitices da vida. Ela não apenas descobriu a lei, mas previu as exceções.
Ortodoxia - G. K. Chesterton

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Meus limites, minha felicidade



Todos os psicólogos têm em comum a mesma receita para a felicidade humana: uma relação proporcional entre nossos desejos e nossas capacidades. “Quanto mais imaginarmos nosso sucesso, mais capaz tornamo-nos para alcançá-los”, dizem eles. Porém, a melhor maneira de amar algo é dar-se conta de que podemos perdê-lo. Ao contrário da obsessiva auto-afirmação que constitui a receita dos psicólogos e à crença moderna, esta máxima conduz à humildade como fonte de plenitude pessoal. O homem pode imaginar êxitos quase ilimitados, porém só quando descobre e aceita os limites de sua condição é que poderá ter satisfação na vida. Querer abarcar tudo e ser tudo, só trás frustração. A imaginação é o fermento da inteligência, mas manipulá-la para o auto-engano de que nossa força mental pode fazer com que o mundo se adapte aos nossos desejos não é saudável. Parafraseando Chesterton, se você quer ter felicidade ilimitada, ponha limites a ela, ainda que por um só momento. Quer perceber o quão magnífico é poder enxergar as coisas, feche os olhos.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

A (i)moralidade


Palavras em vez de reflexão, eis a falácia moderna para objetar aos antigos ideais.

Tomemos “reflexão” num sentido positivo, como sendo um pensamento que foi cuidadosamente considerado. O problema do homem moderno é, por não refletir, fazer oposições usando suas fraseologias, que não dá nenhum subsídio para se chegar à verdade. Como já citei em outro momento “As pessoas não conhecem a fundo o mundo em que vivem e, por essa razão, acreditam, cegamente, em meia-dúzia de máximas cínicas que estão longe de ser a expressão da verdade” (Chesterton).

Quando ouço algo do tipo: “mas meu amigo, estamos no século XXI...”, fico consternado, vendo, diante de mim, aquele palavreado sem reflexão, pois em que ele me explica o fato? E quando se aventuram a explicar, apenas conseguem mostrar argumentos debilitados sem inferências lógicas, que nos induz apenas a uma conclusão: não sabem o que dizem. Gostaria muito de uma exposição plausível do motivo pelo qual devemos abandonar os antigos valores ético-morais e abraçarmos a maneira “moderna” de viver.

Existe uma ala de pessoas bem informadas, que são os defensores da teoria da evolução, que, dia após dia, contribuem para essa ética moderna, pois sendo o homem um produto do meio, a adaptação sugere o relativismo moral. Seria normal se as condutas não-morais de hoje fossem as verdades de amanhã. Tudo dependeria da questão de sobrevivência. Porém, nem mesmo essa ala, com homens de conhecimento e renome, não nos dão qualquer explicação aceitável para consentirmos com o relativismo ético. Tornam-se, muitas vezes, até contraditórios, pois “todas as tentativas de tratar o pensamento como um evento natural, envolvem a falácia de excluir o pensamento do indivíduo que faz a tentativa... As forças que desacreditam a razão, elas próprias dependem da razão” (Lewis), é como se tentasse provar que todas as provas são inválidas.

A liberdade atual se baseia no medo, pois somos covardes demais para assumirmos nossas responsabilidades e, por isso, como citei há alguns dias, inventamos novos ideais, porque não ousamos atingir os antigos.

“Se me faz feliz, então devo praticar”, esse é o lema da modernidade, mas se esquecem que cada um de nós tem causas individuais de felicidade. Sinto-me feliz ao escutar Mozart nas alturas, enquanto meu vizinho odeia música clássica e som alto. “Você tem que se soltar”, quem nunca ouviu isso, quando nos negamos a acompanhar certos atos? E os desejos reprimidos de Freud? Esquecem-se que a capacidade de praticar tudo aquilo que me faz feliz é a capacidade de fazer com que os outros me façam feliz, mesmo sendo injusto com eles.

