“Contenham esse avanço... Façam qualquer coisa, por menor que seja... Mantenham aberta ainda que seja uma só porta dentre cem, pois conquanto que tenhamos pelo menos uma porta aberta, não estaremos numa prisão.”
(G.K.C)

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Plutocracia

Chesterton
No coração de uma plutocracia[1] os homens de negócios acabam por ser bastante espertos para serem mais pedantes que seus clientes. Eles se empenham em criar dificuldades para que seus ricos e entediados clientes gastem dinheiro e diplomacia em tentar superá-las. Se houvesse um hotel elegante em Londres em que nenhum homem que medisse menos do que um metro e noventa de altura pudesse entrar, a sociedade organizaria grupos de homens de um metro e noventa de altura para jantar nele. Se houvesse um restaurante caro que, por mero capricho do proprietário, só abrisse às quintas-feiras de tarde, estaria abarrotado de gente às quintas-feiras de tarde.
[1] A influência dos ricos ou do dinheiro na sociedade.


segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Tradição

Tradição nada mais é do que uma democracia mais ampla, onde o voto dos nossos antepassados é levado em consideração.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Imposturas intelectuais


Muitas vezes, temendo por estarmos errados, expomos nossas idéias de modo vago, deixamo-las vagando no ar como fumaça. Assim, caso nossas idéias sejam atacadas, podemos sair escorregando, aqui e ali, pelas brechas, mostrando que não é bem isso, ou que fomos mal entendidos. Então conduzimo-las a se adaptarem à crítica feita.

Acontece que o homem que é mal entendido tem pelo menos uma vantagem sobre seus inimigos: “eles não conhecem seu ponto fraco ou seu plano estratégico. Eles saem para caçar pássaros com redes e saem para pescar com espingardas” (Chesterton).

A ciência moderna tem se aproveitado bastante dessa vantagem. Não faz muito tempo, foi lançado no Brasil o livro “Imposturas Intelectuais” de Alan Sokal e Jean Bricmont. No prefácio, os autores nos dão a idéia do conteúdo: “O livro originou-se da farsa, agora famosa, que consistiu na publicação, por um de nós, na revista americana de estudos culturais Social Text, de um artigo satírico cheio de citações sem sentido, porém infelizmente autênticas, sobre física e matemática, proferidas por proeminentes intelectuais... Esta obra trata da mistificação, da linguagem deliberadamente obscura, dos pensamentos confusos e do emprego incorretos dos conceitos...”

“A ciência anda substituindo a idéia de que os fatos e as evidências é o que importam, pela idéia de que tudo se reduz a interesses individuais e perspectivas subjetivas.” (Larry Laudan)

A obscuridade das idéias tem se tornado sinônimo de intelectualidade. Quanto menos entendermos um autor, tanto mais exaltado ele será.

Nossa dificuldade, como público, está em detectar tais “Imposturas”. Como público, digamos, leigo, torna-se muito complicado analisar a honestidade e o compromisso do autor com os fatos.

O esperto Wilks de “O homem que era quinta-feira”[1], se saiu bem diante das “Imposturas Intelectuais” do Sr. Worm:

“Quando ele [Worm] dizia uma coisa que ninguém, a não ser ele, sabia, respondia-lhe outra que nem eu próprio [Wilks] conhecia.

— Não imagine - disse ele - que teria conseguido deduzir o princípio de que a evolução é apenas negação, pois é inerente a ele a introdução de lacunas, que são essenciais na diferenciação.

Respondi desdenhosamente:

— Leu isso tudo no Pinckwerts, e já há muito que Glumpe expôs a idéia de que a evolução funcionava eugenicamente.

Não preciso nem dizer que Pinckwerts e Glumpe nunca existiram, mas, com grande surpresa minha, toda aquela gente parecia lembrar-se muito bem deles...

— Vejo – disse ele - que você prevalece, como o porco falso de Esopo
[2].

— E o senhor falha - respondi, sorrindo - como o porco-espinho de Montaigne.

Será necessário dizer que não existe nenhum porco-espinho em Montaigne?”

[1] Romance de G. K. Chesterton.
[2] Talvez referindo-se à fábula "O barrote, as ovelhas, o lobo e os porcos da aldeia" de Esopo.

