“Contenham esse avanço... Façam qualquer coisa, por menor que seja... Mantenham aberta ainda que seja uma só porta dentre cem, pois conquanto que tenhamos pelo menos uma porta aberta, não estaremos numa prisão.”
(G.K.C)

domingo, 31 de agosto de 2008

O amor é como nossa própria sombra


Tal como a sombra, o amor corre de quem o segue: foge, se o perseguis; se fugis, vos persegue.

Shakespeare

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

A sabedoria dos antigos (Prefiro os sebos às grandes livrarias)

Chesterton, acertadamente dizia que podemos encontrar todas as novas idéias em livros antigos, só que ali as encontraremos equilibradas, no lugar que lhes corresponde e, às vezes, com outras idéias melhores que as contradizem e as superam. Os grandes escritores não deixavam de lado uma moda porque não haviam pensado nela, mas porque haviam pensado também nas outras respostas. E mais, o que chamamos de idéias novas são, geralmente, fragmentos das velhas idéias. Não é que alguma idéia particular não tenha ocorrido aos antigos escritores. É que, simplesmente, eles encontraram muitas outras melhores para livrar-lhes da tolice.

Conhecer bons livros, muitas vezes, é uma questão de sorte (principalmente nessa época em que vivemos, com uma enxurrada de títulos que se nos oferecem). Porém, para quem, de alguma forma, conheceu um bom autor, o que se segue, aplicando-se o bom senso, é um "efeito dominó". Acontece da seguinte maneira: Conheci um bom livro de um autor A. Esse autor A cita um autor B, então compro livros do autor B. O autor B cita outro autor C. E assim sucessivamente. É uma corrente. Em pouco tempo, e algum dinheiro (sic), você estará com uma boa biblioteca.

Andei lendo alguns desses livros best-sellers que vemos em toda vitrine nas livrarias. Esses livros que nos oferece felicidade, dinheiro, amor perfeito e sucesso. É interessante como o assunto é tratado, falta leveza, falta estilo, falta conteúdo, enfim, falta tudo aquilo que compõe um bom livro. Em vez disso, temos “meia dúzia de máximas cínicas que estão longe de ser a expressão da verdade”. Se compararmos com algum "livro antigo", como Chesterton os chama, veremos a discrepância de idéias. Enquanto os antigos nos dizem uma verdade, os best-sellers, como os que eu li, nos ensinam o auto-engano, e pior ainda, sem nos dizer que aquilo é um auto-engano.

Mortimer Adler, nos anos 40, já denunciava:

Livros têm ganhado o aplauso da crítica e uma extraordinária atenção popular na mesma proporção em que eles faltam com a verdade - quanto mais eles o fazem, melhor. Muitos leitores, e muito particularmente aqueles que escrevem resenhas na imprensa, empregam outros padrões de julgamento para exaltar ou condenar os livros que lêem - a novidade, o sensacionalismo, a sedução, a força e até mesmo o poder de confundir ou desorientar a mente, no lugar da verdade, da clareza e do poder de esclarecimento.


Quer um exemplo? Em quase todos os best-sellers atuais de auto-ajuda que li, existe a mesma fórmula mágica da felicidade, que é a divinização do amor: “Siga a voz do coração! Faça o que o amor mandar”. Rebeldia, cujas conseqüências derivam dos desejos reprimidos dos quais Freud falava.

Por que os escritores antigos não descobriram essa fórmula mágica antes? Porém repito: não é que alguma idéia particular não tenha ocorrido aos antigos escritores. É que, simplesmente, eles encontraram muitas outras melhores para livrar-lhes da tolice.

Rougemont dizia que “o amor deixa de ser um demônio somente quando cessa de ser um deus” e Lewis completou dizendo que essa sentença pode naturalmente ser apresentada de outra forma: “começa a ser um demônio no momento em que começa a ser um deus”.

E, ao contrário do difundido conselho de “siga a voz do coração”, Lewis escreve:

Todo amor humano, em seu apogeu, possui a tendência de reivindicar uma autoridade divina. Sua voz tende a soar como se fosse a vontade do próprio Deus. Ela nos diz para não contar o custo, exige de nós um compromisso total, tenta superar todas as outras reivindicações e insinua que todo ato feito sinceramente "por causa do amor" é, portanto, legal e até meritório.