domingo, 6 de abril de 2008

Atitude moderna

O futuro é uma parede branca onde qualquer um pode escrever seu nome tão grande quanto queira (...). Posso fazer o futuro tão pequeno como eu mesmo o sou: já o passado é por força tão largo e turbulento como a humanidade. O resultado final da atitude moderna é realmente este: os homens inventam novos ideais por não ousarem atingir os antigos. Olham para frente com entusiasmo, porque têm medo de olhar para trás (...). O homem só acha a vida entre os mortos. O homem é um mostro disforme, que tem os pés virados para a frente e o rosto para trás. Está nas suas mãos fazer um futuro exuberante e gigantesco, desde que pense no passado.

"Três Alqueires e uma Vaca" - Gustavo Corção
(Grifos meus)

sábado, 5 de abril de 2008

Homem ou coelho?


Pode-se ter uma boa vida sem se acreditar no cristianismo? Esta é a questão sobre a qual me pediram para escrever e, imediatamente antes de tentar respondê-la, tenho um comentário a fazer. A questão parece ter sido formulada por uma pessoa que diz a si própria, “Não me importo se o cristianismo é ou não verdadeiro. Não estou interessado em descobrir se o universo real é mais parecido com o dos cristãos ou com o dos materialistas. Tudo em que estou interessado é em ter uma vida boa. Vou escolher minhas crenças não porque as penso verdadeiras mas porque as considero úteis.” Francamente, acho difícil alguém simpatizar com esse estado mental. Uma das coisas que distingue o homem de outros animais é que ele quer conhecer as coisas, quer descobrir o que é a realidade, simplesmente por conhecer.[1] Quando esse desejo é, em alguém, completamente sufocado, penso que esse alguém tenha se tornado algo menos que um homem. De fato, não acredito que nenhum de vocês tenha perdido esse desejo. Muito provavelmente, pregadores tolos, ao sempre dizerem o quanto o cristianismo ajudará a vocês e o quanto ele é bom para a sociedade, tenham levado vocês a esquecerem que o cristianismo não é um comprimido que se toma para algum mal. O cristianismo alega ter uma explicação para fatos – alega poder dizê-los o que é o universo real. Sua explicação sobre o universo pode ser verdadeira, ou pode não ser, e uma vez que a questão está à sua frente, então sua natural curiosidade deve fazê-los querer conhecer a resposta. Se o cristianismo não é verdadeiro, então nenhum homem honesto desejará nele acreditar, não importa o quão útil ele seja: se ele é verdadeiro, cada homem honesto desejará nele acreditar, mesmo se isso não o ajudar de forma alguma.

Tão logo percebemos isso, percebemos algo mais. Se o cristianismo for verdadeiro, então é muitíssimo improvável que aqueles que nele acreditam e aqueles que nele não acreditam estejam igualmente equipados para ter uma boa vida. O conhecimento dos fatos deve fazer diferença para as ações realizadas. Suponha que você encontre um homem a ponto de morrer de fome e queira fazer algo de bom para ele. Se você não tivesse nenhum conhecimento da ciência médica, você iria, provavelmente, dar a ele uma grande quantidade de comida sólida; e, como resultado, seu homem morreria. Isso é o que significa agir no escuro. Da mesma forma, um cristão e um não-cristão devem, ambos, desejar fazer o bem a outros homens. Um deles acredita que os homens são eternos, que eles foram criados por Deus e, de tal forma, que eles só podem encontrar sua verdadeira e permanente felicidade na união com Deus, que eles se perderam terrivelmente no caminho, e que a fé obediente em Cristo é o único caminho de volta. O outro acredita que os homens são um resultado acidental do trabalho cego da matéria, que eles começaram como meros animais e, mais ou menos, evoluíram permanentemente, que eles irão viver por volta de setenta anos, que sua felicidade é totalmente atingida por meio de bons serviços sociais e por organizações políticas, e que tudo o mais (p. ex., vivisseção, controle de natalidade, o sistema judicial, educação) deve ser avaliado como “bom” ou “mau” simplesmente na medida em que ajuda ou atrapalha aquele tipo de “felicidade”.