Novamente, em defesa do senso-comum

Quando escrevia, na outra postagem logo abaixo, minha "Em defesa do senso-comum", procurava extasiadamente uma citação que estava em um dos meus livros e que resumia plenamente o meu ponto de vista. Não encontrei. Postei o texto sem ela. Porém, hoje, por um acaso, acabei encontrando-a. Ei-la, é a essência da postagem anterior:

"Quando o cérebro me excita na alma a sensação de uma árvore ou de uma casa, eu digo, sem hesitação, que existe realmente fora de mim uma árvore ou uma casa, cuja localização, tamanho e outras propriedades eu conheço. Logo, não se encontra homem nem animal que ponham em dúvida esta verdade. Se viesse à cabeça de um camponês essa dúvida, e ele, por exemplo, dissesse não acreditar que uma videira existe, apesar de estar em sua presença, seria considerado louco, e com boas razões. Porém, quando um filósofo apresenta tal comportamento, ele espera que nós admiremos seu conhecimento e sua sagacidade que ultrapassam infinitamente a capacidade de apreensão do povo". (Leonhard Euler)

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Em defesa do senso-comum

Vivemos, atualmente, num momento tão absurdo que, muitas vezes, parece que o homem perdeu a razão.

O homem atual está tão preocupado com os detalhes, vai se curvando e chegando cada vez mais perto para notá-los, que acaba perdendo a visão do todo e sem essa visão do todo, o homem perde o senso de proporção. Constrói uma escultura totalmente desproporcional; ergue um monstro.

Todos os dias precisamos defender, de seus críticos, o senso-comum e o bom-senso. Dia a dia nos envolvemos na defesa dos valores tradicionais que sempre se mostraram certos, da moralidade que se mostrou saudável por milhares de anos e, por incrível que pareça, existe a necessidade de se defender até as coisas mais reais e concretas possíveis. Por mais absurdo que possa parecer, citando Chesterton, estamos tendo que “empunhar a espada para afirmar que a grama é verde”.

Êxtase

Aquela mulher com jeitinho de menina,
De expressivos olhos e boca bem desenhada,
Que me seduz sem saber.
Que é ingenuamente irresistível.
Aquela fonte de palavras doces,
Que não é poetisa, mas, facilmente, é um poema;
Que confunde minhas idéias e sensações;
Que não é filósofa, mas dá motivos à filosofia alheia.
Aquela beleza que, ao vê-la, denuncio-me.
Sinto um frio na barriga.
Meu Deus! Quando a vejo não me contenho;
Meus olhos não guardam segredo.
Ela me faz de cauto, indiscreto;
De tímido, faz-me ousado!
Às vezes, chego a ter medo!

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Nem toda diversão é divertida para todos

Não sou anti-social, mas, muitas vezes, prefiro ficar em casa a participar de determinadas diversões. Nem toda diversão é divertida para todos.

A maioria das diversões atuais tem como alicerce a fuga de responsabilidades. É comum conceber os fins de semana e feriados como momentos para extravasar. Aquele que não acompanhar o ritmo, torna-se logo motivo de críticas, ironias e chacotas. Se dispenso o convite, porque quero ficar em casa, o que ouço mais comumente é: “Deixa de ser morto!”.

No entanto, “morto” é a única coisa que eu não sou, quando recuso um convite para certas diversões. O homem que está morrendo é justamente aquele que não consegue ficar na “monotonia”, ele tem que estar sempre mudando, porque se “cansa” rapidamente. A criança, que é cheia de vida, passa horas e horas na mesma brincadeira “monótona” de correr em círculos ou de chutar a bola contra a parede. O homem, hoje, cansa de uma festa e, antes mesmo dela terminar, vai pra outra. Quando acorda no outro dia, já tem que ter outra “diversão” marcada, que é pra não ficar em casa na “monotonia”. Este homem, sim, está morrendo. Ele se cansa de tudo e não consegue ficar “quieto” por muito tempo. Ele não consegue ficar sozinho, consigo mesmo, sem ficar angustiado.

Na última sexta-feira um amigo me chamou para sair para um lugar que toca um dos tipos de música que odeio. Após a minha recusa ele disse:

- Cara, tu tem que viver!

