O problema não está naquilo que não sabemos, mas sim naquilo que pensamos que sabemos, é isso que obstrui nossa visão.
Quando chegou o momento solene e os bichos falaram, não percebeu nada, e por uma razão bem interessante. Assim que o Leão começou a cantar, ainda em meio à escuridão, tio André percebeu que o barulho era uma canção, e não gostou nada.
A canção fazia com que sentisse e pensasse coisas que não queria sentir nem pensar. Quando o sol nasceu e viu que o cantor era um leão (“um mero leão”, como disse para si mesmo), fez tudo para convencer-se de que não havia canto algum, mas apenas rugidos, como fazem os leões em nosso mundo. “Devo ter imaginado que o Leão cantava; é porque estou com os nervos descontrolados. Alguém já ouviu um leão cantar?” Quanto mais belo o canto, mais tio André imaginava ouvir rugidos. O negócio é este: quando a gente quer se fazer de tolo, quase sempre consegue. Tio André conseguiu. Passou a ouvir apenas rugidos na canção de Aslam. Mesmo que quisesse voltar atrás, já era tarde. Quando afinal o Leão falou e disse “Nárnia, desperte”, o tio não ouviu palavras; ouviu somente um rosnado. Quando os bichos responderam, ouviu latidos, uivos, zurros, miados. Quando caíram na risada... bem, você pode imaginar.
C. S. Lewis - O sobrinho do mago
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