Ora, há muitas coisas que esses dois homens concordam em fazer para seus semelhantes. Ambos aprovariam sistemas de esgoto e hospitais eficientes e uma dieta saudável. Mas, cedo ou tarde, a diferença de suas crenças produziria diferenças em seus propósitos práticos. Ambos, por exemplo, poderiam ser muito preocupados com a educação: mas os tipos de educação que eles desejariam para o povo seria obviamente muito diferentes. Onde o materialista perguntaria, a respeito de uma proposta de ação, apenas se “Ela aumentaria a felicidade da maioria?”, o cristão teria a dizer, “Mesmo que ela aumente a felicidade da maioria, não podemos realizá-la. Ela é injusta.” E todo o tempo, uma grande diferença atravessaria todas as suas políticas. Para o materialista, as coisas como nações, classes, civilizações devem ser mais importantes que os indivíduos, porque os indivíduos vivem, cada um, míseros setenta anos e o grupo pode durar séculos. Mas para o cristão, indivíduos são mais importantes, pois eles vivem eternamente; e raças, civilizações etc. são, em comparação, criaturas de um dia.

O cristão e o materialista têm crenças diferentes sobre o universo. Eles não podem estar ambos certos. Quem estiver errado agirá de uma forma que não se adequa ao universo real. Conseqüentemente, com a melhor das boas intenções do mundo, ele estará ajudando seus semelhantes a se destruírem.

Com a melhor das boas intenções do mundo ... então não será culpa sua. Certamente Deus (se houver um Deus) não punirá um homem pelos seus erros “honestos”? [2] Mas isso era tudo o que você pensava? Você está preparado para correr o risco de trabalhar no escuro em toda a sua vida e fazer um infinito mal, desde que alguém nos assegure que nossa própria pele estará a salvo, que ninguém nos punirá ou nos culpará? Não acreditarei que o leitor está neste nível. Mas mesmo se estiver, há algo a ser dito.

A questão diante de nós não é “Alguém pode ter uma boa vida sem o cristianismo?”. A questão é, “Você pode?” Todos sabemos que tem havido bons homens que não foram cristãos; homens como Sócrates e Confúcio que nunca ouviram falar de cristianismo, ou homens como J.S. Mill que muito honestamente não poderia nele acreditar. Suponha que o cristianismo seja verdadeiro. Esses homens estavam numa ignorância ou erro honesto. Se suas intenções fossem tão boas quanto suponho (pois, claro, não posso ler os segredos de seus corações) espero e acredito que a misericórdia de Deus remediará os males que suas ignorâncias, deixadas a si mesmo, naturalmente produziriam em si próprios e naqueles que eles influenciaram. Mas o homem que me pergunta, “Não posso viver uma boa vida sem acreditar no cristianismo?” não está na mesma posição. Se ele não tivesse tido notícia do cristianismo ele não estaria formulando essa questão. Se, tendo tido dele notícia, e o tendo considerado seriamente, ele tivesse decidido que ele não era verdadeiro, então, novamente, ele não estaria formulando a questão. O homem que formula a questão ouviu falar do cristianismo e não está certo, de forma alguma, de que ele não seja verdadeiro. Ele está realmente perguntando, “Será que eu preciso me preocupar com ele? Será que eu não posso apenas esquecer a coisa, sem cutucar a onça com a vara curta, e simplesmente me preocupar com a parte ‘boa’? Não são as boas intenções suficientes para me manter seguro e sem culpa, sem a necessidade de bater naquela temerária porta e ter de verificar quem estará, ou não, lá dentro?”

