“Contenham esse avanço... Façam qualquer coisa, por menor que seja... Mantenham aberta ainda que seja uma só porta dentre cem, pois conquanto que tenhamos pelo menos uma porta aberta, não estaremos numa prisão.”
(G.K.C)

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Aversão à humanidade?

Chesterton

O tédio é o mais perdoável dos vícios, mas é a mais imperdoável das virtudes. Nietzsche, que representa de modo mais proeminente essa afetada pretensão de tédio, descreveu em uma de suas obras, — aliás em magnífica descrição do ponto de vista literário — o sentimento de repugnância e enfado de que era possuído à simples presença de pessoas comuns, com suas inteligências comuns. Tal atitude, como já se disse, pode parecer quase bela se a considerarmos como uma atitude patética. A aristocracia de Nietzsche inspira-nos todo o santo respeito que se deve aos fracos. E quando ele nos faz crer que não pode suportar as inúmeras faces, as vozes incessantes e a constrangedora onipresença da plebe, ele há-de por certo despertar a simpatia dos que já se sentiram enojados num vapor ou espremidos num ônibus superlotado. Todo homem odeia a humanidade quando se sente diminuído em sua condição de homem. Todo homem em dados momentos já deve ter sentido a humanidade a seus olhos como nevoeiro que desnorteia, ou a humanidade em suas narinas como dor que sufoca. Todas as aversões ao comum da humanidade têm esse caráter geral. Não são, como se pretende, aversões às suas fraquezas, mas à sua força. Os misantropos fingem que desprezam a humanidade por suas fraquezas. O fato é que a odeiam por sua força. Quando Nietzsche, com incrível falta de humor e de imaginação, chega a querer que aceitemos sua aristocracia como uma aristocracia de músculos fortes e vontades férreas, somos então obrigados a fazer ressaltar a verdade: ela não é mais que uma aristocracia de nervos fracos.

Um comentário:

Jaqueline disse...

Cara, muito bom o texto!