Chesterton
[Uma das mais singulares fantasias do nosso tempo é a de que], quando as coisas vão mal, é preciso um homem prático. Estaríamos bem mais perto da verdade se disséssemos que quando as coisas vão muito mal precisamos de um homem não-prático. Pelo menos, com certeza, precisamos de um teórico. Homem prático quer dizer aquele habituado às simples práticas do dia-a-dia, à maneira como as coisa funcionam vulgarmente. Quando as coisas não andam, do que se precisa é de um pensador, isto é, de um homem que tenha uma doutrina pela qual as coisas devem correr. É disparate tocar lira quando Roma arde, mas há toda a razão para que se estude hidráulica mesmo durante o incêndio.
É, portando, necessário deitar fora o agnosticismo pessoal quotidiano e tentar "conhecer a causa das coisas" [1]. Se o seu avião está ligeiramente avariado, um homem habilidoso pode repará-lo, mas se está gravemente danificado, o mais natural é que seja necessário desencantar de uma universidade ou de um laboratório um velho professor distraído, de cabeleira encanecida e desarrumada, para analisar o problema. Quanto pior for o estrago, mais cabelos brancos e mais distração do teórico serão necessários para solucionar o problema. Em alguns casos extremos, ninguém, a não ser o homem (provavelmente louco) que inventou a nossa aeronave, poderá talvez dizer de que avaria se trata.
[1] No original rerum cognoscerem causa.
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