Para tal homem, pode ser suficiente responder que ele está realmente pedindo para ficar com a parte ‘boa’ antes de ele ter feito o melhor de si para descobrir o que ‘boa’ significa. Mas essa não é toda a estória. Não precisamos perguntar se Deus o punirá por covardia ou preguiça; ele próprio se punirá. O homem está se esquivando. Ele está tentando deliberadamente não saber se o cristianismo é verdadeiro ou falso, porque ele prevê problemas sem fim se ele se provar verdadeiro. Ele se parece com o homem que deliberadamente se ‘esquece’ de consultar a lista de tarefas do dia porque, se o fizesse, poderia encontrar seu nome relacionado a alguma tarefa desagradável. Ele se parece com o homem que não verifica sua conta bancária porque teme o que possa descobrir lá. Ele se parece com o homem que não vai ao médico quando uma misteriosa dor aparece, porque teme o que o doutor pode lhe contar.

O homem que permanece um incréu por tais razões não está na situação de um erro honesto. Ele está numa situação de erro desonesto, e essa desonestidade se difundirá por todos os seus pensamentos e ações: uma certa volubilidade, uma vaga preocupação no fundo de sua mente, um embotamento de toda a sua sutileza mental, resultará. Ele terá perdido sua virgindade intelectual. Rejeição honesta de Cristo, embora seja um erro, será perdoado ou curado – “Todo aquele que falar contra o Filho do Homem, ser-lhe-á dado perdão.” [3] Mas evitar o Filho do Homem, olhar para o outro lado, fazer de conta que você não O notou, ficar repentinamente absorvido com algo do outro lado da rua, deixar o telefone fora do gancho porque pode ser Ele do outro lado da linha – isso é uma coisa muito diferente. Você pode não estar certo ainda se deve ser um cristão; mas você sabe muito bem que deve ser um Homem, não uma avestruz, escondendo sua cabeça na areia.

Mas mesmo assim – pois a honra intelectual desceu a um nível muito baixo em nossos dias – escuto alguém lamuriando com a questão, “Ele me ajudará? Ele me fará feliz? Você pensa mesmo que minha situação melhorará se me tornar cristão?” Bem, se você precisa mesmo de minha resposta, ela é “Sim.” Mas eu não gostaria de dar uma resposta neste ponto. Eis aqui a porta atrás da qual, segundo alguns, o segredo do universo está esperando por você. Ou isso é verdade ou não é. E se não for, então o que a porta realmente esconde é simplesmente a maior fraude, a maior empulhação jamais registrada. Não é, obviamente, tarefa de todo homem (um homem, não um coelho) tentar descobrir o que está atrás da porta e, então, se devotar com todas as suas energias a obedecer e honrar esse tremendo segredo ou a expor e destruir essa gigantesca impostura? Desafiado por tal situação, poderá você permanecer totalmente absorvido com seu próprio abençoado ‘desenvolvimento moral’?

Certo, o cristianismo lhe fará bem – muito mais do que você alguma vez desejou ou esperou. E o primeiro pedacinho de bem que ele lhe fará é martelar em sua cabeça (e você não gostará disso!) o fato de que o que você até agora chamou de “bom” – tudo aquilo sobre “ter uma vida decente” e “ser bom” – não é bem o acontecimento magnificente e da maior importância que você supunha. Ele lhe ensinará que, de fato, você não poderá ser ‘bom’ (não por vinte e quatro horas) contando apenas com seus próprios esforços morais. E então ele lhe ensinará que mesmo que você pudesse, você ainda não teria atingido o propósito pelo qual foi criado. A mera moralidade não é o fim da vida. Você foi feito para algo muito diferente. J.S. Mill e Confúcio (Sócrates estava muito mais próximo da realidade) simplesmente não sabiam o que significa a vida. As pessoas que continuam a perguntar se não se pode ter uma vida decente sem Cristo, não sabe o que é a vida; se eles soubessem, eles saberiam que ‘uma vida decente’ é um mero mecanismo comparado com a coisa de que nós homens somos feitos. A moralidade é indispensável: mas a Vida Divina, que se dá a nós e que nos convida a ser deuses, planeja algo para nós em que a moralidade será nele absorvida. Temos de ser re-feitos. Todo o coelho que existe em nós desaparecerá – o coelho preocupado, escrupuloso e ético e também o covarde e sensual. Sangraremos e guincharemos na medida que punhados de pêlos forem arrancados; e então, surpreendentemente, descobriremos por sob o pêlo uma coisa que nunca antes imaginamos: um Homem real, um deus imemorial, um filho de Deus, forte, radiante, sábio, bonito e imerso em alegria.