Depois, disse um provérbio que foi muito usado nos anos 60:

- Pedra que rola não cria musgo!

Então lembrei-me das palavras de Chesterton, que dizia que “as pedras rolantes fazem barulho ao tocarem as outras pedras; mas elas estão mortas. O musgo é silencioso porque está vivo".

Nesta sexta, diverti-me bastante relendo alguns grifos meus nos livros do Lewis.

Todos os caminhos levam a Deus?



Não fazemos parte de um mundo onde todos os caminhos são raios de um mesmo círculo e onde todos eles, se percorridos em um tempo suficiente, se vão aproximando até que se encontrem no centro; ao contrário, vivemos num mundo em que toda estrada, depois de alguns quilômetros, divide-se em duas, e cada uma dessas em mais duas, e a cada bifurcação você é obrigado a tomar uma decisão.
C. S. Lewis

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

O valor da lógica

"O primeiro valor da lógica é ser uma arma para derrotar os lógicos."

Chesterton [1]
[1] Certa vez derrotou Bertrand Russell (um dos pais da lógica moderna) em um debate.

A força da mulher

A força da mulher não está nos músculos; não é uma força mecânica. É algo espiritual, sublime e inexplicável, que faz o coração do homem ajoelhar-se como um servo a esperar ordens...

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Impondo limites

O homem é uma criatura e toda a sua felicidade consiste em ser uma criatura. Quem viola essa condição de felicidade do homem, da única felicidade, esgota-se na perpétua e inútil ânsia de ser uma imitação grotesca do Criador, em vez de criatura ciente de seus limites.

Originalidade

Se alguma vez me ocorreu de ser original, foi sem querer...

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Afeição


O cão late para os estranhos que nunca lhe fizeram qualquer mal e sacode a cauda para os velhos conhecidos embora jamais lhe tenham feito qualquer bem. A criança pode amar um velho jardineiro carrancudo que quase não nota sua presença e guardar distância do visitante que faz tudo para atraí-la.
[....]
A afeição pode amar os que não possuem atrativos.
[....]
A Afeição possui seus próprios critérios. Seus objetos precisam ser familiares.
[....]
A glória especial da Afeição é que ela pode unir aqueles que mais enfaticamente, e até de maneira cômica, não o foram [....] Ela pode existir entre um jovem universitário e uma velha enfermeira, embora suas mentes habitem mundos diversos. Ele ignora até mesmo a barreira das espécies. Nós a vemos não só entre cão e homem, mas também, surpreendentemente, entre cão e gato [....] É o mais humilde e mais largamente difundido de todos os amores, o amor em que nossa experiência mais se aproxima daquela dos animais.

Lewis

domingo, 11 de janeiro de 2009

"Na minha opinião..."


Já notaram que as pessoas têm o costume de dar opinião sobre o que desconhecem? Pior ainda, defendem a opinião, mesmo infundada, com unhas e dentes.

Muitas vezes é hilário. Já vi, não poucas vezes, a pessoa desconhecer determinado assunto no qual pedem sua opinião, então ela pede para que a expliquem o assunto para poder opinar. Talvez não haja nada de errado com essa atitude de primeiro querer entender o assunto ali, rapidamente, para se posicionar, caso se trata de coisas simples, ou de mero gosto ou de problemas que normalmente a intuição basta. Mas não é o que se vê. Todos os dias podemos encontrar pessoas dando suas opiniões sobre o conflito no Oriente Médio, sobre a crise financeira mundial, sobre as medidas tomadas para a administração de um país, etc. Os fundamentos, se é que os têm, geralmente são tirados da própria cabeça, ou de um “ter ouvido falar”, ou de um telejornal.

Eu sempre digo às pessoas que gostam de opinar sobre o governo do país, que mal consigo arrumar minha mesa de trabalho. Imagine, então, “arrumar” esse território imenso que é nossa pátria.

Alguém já havia dito que era uma pena que os maiores estrategistas para governar o país estavam ocupados demais cortando o cabelo dos outros ou dirigindo seus táxis. É uma crítica à mania de dar opinião sobre o que desconhece. Realmente se ouve muitas opiniões nos salões de beleza e nas corridas de táxi.

