“Contenham esse avanço... Façam qualquer coisa, por menor que seja... Mantenham aberta ainda que seja uma só porta dentre cem, pois conquanto que tenhamos pelo menos uma porta aberta, não estaremos numa prisão.”
(G.K.C)

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Leis, regras, disciplina

Em um de seus livros, Chesterton diz que a maior parte da liberdade moderna tem sua raiz no medo. “Ao contrário do que se possa pensar, não é que somos corajosos demais, a ponto de não nos submetermos às leis; é que somos muito medrosos para nos submeter às responsabilidades”. Esta é uma daquelas verdades que só é percebida por alguém que parece estar sentado numa estrela fixa, observando de longe o redemoinho do mundo.

De fato, a liberdade que se reivindica hoje é uma espécie de “licença poética” para viver. No entanto, não é uma licença para adicionar um pouco de criatividade às regras, e sim para desprezar as regras.

Parece um paradoxo, mas “qual a vantagem de dizer à comunidade que ela tem toda a liberdade, exceto a liberdade de fazer regras? A liberdade de fazer regras é o que constitui um povo livre”. Nos lugares mais ecléticos, não posso dar minha opinião, pois o que penso pode ofender alguém, por causa da diversidade de pessoas. Já aprendi que os defensores da tolerância são intolerantes. A “liberdade” deles é opressora e reprime qualquer comportamento “diferente”. O que chamam “liberdade de expressão”, significa que não se deve tocar na maioria assuntos relevantes.

“Eu jamais poderia conceber ou tolerar nenhuma utopia que não me deixasse a liberdade que mais prezo, a liberdade de me obrigar”. O mundo moderno esqueceu que as leis são o que mantém a liberdade do homem. Preferiu engolir a fantasia de que as leis transformam os homens em escravos e servos. Não me importa se querem chamar as regras e a disciplina de servidão, mas “alguém dirá que haja homens mais fortes do que os de antigamente que foram dominados por sua filosofia e impregnados por sua religião? Se a servidão é melhor que a liberdade é uma questão a ser discutida. Mas que a servidão deles fez mais que nossa liberdade será difícil negar”.

Em pouco tempo, da maneira que estamos caminhando, perderemos não só a disciplina, mas também qualquer divertimento, pois “se eu aposto, devo ser obrigado a pagar, ou então não existe poesia na aposta. Se eu desafio, devo ser obrigado a lutar, ou não haveria poesia no desafio. Se eu prometo fidelidade, devo ser amaldiçoado quando sou infiel, caso contrário não há graça na promessa. [....] A dissolução de todos os contratos não só destruiria a moralidade, mas também acabaria com as apostas. Ora, apostas e jogos dessa natureza são apenas formas atrofiadas e distorcidas do instinto original do homem por aventura e romance. [....] E perigos, recompensas, punições e realizações de uma aventura precisam ser reais, caso contrário a aventura é apenas um pesadelo incerto e cruel”.

“A doutrina e a disciplina podem ser muros; mas são os muros de um pátio de recreio”.

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