Em um de seus livros, Chesterton diz que a maior parte da liberdade moderna tem sua raiz no medo. “Ao contrário do que se possa pensar, não é que somos corajosos demais, a ponto de não nos submetermos às leis; é que somos muito medrosos para nos submeter às responsabilidades”. Esta é uma daquelas verdades que só é percebida por alguém que parece estar sentado numa estrela fixa, observando de longe o redemoinho do mundo.
De fato, a liberdade que se reivindica hoje é uma espécie de “licença poética” para viver. No entanto, não é uma licença para adicionar um pouco de criatividade às regras, e sim para desprezar as regras.
Parece um paradoxo, mas “qual a vantagem de dizer à comunidade que ela tem toda a liberdade, exceto a liberdade de fazer regras? A liberdade de fazer regras é o que constitui um povo livre”. Nos lugares mais ecléticos, não posso dar minha opinião, pois o que penso pode ofender alguém, por causa da diversidade de pessoas. Já aprendi que os defensores da tolerância são intolerantes. A “liberdade” deles é opressora e reprime qualquer comportamento “diferente”. O que chamam “liberdade de expressão”, significa que não se deve tocar na maioria assuntos relevantes.
“Eu jamais poderia conceber ou tolerar nenhuma utopia que não me deixasse a liberdade que mais prezo, a liberdade de me obrigar”. O mundo moderno esqueceu que as leis são o que mantém a liberdade do homem. Preferiu engolir a fantasia de que as leis transformam os homens em escravos e servos. Não me importa se querem chamar as regras e a disciplina de servidão, mas “alguém dirá que haja homens mais fortes do que os de antigamente que foram dominados por sua filosofia e impregnados por sua religião? Se a servidão é melhor que a liberdade é uma questão a ser discutida. Mas que a servidão deles fez mais que nossa liberdade será difícil negar”.
Em pouco tempo, da maneira que estamos caminhando, perderemos não só a disciplina, mas também qualquer divertimento, pois “se eu aposto, devo ser obrigado a pagar, ou então não existe poesia na aposta. Se eu desafio, devo ser obrigado a lutar, ou não haveria poesia no desafio. Se eu prometo fidelidade, devo ser amaldiçoado quando sou infiel, caso contrário não há graça na promessa. [....] A dissolução de todos os contratos não só destruiria a moralidade, mas também acabaria com as apostas. Ora, apostas e jogos dessa natureza são apenas formas atrofiadas e distorcidas do instinto original do homem por aventura e romance. [....] E perigos, recompensas, punições e realizações de uma aventura precisam ser reais, caso contrário a aventura é apenas um pesadelo incerto e cruel”.
“A doutrina e a disciplina podem ser muros; mas são os muros de um pátio de recreio”.
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