Pe. Antônio Vieira
Deus, inteligentemente, criou o burro, e o homem, burramente, inventou a burocracia.
O burro, na sua habitual pachorrice, não conhece a burocracia. Anda, segundo o velocímetro que Deus imantou nas suas entranhas e nos seus nervos. Não tem pressa. Não atropela. Não engarrafa o trânsito. Quando lhe pões nas costas carga superior às suas forças, ele emburra.
Emburrar, na linguagem dos muares, significa protestar, reclamar, pedir misericórdia, embora a semântica dos homens entenda diferente. Como os homens não aceitam contestação, nas suas injúrias, quanto mais de burro, emburram contra o indefeso animal com pancadaria, e todas as judiarias animalescas ou extra-animalescas, porque, afinal de contas, os irracionais não são tão brutais como os homens.
O burro é mais inteligente funcionalmente que o homem. Não artificializa a vida. O mal do homem é querer corrigir a ordem divina das coisas. Começa pela imbecilidade de haver fabricado o relógio, na presunção de que o relógio pode controlar o tempo. O burro, porém, obedece ao relógio do tempo. Se é noite, ele dorme. Se é dia, ele pasta. Não altera a ordem natural das coisas, e a um animal inteligente assim, ainda chamam de burro.
O burro não sofre das doenças do homem civilizado, do homem cronometrado: taquicardia, hipertensão, gastrite, colesterol, stress, doenças venéreas, depressão moral e psíquica, distonia vascular e outras.
Todos os ataques que o homem civilizado sofre, se deve precisamente a toda essa organicidade técnica e burocrática, a que se impôs como critério de norma de eficiência.
Um comentário:
adoro o Vieira...ele tem uns insights muito bons!
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