“Contenham esse avanço... Façam qualquer coisa, por menor que seja... Mantenham aberta ainda que seja uma só porta dentre cem, pois conquanto que tenhamos pelo menos uma porta aberta, não estaremos numa prisão.”
(G.K.C)

domingo, 18 de setembro de 2011

Chesterton vs Nietzsche

No blog do Professor Angueth, um leitor sugeriu que ele confrontasse as ideias de Chesterton e Nietzsche, como se fora um debate. O Professor prontamente acolheu a sugestão e postou em seu blog alguns trechos em que Chesterton combateu as ideias de Nietzsche.

Achei a ideia muito interessante e decidi contribuir. Como o Professor fez um apanhado, principalmente do livro "Hereges", decidi postar mais algumas palavras de Chesterton combatendo as ideias nietzscheanas.

Como disse o Professor Angueth, "Nietzsche morreu em 1900 e Chesterton começou a escrever profissionalmente um pouco depois disso. Assim, ele não poderia ter debatido diretamente com o filósofo alemão. Contudo, ele percebeu bem a natureza maligna de sua filosofia e a debateu com todos os seus defensores, principalmente Shaw e Wells, mas não só". Abaixo segue mais um pouco do que seria esse debate, tomando trechos do livro Ortodoxia:

"Nietzsche começou essa idéia absurda de que os homens buscaram como bem o que agora chamamos de mal. Se fosse assim, não poderíamos falar em ir além ou até mesmo em ficar aquém do bem e do mal. Como você pode ultrapassar o Silva se você estiver caminhando na direção contrária? Você não pode discutir se um povo obteve mais êxito em sentir-se infeliz do que outro em sentir-se feliz. Seria como discutir se Milton era mais puritano do que um porco é gordo".

"O ponto supremo não é saber por que alguém busca determinada coisa, mas o fato de buscá-la. Não disponho aqui de espaço para traçar ou explicar essa filosofia da Vontade. Surgiu, suponho, por intermédio de Nietzsche, que pregou algo chamado de egoísmo. Isso, de fato, era bastante simplório; pois Nietzsche negava o egoísmo pregando-o. Pregar alguma coisa é entregá-la. Primeiro, o egoísta chama a vida de guerra sem compaixão, depois despende o máximo esforço possível para treinar seus inimigos na guerra. Pregar o egoísmo é praticar o altruísmo. Mas como quer que tenha começado, a visão é bastante comum na literatura atual".

"Nietzsche tinha algum talento natural para o sarcasmo: ele sabia escarnecer, embora não soubesse rir; mas há sempre algo incorpóreo e sem peso na sua sátira, simplesmente porque ela não tem nenhum peso de moralidade comum em que se apoiar. O próprio Nietzsche é mais absurdo que qualquer coisa por ele denunciada. Mas, de fato, ele se sustenta muito bem como exemplo típico de todo esse fracasso da violência abstrata. O amolecimento do cérebro que no fim o atingiu não foi um acidente físico. Se Nietzsche não houvesse acabado na imbecilidade, o nietzscheanismo o teria feito. Pensar no isolamento e com orgulho acaba na idiotice. Todos os homens que não passam por um amolecimento do coração devem no mínimo passar pelo amolecimento do cérebro".

"Essa, incidentalmente, é toda a fraqueza de Nietzsche, que alguns estão representando como pensador ousado e forte. Ninguém negará que ele foi um pensador poético e sugestivo; mas foi exatamente o oposto de forte. Não foi de modo algum ousado. Ele nunca colocou suas idéias diante de si com palavras simples e abstratas, como fizeram os vigorosos e destemidos pensadores Aristóteles e Calvino e até mesmo Karl Marx. Nietzsche sempre se evadia de uma questão usando uma metáfora física, como um jovial poeta menor. Ele dizia "além do bem e do mal" porque não tinha a coragem de dizer "melhor que o bem e o mal", ou "pior que o bem e o mal". Se ele houvesse enfrentado o pensamento sem metáforas, teria visto que se tratava de um disparate. Assim, quando ele descreve o seu herói, não ousa dizer "o homem mais puro", ou "o homem mais feliz", ou "o homem mais triste"; pois todas essas expressões são idéias, e as idéias são alarmantes. Ele diz "o homem superior" ou "o super-homem", uma metáfora física, baseada em acrobatas ou alpinistas. Nietzsche é realmente um pensador muito tímido. Realmente não tem a mínima idéia do tipo de homem que ele quer que a evolução produza".


Trarei um pouco mais desse debate retirando trechos de outros livros ainda não traduzido para o português.

Abraços.

3 comentários:

Wendy A. Carvalho disse...

Meus parabéns, Agnon. Quero acompanhar esse debate. Espero que um dia você publique tal debate num livro. Seria bem interessante. As pessoas leriam o livro procurando ver Nietzsche derrotando um escritorzinho inglês que queria ser virtuoso mas era apenas um pedaço de queijo gordo. Ao lerem, verão um inglês corajoso e herói, destruindo um herege como quem destrói um terrorista.

Abraço.

juliana kramer disse...

Gostaria bastante de poder me dedicar a isso. Como seria edificante, não só para mim, mas para todos!
Um abraço, camarada.

Maxwell Soares disse...

Excelente blogger e excelente ideia