Temos que ter bases sólidas para nossas opiniões em assuntos “delicados”. Devemos pesquisar os especialistas no assunto, quem são eles, qual a tendência de cada um, etc. Não posso defender o comunismo lendo apenas Marx, mas preciso conhecer críticas ao marxismo, defesas do capitalismo , etc.

Não posso criticar a veracidade da bíblia porque li “O Código da Vinci” (sic)[1]. Dan Brown não tem credencial alguma pra servir de fundamento nesse assunto. Se querem criticar, por favor, pelo menos tenham alguma base respeitável. E ninguém tem uma base sólida conhecendo apenas um dos lados. Quem tiver a curiosidade de procurar saber o outro lado de “O Código da Vinci”, verá que se trata de uma brincadeira de mau gosto, todo construído sob casuística[2].

Devemos ser honestos e somente nos posicionarmos firmemente naquilo que tivermos oportunidade de conhecer melhor. Não estou querendo dizer que só devemos defender aquilo que tenhamos grande compreensão, mas que não devemos acreditar no primeiro que nos fala. Se você acha que o assunto merece atenção e que ele mexe com verdades importantes, então você precisa investigar honestamente e, como todo detetive, deve ser criterioso quando for buscar fontes de informação. Mais ainda, você deve procurar construir uma base, um fundamento pelo qual você avaliará as informações que chegam até você (o “bom senso” é uma parte desse fundamento). Afinal de contas, informações podem estar certas ou erradas.

[1] SIC é um advérbio latino, que significa literalmente "assim". É usado para indicar ao leitor que aquilo que ele acabou de ler, por errado ou estranho que pareça, é assim mesmo.
[2] Casuística é um tipo de argumentação que se utiliza de especulações para legitimar algo.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

São tantos, mas tão poucos...


Estou com um problema de gerenciamento de espaço. Não cabem mais livros em minhas estantes. Fiz uma das coisas que acho das mais ridículas: não tendo mais espaço nas prateleiras, enfileirei livros na frente daqueles que estavam na estante. Assim, não vejo os que estão por trás, muitas vezes tenho que ficar tirando os da frente para ver se o livro que estou procurando está no fundo.
Não pensem que acho isso legal, "puxa, tenho tantos livros que nem cabem nas prateleiras!", nada disso, sinto-me um idiota que compra mais do que pode ler. "São tantos livros, mas tão poucos...", é assim que vejo, são muitos pro tempo que tenho para ler, mas tão poucos para a sede de aprender... (já senti inveja, quando em um filme vi um presidiário tendo o tempo todo pra ler).
Não vou mentir, exitem muitos na "fila" e não tenho um cronograma de leitura. Simplismente vou lendo um aqui, outro acolá, começo um e paro, começo três ao mesmo tempo e vou até a contracapa, enfim, depende de como estou e de como é o livro.
Mas a verdade é que compro mais do que posso ler, porque tenho medo de não poder esclarecer uma dúvida no momento em que ela surgir. Eu posso até não ter lido muitos dos meus livros, mas sei exatamente do que cada um trata, é como se eu tivesse uma fotografia do sumário e da resenha na minha cabeça. Então, quando uma dúvida surge, já sei em quais procurarei. No entanto, não quero ser um colecionador de livros, que de tanto comprá-los esqueceu de lê-los. Deus sabe que cada volume que compro, sinto-me sedento para que chegue a vez dele (confesso que muitas vezes alguns furam a fila).
Ah, não me acho nada inteligente, por isso, tento compensar me esforçando em aprender e tenho sorte de não detestar esse esforço, na verdade, acho ele agradável. Sou, no máximo, interessado.
Sentei-me só para "desabafar" sobre meu problema de falta de espaço, mas acabei me estendendo à falta de tempo e à falta de "QI". Então vou parar por aqui, sob pena de acabar demonstrando minha falta de bom senso de que esse assunto só me diz respeito e que eu deveria ficar calado...

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Diversão e Aprendizagem

Não sei quando nem como se deu a segregação entre diversão e aprendizagem. Hoje em dia, ou nos divertimos ou adquirimos conhecimento, os dois não podem mais estar juntos. Como aprender é "chato", então... diversão!
Experimente falar numa mesa de bar algo que você anda estudando...
Se você e sua turma consegue fazer isso sem problemas, vocês são idiotas alienados... é isso que dizem os de fora.