[...]

É preciso notar que os amores naturais fazem esta reivindicação blasfema quando se acham em sua melhor e não em sua pior condição natural; quando são o que nossos avós chamavam de "puros" e "nobres". Isto se evidencia especialmente na esfera erótica. Uma paixão fiel e genuinamente sacrificial irá falar-nos com o que parece ser a voz de Deus.

[...]

É possível que dediquemos a nossos amores humanos a fidelidade devida apenas a Deus. Eles então se tornam deuses: então se tornam demônios. Irão assim destruir-nos e também destruir a si mesmos. Pois os amores naturais, quando lhes é permitido que se tornem deuses, não permanecem amores. Continuam recebendo esse nome, mas se transformam na verdade em formas complicadas de ódio.

[...]

Este tema, aliás, tem grandes conseqüências práticas. A coisa mais perigosa que podemos fazer é tomar um certo impulso de nossa natureza como critério a ser seguido custe o que custar. Não existe um único impulso que, erigido em padrão absoluto, não tenha o poder de nos transformar em demônios. Talvez você pense que o amor pela humanidade em geral é livre de perigos, mas isso não é verdade. Se deixarmos de lado o senso de justiça, logo estaremos violando acordos e falsificando provas judiciais em prol do 'bem da humanidade'. Teremos então nos tornado homens cruéis e desleais.

A prudência com que os bons escritores tratam dos assuntos é aquilo que os destacam. Tudo é ponderado, medido, pesado. Extraem-se as conclusões, contrapõe-nas aos possíveis questionamentos, argumenta-se a favor, dá-se o veredicto.

Seguindo o exemplo que dei de Lewis, notamos a ponderação e a prudência, ele mesmo nos diz, em outro lugar, que os erros são enviados sempre aos pares (pares de opostos). E sempre somos estimulados a desperdiçar um tempo precioso na tenta­tiva de adivinhar qual deles é o pior. Sabe por quê? Porque o fato de você abominar um deles leva-o aos poucos a cair no extremo oposto;

Assim, Lewis contrapõe a questão da divinização do amor com o desprezo do amor e chega a um meio termo.

Não existe um investimento seguro. Amar é ser vulnerável. Ame qualquer coisa e eu coração irá certamente ser espremido e possivelmente partido. Se quiser ter a certeza de mantê-lo intacto, não deve dá-lo a ninguém, nem mesmo a um animal. Envolva-o cuidadosamente em passatempos e pequenos confortos, evite todos os envolvimentos, feche-o com segurança no esquife ou no caixão do seu egoísmo. Mas nesse esquife - seguro, sombrio, imóvel, sufocante - ele irá mudar. Não será quebrado, mas vai tornar-se inquebrável, impenetrável, irredimível.

[...]

O único lugar fora do céu onde você pode manter-se perfeitamente seguro contra todos os perigos e perturbações do amor é o inferno.

Acredito que os amores mais fora-da-lei e imoderados são menos contrários à vontade de Deus do que uma falta de amor auto-provocada e auto-protetora.

[...]

Continua sendo verdade que todos os amores naturais podem ser imoderados. Imoderado não significa "insuficientemente cauteloso", nem "excessivo". Não se trata de um termo quantitativo. E provavelmente impossível amar qualquer ser humano simplesmente “demasiado”. Podemos amá-lo demais em proporção ao nosso amor a Deus; mas é a insignificância de nosso amor por Deus e não a grandeza de nosso amor pelo homem que constitui o excesso, embora mesmo isto precise ser aperfeiçoado.

[...]

A verdadeira pergunta é a quem você serve, ou prefere, ou coloca em primeiro lugar (quando surge a necessidade de fazer uma opção)? A sua vontade cede, em análise final, a qual das duas exigências?

[...]

O melhor amor de um ou outro tipo não é cego. [...] Se “tudo” - realmente tudo - “pelo amor” estiver implícito na atitude do ser amado, o amor dele ou dela não vale a pena de ser alcançado, pois não se relaciona da maneira certa com o próprio Amor.

Vou ficando por aqui. E espero que esse pequeno exemplo sirva para expressar por que prefiro os sebos às grandes livrarias.

