
O verdadeiro problema com este nosso mundo não é que se trata de um mundo ilógico, nem tampouco de um mundo lógico. O problema mais comum é que se trata de um mundo quase lógico, mas não totalmente. A vida não é um ilogismo; todavia, é uma cilada para os lógicos. Parece simplesmente um pouco mais matemática e regular do que é; sua exatidão é óbvia, mas sua inexatidão está escondida; sua loucura está à espreita. Vou dar um exemplo grosseiro do que quero dizer. Suponhamos que alguma criatura matemática proveniente da lua examinasse o corpo humano; ela imediatamente veria que o fato essencial nesse caso é que o corpo é duplicado. Um homem contém dois homens: um à direita que se parece exatamente com outro à esquerda. Depois de notar que há um braço do lado direito e outro do lado esquerdo, uma perna à direita e outra à esquerda, ela poderia ir adiante e ainda encontrar de cada lado o mesmo número de dedos nas mãos, o mesmo número de dedos nos pés, dois olhos, duas orelhas, duas narinas e até dois lobos do cérebro. No mínimo ela tomaria o fato como lei; e depois, quando encontrasse um coração de um lado, ela deduziria a presença de outro coração do outro lado. E exatamente nesse momento, no ponto em que se sentisse mais segura de estar certa, ela estaria errada.
É esse silencioso desvio milimétrico da precisão que constitui o elemento misterioso presente em tudo. Parece uma espécie de traição secreta do universo.
[...]
Ora, essa é exatamente a reivindicação que venho fazendo para o cristianismo. Não simplesmente que ele deduz verdades lógicas, mas que quando de repente se torna ilógico, ele encontrou, por assim dizer, uma verdade ilógica. Ele não apenas acerta em relação às coisas, mas também erra (se assim se pode dizer) exatamente onde as coisas parecem erradas. Seu plano se adapta às irregularidades ocultas e espera o inesperado. É simples no que se refere à verdade sutil. Admite que o homem tem duas mãos, mas não admite (embora todos os modernistas lamentem o fato) a dedução óbvia de que tenha dois corações.
... quando sentimos a existência de algo estranho na teologia cristã, geralmente vamos descobrir que existe algo estranho na verdade.
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Isso é o que chamei de adivinhar as excentricidades ocultas da vida. Isso é saber que o coração do homem está à esquerda e não no meio. Isso é saber não apenas que a Terra é redonda, mas também exatamente onde ela é achatada. A doutrina cristã detectou as esquisitices da vida. Ela não apenas descobriu a lei, mas previu as exceções.
Ortodoxia - G. K. Chesterton
3 comentários:
ei mocinho, como vão as férias??!
assisti um filme ontem na cabo (de encontro com o amor, com o joshua jason) e me lembrei de vc... pq é a história de um editor/escritor! fica a dica ae prá vc nessas férias!!! diria que foi o filme mais lindo que ví nesse ano! e olha que sou cinéfila, hein??!!
abração. fica na Paz do Senhor.
Agora mesmo. Já sairei para alugar.
Grato pela dica!
Excelente Livro o ORTODOXIA.
Eu li na versão centenária da Mundo Cristão.
E sitei um trecho aqui:
amandoaoproximo.blogspot.com/2008/05/
um-deus-ateu.html
mt interessante.
Tá de parabéns
abração
Fique na Graça
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