Desde muito tempo a diferença entre vontade e desejo desapareceu. A filosofia clássica tinha bem distinto esses conceitos e a distinção entre eles é bastante elucidativa.
Vontade é o apetite racional ou compatível com a razão. Desejo é o apetite sensível, não-racional e, muitas vezes, segundo Cícero, a concupiscência ou a cupidez desenfreada. A vontade, como apetite racional, está submetida aos preceitos da razão, à lógica. Assim é que Kant define a vontade como a faculdade de agir segundo a representação de regras.
Deve-se principalmente ao ceticismo o desapareceimento da diferença entre esses dois conceitos, pois tendo colocado várias barreiras à possibilidade do conhecimento[1] e à origem do conhecimento[2] , a caracterização da vontade como ato racional foi posta em dúvida.
No entanto, a psicologia moderna veio ratificar o pensamento clássico. Murphy, em sua Introdução à Psicologia, diz que "a vontade é o nome com o qual se designa um complexo processo interior que influencia nosso comportamento de tal modo que nos torna presas menos fácil da pura força bruta dos impulsos[3]".
Socrates disse que a causa do mal é a ignorância. Desta forma, a causa de um mal é uma ação não pensada ou pensada insuficientemente. Assim, Platão dá um exemplo muito ilustrativo da diferença entre querer racionalmente (vontade) e querer sem pensar ou pensando insuficientemente (desejo): "...tiranos não fazem o que querem (vontade, racional), embora façam o que lhes agrada ou bem lhes parece (desejo), visto que fazer o que se quer (vontade, racional), significa fazer o que se mostra bom ou útil, isto é, agir racionalmente".
"Penso, logo existo", disse Descartes, afirmando ser o "pensar" a certeza imediata da nossa existência. Não sei se Maine de Biran, quando disse "Quero, logo existo", preocupou-se na diferença entre vontade e desejo[4]. Caso sim, e o seu "Quero" signifique desejo, então, para ele, nosso apetite sensível é a certeza imediata da nossa existência; porém se esse "Quero", significa vontade, ele falha e deve descer um degrau e ficar com Descartes, já que "querer" como vontade é racional, então antes de querer pensa-se, logo, pensar vem antes, como afirmou Descartes.
Bem, quero almoçar! E esse "querer" é uma mistura de vontade e desejo. Estou com fome (desejo) e, porque vou praticar um exercício físico, quero me alimentar (vontade).
[1] Podemos apreender a ralidade?
[2] A realidade, se é apreendida, se dá por meio da razão, da experiência ou de ambos?
[3] Isto é, do Desejo.
[4] Na verdade, Biran estava tratando da realidade como resistência às nossas ações. O que é real opõe-se a mim; com o imaginário ,faço o que eu quiser.
Vontade é o apetite racional ou compatível com a razão. Desejo é o apetite sensível, não-racional e, muitas vezes, segundo Cícero, a concupiscência ou a cupidez desenfreada. A vontade, como apetite racional, está submetida aos preceitos da razão, à lógica. Assim é que Kant define a vontade como a faculdade de agir segundo a representação de regras.
Deve-se principalmente ao ceticismo o desapareceimento da diferença entre esses dois conceitos, pois tendo colocado várias barreiras à possibilidade do conhecimento[1] e à origem do conhecimento[2] , a caracterização da vontade como ato racional foi posta em dúvida.
No entanto, a psicologia moderna veio ratificar o pensamento clássico. Murphy, em sua Introdução à Psicologia, diz que "a vontade é o nome com o qual se designa um complexo processo interior que influencia nosso comportamento de tal modo que nos torna presas menos fácil da pura força bruta dos impulsos[3]".
Socrates disse que a causa do mal é a ignorância. Desta forma, a causa de um mal é uma ação não pensada ou pensada insuficientemente. Assim, Platão dá um exemplo muito ilustrativo da diferença entre querer racionalmente (vontade) e querer sem pensar ou pensando insuficientemente (desejo): "...tiranos não fazem o que querem (vontade, racional), embora façam o que lhes agrada ou bem lhes parece (desejo), visto que fazer o que se quer (vontade, racional), significa fazer o que se mostra bom ou útil, isto é, agir racionalmente".
"Penso, logo existo", disse Descartes, afirmando ser o "pensar" a certeza imediata da nossa existência. Não sei se Maine de Biran, quando disse "Quero, logo existo", preocupou-se na diferença entre vontade e desejo[4]. Caso sim, e o seu "Quero" signifique desejo, então, para ele, nosso apetite sensível é a certeza imediata da nossa existência; porém se esse "Quero", significa vontade, ele falha e deve descer um degrau e ficar com Descartes, já que "querer" como vontade é racional, então antes de querer pensa-se, logo, pensar vem antes, como afirmou Descartes.
Bem, quero almoçar! E esse "querer" é uma mistura de vontade e desejo. Estou com fome (desejo) e, porque vou praticar um exercício físico, quero me alimentar (vontade).
[1] Podemos apreender a ralidade?
[2] A realidade, se é apreendida, se dá por meio da razão, da experiência ou de ambos?
[3] Isto é, do Desejo.
[4] Na verdade, Biran estava tratando da realidade como resistência às nossas ações. O que é real opõe-se a mim; com o imaginário ,faço o que eu quiser.
Um comentário:
Gostei do texto! Realmente faz sentido esse pensamento. Como você diferenciaria "vontade" e "desejo" vindos de Deus? Como seria sua teologia?
"Vontade de Deus", "Desígnio de Deus" ou "Desejo de Deus"... Como você age diante disso?
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