PS: Nas grandes livrarias, quase sempre, não me agrada a estante dos “Mais Vendidos”.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Elogio e Desprezo x Descrição e Definição

A mente humana tem no geral mais inclinação para elogiar e desprezar do que para descrever e definir. Ela quer fazer de toda diferença uma distinção em valor; surgem então aqueles críticos fatais que nunca conseguem indicar a qualidade divergente de dois poetas sem colocá-los em ordem de preferência como se fossem candidatos a um prêmio.
Lewis

terça-feira, 5 de agosto de 2008

A falácia do tempo



Existe uma idéia falaciosa, que toma conta dos adeptos do evolucionismo. Para eles, o tempo resolve quaisquer questionamentos a respeito da teoria. Se determinada explicação do desenvolvimento e transformação de um ser não pode ser vista, insere-se a variável “tempo” e tudo fica resolvido: “Não vemos essa transformação, porque ela se desenvolve em bilhões de anos”. Se as condições atuais não são favoráveis para que ocorra determinada transformação, novamente o “tempo” vem calar essas indagações: “Há milhões de anos, as condições eram favoráveis”. Isso tudo se diz com a convicção de quem esteve presente em cada segundo desses períodos. Na verdade, atribuem ao tempo o que os cristãos atribuem a Deus, como se a velocidade amenizasse a idéia de impossibilidade dos acontecimentos. Ora, não interessa se esses acontecimentos ocorrem num piscar de olhos, como acreditamos ser possível, nos milagres de Deus, ou se em bilhões de anos, pois em ambos temos que acreditar num agente que não podemos verificar empiricamente, isto é, ambos exigem fé. De outra forma, como os evolucionistas poderiam acreditar na evolução se não tivesse fé de que "a formação inicial de organismos desconhecidos a partir de produtos químicos desconhecidos, numa atmosfera ou oceano de composição desconhecida, sob condições desconhecidas, cujos organismos subiram então uma escada evolucionista desconhecida, mediante um processo desconhecido, deixando uma evidência desconhecida", fosse responsável por toda a vida que temos hoje no planeta?

Chesterton, com sua perspicácia de sempre, nos diz:

A palavra “evolução” parece ter certa tendência a substituir “explicação”... A noção de suavidade, de consolador, de gradativo e lento constitui uma grande parte da enorme ilusão. Digamos que se trata tanto de uma ilusão como de um absurdo.

A lentidão nada tem que ver nesta questão. Um fato não é mais ou menos inteligível, segundo a velocidade em que se executa. Para um homem que não acredita em milagres, um milagre lento será tão incrível quanto um outro imediato, fulminante. A feiticeira grega pôde transformar os marinheiros em porcos ao simples contato com sua varinha mágica. Porém, ver um marinheiro desses, nosso amigo, convertendo-se, paulatinamente, em porco, não seria, de certo, muito mais tranqüilizador.

Não obstante, o materialismo histórico parece não poder despregar-se desse erro que consiste em acreditar que uma dificuldade fica iludida explicando-a por meio de um lento decorrer do tempo. A questão se apóia na falsa sensação de facilidade que se produz pela mera sugestão de ir devagar.

Não se pode considerar resolvido o problema substituindo a mudança rápida das coisas por uma transformação lenta...

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

O "monstrinho" da ciência


Roy Abraham Varghese, fundador do Institute for Metascientific Research, uma vez disse: "O mundo moderno mal conhece a sensação de maravilha. Algum monstrinho roubou a mágica que nos fazia maravilhar e transformou o paraíso que chamamos de mundo em uma selva desolada."

Esse "monstrinho" responsável por roubar a emoção de maravilhar-se, segundo Varghese, é um bando de intelectuais aprisionados em abstrações vazias e ideologias irracionais. Eles são cegos para a glória e o mistério do mundo. Não conseguem ver a floresta do universo e atentam apenas para as árvores da teoria científica, esperimentação e descoberta.

[...]

É notável a tendência de todos os cientistas, mesmo os ateus, em atribuir todas as características que seriam de Deus à natureza. Eles normalmente atribuem vontade, inteligência, criatividade, propósito, poder e até senso de humor ao que é, em sua teoria, uma coisa acidental, impessoal, aleatória e, portanto, sem significado. Parece que eles não conseguem evitar trair suas próprias palavras e esconder o seu maravilhar-se, seu temor e seu respeito pela "natureza".

Trechos do documentário "Has Science Discovered God?"