“Mas quando vier o que é perfeito, será abolido o que é imperfeito” [4] A idéia de atingir ‘uma vida boa’ sem Cristo é baseada num duplo erro. Primeiramente, não podemos tê-la; e em segundo lugar, ao estabelecer ‘uma vida boa’ como nosso objetivo, perdemos a verdadeira razão de nossa existência. A moralidade é uma montanha que não podemos subir por nossos próprios esforços; e se pudéssemos, apenas pereceríamos no gelo e no ar irrespirável do cume, na falta daquelas asas com as quais o resto da jornada terá de ser empreendida. Pois é de lá que a ascensão real começa. As cordas e os machados ‘já eram’ e o resto é uma questão de voar.

Extraído do livro God in the dock [Deus no banco dos réus.] de C.S. Lewis.
(Grifos meus)

[1]A primeira frase da Metafísica de Aristóteles é “Πάντες ἄνθρωποι τοῦ εἰδέναι ὀρέγονται φύσει.” [Todos os homens têm, por natureza, desejo de conhecer.] (N. do T.)


[2]A expressão aqui é ‘honest error’ que tem a acepção de erro involuntário, mas também do produto de um esforço honesto de entendimento que, no entanto, está marcado pelo erro. (N. do T.)

[3] Lucas, XII, 10.


[4]I Cor. XIII, 10.


Fonte
: http://angueth.blogspot.com/2007/09/homem-ou-coelho.html

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Trilema, dilema e lema



Interessante como, às vezes, nos deixamos enganar com coisas tão simples. A ilogicidade (que palavra horrível!) nos passa despercebida. Por exemplo, ateus, agnósticos, cristãos, budistas, maometanos e tantos outros, são unânimes quanto ao valor moral dos ensinamentos de Jesus. Porém, nem todos (na verdade, poucos) aceitam algumas palavras ditas por Jesus, tais como:

“Eu e o Pai somos um.” (João 10:30)
“Quem me vê, vê aquele que me enviou.” (João 12:45)
“Vocês me chamam Mestre e Senhor, e com razão, pois eu o sou.” (João 13:13)

Ou seja, aceitam-no como um grande “mestre da moral”, mas não o aceitam como o próprio Deus.

É aí que entra a tal ilogicidade. Esse “mestre da moral” foi o mesmo que falou ser o próprio Deus. Esse “grande moralista” é também aquele que perdoava algo que sequer foi feito contra ele, mas contra outras pessoas. É o mesmo que dizia perdoar pecados (se é que você tem idéia do que isso significava naquela época).

Então entramos num trilema:

Ele era um louco, pois pensava que era Deus, mas não era.
Ele era um mentiroso, pois dizia ser Deus, sabendo que não era.
Ele realmente era Deus.

Então entra-se num dilema:

O que Jesus falava em relação à moral era verdade ou mentira?

Mentira? Então não há moral nenhuma no que ele disse, esqueçamos seus ensinos sobre o amor, a humildade, a caridade, etc.

Verdade? Então eis o nosso problema lógico, quando não aceitamos Jesus como Deus: o grande mestre da moral foi um louco ou mentiroso (já que não é reconhecido como Deus). Por que deveríamos acreditar nele? Acreditar num louco? Há loucos confiáveis, mas perceba que a loucura dele não é qualquer loucura, é das mais insanas, é uma troca de personalidade, é a mesma de quem se diz ser Napoleão Bonaparte. Acreditar num mentiroso? Se não fala a verdade quanto à própria personalidade, porque acreditaríamos nos seus ensinos?

Partindo de um trilema, passamos a um dilema, para, enfim, chegarmos a um lema: só nos resta aceitá-lo como o próprio Deus. Ele não nos deixou outra opção.