“Contenham esse avanço... Façam qualquer coisa, por menor que seja... Mantenham aberta ainda que seja uma só porta dentre cem, pois conquanto que tenhamos pelo menos uma porta aberta, não estaremos numa prisão.”
(G.K.C)

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Meu lar, meu castelo *

William Pitt

O lar de um homem é o seu castelo. O homem mais pobre desafia, em sua casa, todas as forças da coroa. A sua cabana pode ser muito frágil, o teto pode tremer, o vento pode soprar entre as portas mal ajustadas, a trombeta pode penetrar, mas o Rei da Inglaterra não pode nela entrar.

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* "... a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador..." (Art. 5º, inciso XI da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988)

4 comentários:

Jefferson Góes disse...

É muito interessante isso, Agnon. Lembrei-me do que Hannah Arendt escreveu sobre isso certa vez. Ela disse (não vou citá-la literalmente) que a casa, para o homem, é o lugar da privacidade e, para a mulher, da privação. Será que é assim mesmo ainda hoje em dia?

Abraço, meu irmão!

juliana kramer disse...

É um assunto no mínimo delicado, não é mesmo Jefferson? Ainda vou escrever algo sobre isso, mas tenho que tomar cuidado para que as idéias fiquem muito claras. Mas acredito que toda essa história surgiu, não sei quando, de um terrível engano de menosprezar o trabalho doméstico, esse trabalho que de tão refinado homem nenhum é capaz de fazê-lo como uma mulher.

É um fator relevante na família, que alguém possua uma inteligência universal, pois é essa inteligência que consegue contornar as sutilezas mais perigosas.

O mercado de trabalho exige cada vez mais a especialização da mão-de-obra. Cada vez mais se procura especialistas e os especialistas, como já falei aqui no blog, são pessoas que possuem um conhecimento cada vez mais abrangente sobre um objeto cada vez mais restrito, de maneira que o triunfo da especialização é saber tudo sobre o nada. Desde a antiguidade, coube ao homem essa tarefa de especialização. Assim, à mulher coube a mais difícil de todas as atribuições: ser universal, ter um conhecimento abrangente, mas não especializado, sobre todas as coisas.

Foi assim que coube às mulheres as tarefas mais importantes para a família e para a sociedade como um todo. O homem poderia ser um professor de Cálculo de Estruturas, mas só a mulher, cuidando das tarefas dos filhos, sempre foi capaz de ser professora não só de todas as matemáticas, mas de física, de biologia, de história, de geografia e tantas outras ciências. Temos excelentes cozinheiros profissionais, mas só a mulher tem capacidade de ser cozinheira, professora, estilista, decoradora e enfermeira ao mesmo tempo. E é importante que em todas essas atividades ela não seja profissional, especialista, para não diminuir a abrangência dos seus conhecimentos.

Desde muito tempo, ao homem foi dada a incumbência de diminuir sua mente a uma especificidade e à mulher foi legada a extraordinária tarefa de alargar cada vez mais a cabeça, a universalização da mente. À mulher, não deveria ser dada uma profissão, porque ela é o único ser inteligente que se mostrou capaz de ter vinte ocupações. Agora, como isso se transformou em uma idéia depreciativa, eu não sei bem certo.

A mim, longe de ser machista, longe de ser hipócrita, parece-me sensacional tal capacidade feminina. Há quem dirá que acho isso porque me beneficia; ao que eu responderei: beneficia não só a mim, mas ao mundo inteiro.

Abraço, amigo.

Jefferson Góes disse...

Oi Agnon! Demorei mas escrevi. É a correria da vida...

Aí abaixo vão algumas reflexões sobre o tema que estamos debatendo.

Fique à vontade para expressar algum desacordo. Abraço!

Não creio que a tradição, por mais arraigada que seja, converta-se em essência. No caso em questão, o fato de que até os dias atuais a mulher tem se encarregado praticamente sozinha das tarefas domésticas na maioria das sociedades não significa que é da integralidade da sua natureza fazer somente o que ela tem feito, nem que, por oposição, o trabalho doméstico é incompatível com uma suposta ontologia masculina.

