“Contenham esse avanço... Façam qualquer coisa, por menor que seja... Mantenham aberta ainda que seja uma só porta dentre cem, pois conquanto que tenhamos pelo menos uma porta aberta, não estaremos numa prisão.”
(G.K.C)

domingo, 10 de maio de 2009

A falácia do "Argumento do tamanho"

Por várias vezes vi o "argumento do tamanho" ser usado para sustentar a ideia de que Deus não existe. É um dos argumentos mais utilizados para a negação de Deus. É mais ou menos assim: "Por que um Deus se preocuparia especificamente com um ser ínfimo como o homem, que vive num planeta entre milhões de outros existentes?" Em outras palavras: "por que um certo Deus escolheu esse planeta entre milhões de outros planetas e por que se preocupou com o homem desta terra em meio da possibilidade de haver outras vidas por aí a fora?". Isso é o suficiente para que digam que essa história de Deus é uma história sem sentido.

As palavras de Lewis e Chesterton são suficientes para nos mostrar por que esse argumento é falacioso.

Lewis:

O argumento do tamanho descansa na suposição de que as diferenças de tamanho devem coincidir com as diferenças de valor, pois, de outro modo, não há nenhum razão para pensarmos que pelo fato de a terra ser pequena e criaturas que habitam nela serem ainda menores, não poderem ser as coisas mais importantes do universo, porque este contém milhões e milhões de estrelas e outros planetas. Esta suposição é racional ou é emocional?

Vejo, como qualquer outro vê, o absurdo de supor que uma galáxia seja menos importante, aos olhos de Deus, que um homem. Porém me dou conta de que não vejo igualmente como absurdo supor que um homem mais baixo possa ser mais importante do que um homem mais alto, nem que um homem possa ser mais importante que uma árvore [que é maior que ele] ou que o cérebro seja mais importante que as pernas. Em outras palavras o sentimento de absurdo surge somente se as diferenças de tamanho são muito grandes. Mas quando uma relação é percebida pela razão, ela é válida universalmente. Se o tamanho e o valor tiverem alguma conexão real, as pequenas diferenças de tamanho seriam acompanhadas de diferenças de valor tão claramente como as grandes diferenças de tamanho são acompanhadas por grandes diferenças de valor. Porém, nenhum homem sensato diria que é assim que acontece. Eu não creio que um homem mais alto seja um pouco mais importante do que um homem mais baixo. Eu não reconheço que as árvores têm uma ligeira superioridade em relação aos homens. Ao tratar com pequenas diferenças de tamanho, percebo que não há relação alguma com o valor. Por isso, concluo que a importância atribuída às grandes diferenças de tamanho não é um assunto da razão, senão da emoção [....]

Somos poetas inveterados. Quando uma quantidade é muito grande, deixamos de vê-la como mera quantidade. Nossa fantasia desperta. Em vez de quantidade, agora temos uma qualidade: o sublime.

Em certo sentido, o poder que o universo tem de nos intimidar está em nós mesmos. Para uma mente que não compartilhe de nossas emoções e que careça de nossas energias imaginativas, o argumento do tamanho será completamente insensato. Os homens olham com reverência para o céu estrelado, mas os macacos não. O silêncio do espaço eterno aterrorizava Pascal, porém foi a grandeza de Pascal que colocou o espaço em situação de espantá-lo. Quando a grandeza do universo nos assusta, estamos assustados, quase literalmente, por nossas próprias sombras, pois os anos-luz e os bilhões de séculos são mera aritmética até que caiam sobre eles a sombra do homem, o poeta, o criador de fantasias [....] Em certo sentido, a grande nebulosa de Andrômeda deve sua grandeza a um pobre homem.

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Chesterton:

Se o simples tamanho prova que o homem não é a imagem de Deus, então a baleia poderia ser a imagem divina; uma imagem um tanto disforme; o que se poderia chamar de um retrato impressionista. É totalmente inútil argumentar que o homem é pequeno se for comparado ao cosmos; pois o homem sempre foi pequeno comparado à árvore mais próxima.

Segundo essa gente, o cosmos era uma coisa só porque tinha uma regra uniforme. Só que (diriam eles), mesmo sendo uma coisa só, ele é também a única coisa que existe. Por que, nesse caso, alguém deveria preocupar-se tanto em chamá-lo de grande? Não existe nada que possamos comparar com ele.

Será igualmente sensato chamá-lo de pequeno. Alguém pode dizer: "Eu gosto deste vasto cosmos, com sua multidão de estrelas e inúmeras variedades de criaturas." Mas, se esse é o ponto, por que alguém não deveria dizer: "Eu gosto deste pequeno e aconchegante cosmos, com seu decente número de estrelas e essa elegante provisão de vida que é do meu agrado"? Uma apreciação é tão boa quanto a outra; as duas são meros sentimentos. É um mero sentimento alegrar-se porque o Sol é maior do que a Terra; é um sentimento tão sensato como alegrar-se pelo fato de que o Sol não é maior do que é. Alguém escolhe ter uma emoção acerca da grandeza do mundo; por que ele não deveria escolher ter uma emoção acerca de sua pequenez?

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