Chesterton
O tédio é o mais perdoável dos vícios, mas é a mais imperdoável das virtudes. Nietzsche, que representa de modo mais proeminente essa afetada pretensão de tédio, descreveu em uma de suas obras, — aliás em magnífica descrição do ponto de vista literário — o sentimento de repugnância e enfado de que era possuído à simples presença de pessoas comuns, com suas inteligências comuns. Tal atitude, como já se disse, pode parecer quase bela se a considerarmos como uma atitude patética. A aristocracia de Nietzsche inspira-nos todo o santo respeito que se deve aos fracos. E quando ele nos faz crer que não pode suportar as inúmeras faces, as vozes incessantes e a constrangedora onipresença da plebe, ele há-de por certo despertar a simpatia dos que já se sentiram enojados num vapor ou espremidos num ônibus superlotado. Todo homem odeia a humanidade quando se sente diminuído em sua condição de homem. Todo homem em dados momentos já deve ter sentido a humanidade a seus olhos como nevoeiro que desnorteia, ou a humanidade em suas narinas como dor que sufoca. Todas as aversões ao comum da humanidade têm esse caráter geral. Não são, como se pretende, aversões às suas fraquezas, mas à sua força. Os misantropos fingem que desprezam a humanidade por suas fraquezas. O fato é que a odeiam por sua força. Quando Nietzsche, com incrível falta de humor e de imaginação, chega a querer que aceitemos sua aristocracia como uma aristocracia de músculos fortes e vontades férreas, somos então obrigados a fazer ressaltar a verdade: ela não é mais que uma aristocracia de nervos fracos.
Um comentário:
Cara, muito bom o texto!
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