Se assim desejar, o homem pode tornar-se também um habilidoso dono de casa, deixando de ser “apenas” o dono da casa. Os afazeres domésticos e o cuidado das crianças podem ser atribuições conjuntas do casal, que compartilha não somente o prazer de uma convivência enamorada, mas também as responsabilidades e os desafios da vida adulta e da relação conjugal. Por amar a sua companheira um homem pode revezar-se com ela na execução de tarefas como trocar uma fralda, fazer o almoço ou lavar um banheiro. Compatibilizar de maneira eficiente a realização de tantas atividades não é impossível, afinal as mulheres têm demonstrado isto.

Não é impossível, tampouco, que nossas irmãs, esposas, mães, filhas e amigas consigam alcançar a mesma excelência ou perícia em atividades especializadas que nós outros – homens – temos alcançado. Se uma mulher deseja tornar-se engenheira, médica, historiadora ou qualquer outra coisa, por que deveríamos obstar-lhe o desejo? Não há nenhum indício de que sua capacidade cognitiva seja inferior ou superior à do homem. Se esse for o seu desejo, então, que o realize. Se desejar também constituir uma família na condição de profissional especializada, que encontre alguém que não se incomode com isso e que esteja disposto a compartilhar das responsabilidades domésticas.

A cooperação entre cônjuges nas mais diversas esferas – como a profissional e a doméstica – pressupõe amadurecimento de cada uma das partes. Não é antinatural ousar reconstruir de maneira dialógica os antigos e rígidos papéis de gênero de acordo com os interesses dos homens e das mulheres de carne e osso.

juliana kramer disse...

Oi, Jefferson, obrigado por propiciar essas reflexões.

A primeira coisa que tenho a dizer é que sua reflexão não vai totalmente de encontro ao que eu disse. Como fui sucinto, ainda tem muita coisa que eu gostaria de falar a esse respeito e que acredito que estaria perto dessa sua linha de pensamento.

Quanto à questão de você achar que a tradição não se converta em essência, eu concordo, mas, nesse caso, acredito que foi a essência que gerou a tradição. Quero dizer que a disposição biológica feminina predispõe-na a certos comportamentos. Ninguém pode negar que a relação da mãe com os filhos é diferente da do pai. O comportamento da mulher para certas atividades é fruto da sua essência, fruto de ela ter passado por uma gravidez, pela amamentação e pelos cuidados nos primeiros meses de vida da criança. Podemos comprovar que algumas atitudes são da essência feminina, quando observamos essas atitudes também nos animais. O cuidado com os filhotes, a alimentação, a arrumação do lugar, do ninho, etc.

Concordo que o trabalho doméstico também é uma atribuição do homem. O homem tem o dever de auxiliar a mulher nessas tarefas e isso tudo deve ser feito por amor, por aquele sentimento de cuidado com com o ser amado.

Acredito também que a mulher possa desenvolver essa característica de especialidade e tornar-se uma especialista, no sentido em que estamos usando o termo. Seria incoerente eu discordar disso, quando temos provas irrefutáveis disso. Mas o que eu quero dizer é que temos perdido muito com essa nova situação em que a mulher está cada vez mais se afastando das tarefas que ninguém mais é capaz de comprir com a mesma qualidade que ela. E o pior de tudo é que são tarefas primordiais para o futuro dos filhos e para o cotidiano da família.

A mulher, para mim, é grandiosa demais para ficar disputando esse nosso mesquinho mercado de trabalho, ela é um ser por demais sublime para estar nesse campo de batalha, pois sua guerra é mais nobre, suas armas são mais refinadas e seus objetivos são mais elevados. O homem luta por ele mesmo, ou seja, luta pelo próprio homem; a mulher luta pela humanidade, seu trabalho é o que equilibra a balança que de tempo em tempo pende para o caos da vida humana.

Por fim, ressalto que apesar de não concordar com a atual vida que as mulheres vem preferindo ter, lado a lado com os homens, não nego que fomos nós que começamos isso tudo. Digamos até que foi "culpa" nossa.

Abraço, amigo.